O capitão raposo
Ia caminho ao lado
De seu amigo bode,
D'alta armação dotado.
Este não via um palmo
Diante do nariz;
Era formado aquele;
Nas burlas mais subtis.
Ungidos pela sede,
Lograram penetrar
Num poço, cujas águas
Sorveram a fartar.
Disse o raposo ao bode:
"O que fazer agora?
Beber não foi difícil;
É sim vir para fora.
As tuas mãos e pontas
Ergue, compadre, acima,
E o corpo sobre o muro
Solidamente arrima.
Subindo por teu lombo,
Trepando na armação,
Alcançarei a borda,
A fim de dar-te a mão."
BODE
"Por minhas barbas, digo:
Podes ficar ufano!
Jamais eu descobrira
Tão engenhoso plano."
Safando-se o raposo,
O bode lá deixou;
E sobre a paciência
Este sermão pregou:
RAPOSO
"Se Deus te dera tino
Em dose, à barba igual,
De certo não caíras
Em arriosca tal.
O caso é que estou fora!
E pois, compadre, adeus!
Livra-te desse apuro,
Dobrando esforços teus.
Veda negócio urgente
Que eu possa te valer."
Quem entra numa empresa
O fim deve prever.
Barão de Paranapiacaba (Trad.)