Um dia, indo eu pela estrada, ouvi dois rapazinhos falando muito alto:
–Não, dizia um com voz enérgica, não quem.
Parei e perguntei-lhe:
– Que é que tu não queres, meu rapaz?
– Não quero dizer à minha mãe que venho da escola, porque é mentira. Vai-me ralhar, bem sei; mas dantes me ralhe do que mentir.
– E fazes bem, volvi eu. Es um rapaz como se quer.
Apertei-lhe a mão, enquanto o outro pequeno, o que lhe insinuara a mentira, se ia embora todo envergonhado.
Daí a tempos, passando pela mesma aldeia e necessitando de falar ao professor, entrei na escola, onde reconheci logo os dois pequenos; o que não quis mentir, sorria-me, enquanto que o outro, vendo-me, baixou os olhos. Ao despedir-me, interroguei o mestre sobre os dois alunos:
– Oh! disse-me ele, falando do primeiro, é um magnífico estudante, um pouco teimoso mas honrado, sincero, sempre disposto a confessar as suas faltas e, o que é ainda melhor, a repará-las. O outro, ao contrário, é mentiroso, covarde, incorrigível.
– Pois já vejo que me não tinha enganado.
E contei-lhe o que se passara.