31/01/2008

A cigarra e a formiga



Tendo a cigarra em cantigas
Folgado todo o verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Até voltar o aceso estio.

"Amiga, — diz a cigarra —
Prometo, à fé d'animal,
Pagar-vos antes de agosto
Os juros e o principal."

A formiga nunca empresta.
Nunca dá, por isso junta:
"No verão em que lidavas?"
A pedinte ela pergunta.

Responde a outra: "Eu cantava
Noite e dia, a toda hora.
— Oh! Bravo!, torna a formiga:
Cantavas? Pois dança agora!"


Bocage (Trad.)