03/02/2009

O Pequeno Polegar


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Numa noite fria de inverno, um campo­nês estava sentado na sala de sua casa, con­versando com a mulher, enquanto descansa­vam do trabalho do dia.
— Como nossa casa é triste! — dizia ele. — Nas outras há sempre barulho e alegria, mas aqui, como não temos filhos, reina um silêncio tão grande!
— Pois é — respondeu a mulher. — Eu também daria tudo para termos um filho! Nem que tivéssemos um só, e nem que ele fosse tão pequenininho como este meu dedo polegar, mesmo assim eu ficaria imensamen­te feliz!
Dias depois de terem essa conversa, a mulher começou a sentir-se indisposta e, passados sete meses, teve um filho, um menino perfeito e bonito, mas que era muito peque­nino, do tamanho mesmo do dedo polegar da mãe. Felizes por verem seu desejo atendido, os camponeses nem se importaram com o ta­manho da criança, e deram-lhe o nome de Pequeno Polegar.
Os pais amavam muito o Pequeno Pole­gar e de tudo fizeram para ver se ele crescia: deram-lhe uma alimentação especial, cuida­ram dele com todo o carinho, mas nada con­seguiu fazer com que o menino aumentasse de tamanho. Assim o tempo passou, mas o Pequeno Polegar continuou sempre tão pe­queno como no dia em que havia nascido.
No entanto, o que o menino não tinha em tamanho, tinha em beleza e inteligência. Era muito vivo e sabia sair-se bem de todos os problemas.
Um dia, o pai estava se preparando para ir buscar lenha na floresta e disse baixinho, para si mesmo:
— Que bom seria se alguém fosse me buscar na floresta com a carroça! Assim eu não precisaria trazer a lenha nas costas!
O Pequeno Polegar, que estava por perto e tinha escutado tudo, disse prontamente:
— Eu vou, papai! Pode ficar descansa­do que na hora certa estarei lá com a carroça!
— Você, meu filho? — disse o pai, sor­rindo. — Mas você é muito pequeno para fa­zer isso! Como vai conseguir segurar as ré­deas e guiar o cavalo?
— Se a mamãe atrelar o cavalo na car­roça para mim — respondeu o menino —, eu me sentarei na orelha do cavalo e irei dizendo para ele como e aonde deve ir!
O camponês achou engraçada a idéia e respondeu:
— Está bem! Não custa nada tentar, não é?
Na hora combinada, a mãe atrelou o ca­valo à carroça e lá se foi o pequenino, senta­do confortavelmente numa das orelhas do animal, indicando-lhe o caminho com muita esperteza. O cavalo obedecia às ordens do Pequeno Polegar e seguia pela estrada como se um cocheiro invisível estivesse segurando as ré­deas. Ao chegarem numa curva do caminho, o menino gritou bem alto para o animal que virasse à esquerda. Nisso, iam passando dois forasteiros que, não vendo o cocheiro que guiava a carroça e ouvindo uma voz que dava ordens ao cavalo, ficaram assombrados.
— Credo! — disse um deles. — Que coisa mais esquisita! Uma carroça guiada por um homem invisível?!
— Esse negócio está muito estranho mes­mo! — respondeu o outro. — É melhor seguir­mos essa carroça para ver onde ela vai parar!
Com muita habilidade o Pequeno Polegar chegou até o lugar onde o pai já o esperava, no meio da floresta, sem perceber que estava sendo seguido.
— Cheguei, papai! — gritou, parando o cavalo. — Viu como eu consegui? Agora, por favor, me desça daqui!
O camponês, todo satisfeito, segurou o ca­valo com a mão esquerda e, com a direita, ti­rou o filho da orelha do animal. Muito con­tente com seu trabalho, o Pequeno Polegar foi se sentar num galhinho para observar o pai colocando a lenha rachada dentro da carroça.
Enquanto isso, os dois forasteiros, que a tudo observavam, ficaram boquiabertos ao ver o tamanho e a esperteza da criança. Quando passou o susto, um deles cochichou no ouvido do outro:
— Já pensou quanto dinheiro poderíamos ganhar com esse menino? Poderíamos com­prá-lo e exibi-lo no circo, cobrando entrada! ficaríamos ricos!
— Claro! — respondeu o outro, entusias­mado com a idéia. — Vamos conversar com o pai dele!
Fazendo-se gentis, os dois se aproxima­ram da carroça do camponês e lhe disseram:
— Bom dia, senhor. Estávamos obser­vando o trabalho desse anãozinho e gostaríamos de comprá-lo do senhor. Podemos pagar muito bem por ele.
— Como?! — respondeu o pai, indignado. — Vocês acham que eu ia vender meu filho? Ele faz parte do meu coração, meus senho­res, e eu não o venderia por todo o ouro do mundo!
O Pequeno Polegar, ao ouvir a discussão, mais do que depressa agarrou-se pelas roupas do pai e subiu até seu ombro. Sentou-se ao lado de seu ouvido e cochichou:
— Venda-me, papai! Pode ficar sossegado que eu darei um jeito de escapar e voltar para casa!
O camponês ficou confuso ao ouvir o que o menino dizia. Como os homens continuas­sem a insistir e o Pequeno Polegar a afirmar, com tanta certeza, que saberia voltar para casa, ele acabou aceitando o negócio. Depois que os forasteiros garantiram que cuidariam muito bem do menino, o pai acabou entre­gando-o aos dois homens, em troca de muitas moedas de ouro.
Em seguida, despediu-se do filho e voltou para casa cheio de tristeza.
Antes de partirem, um dos homens per­guntou ao Pequeno Polegar onde ele gostaria de viajar.
— Na aba de seu chapéu — disse o me­nino. — Assim eu posso ir passeando e obser­vando a paisagem.
O homem fez a vontade do pequenino e lá se foram eles, viajando por muitas horas, até o anoitecer. Quando viu que tudo ao redor estava ficando bem escuro, o Pequeno Polegar pediu ao homem que o levava na aba do chapéu que o pusesse no chão, pois precisava ir ao banheiro.
— Não se preocupe! — respondeu o homem, dando uma gargalhada. — Os passari­nhos vivem fazendo estas coisas no meu chapéu; por isso, pode ficar aí mesmo!
— Não! — respondeu o Pequeno Polegar, muito bravo. — Não foi assim que minha mãe me educou! Preciso descer agora!
Insistiu tanto e estava tão bravo que o homem acabou colocando seu chapéu no chão, à margem da estrada, para que ele descesse. Assim que se viu fora do alcance das mãos de seus donos, entretanto, o menino saiu cor­rendo, o mais rápido que podia, fugindo pelo meio dos montes de terra e das raízes das ár­vores. Quando perceberam que haviam sido enganados, os dois homens ficaram furiosos e começaram a perseguir o Pequeno Polegar pelo meio do mato. Mas o menino era muito esperto, e logo encontrou um buraco de rato, justamente o que estava procurando, e se escondeu lá dentro, gritando para os dois foras­teiros :
— Boa noite, meus amigos! Vocês podem muito bem seguir seu caminho sem mim!
Loucos de raiva, os dois pegaram um enorme pedaço de pau e começaram a cutu­car a toca do rato, na esperança de que, acuado, o Pequeno Polegar resolvesse sair. Mas foi trabalho perdido, pois o buraco onde ele estava era bem fundo e, por mais que os homens tentassem, não conseguiram tirá-lo de lá.
Como a noite havia caído e tudo estava escuro como breu, os dois homens percebe­ram que seria inútil continuar tentando; por isso, foram embora, furiosos e com a bolsa vazia. Depois de estar bem certo de que eles haviam partido, o Pequeno Polegar saiu de seu esconderijo.
— Nossa! Que escuridão! — disse ele ao sair. — Não seria bom ficar andando nesse escuro, pois eu poderia até quebrar uma perna!
Assim, pensando em voltar para casa quando o dia amanhecesse, o Pequeno Polegar saiu procurando um lugar seguro para passar a noite. Acabou encontrando uma cisca de caramujo vazia e lá se ajeitou confortavelmente para dormir.
Quando já estava quase pegando no sono, ouviu vozes bem perto de onde estava. Eram dois homens conversando e um deles dizia:
— Como vamos fazer para roubar o ouro e a prata da casa do padre?
Mais que depressa o menino gritou, de dentro do caramujo:
— Eu posso ensinar!
— Foi você quem disse isso? — pergun­tou, assustado, um dos ladrões.
— Não! — respondeu o outro, com os olhos arregalados de medo.
— Fui eu que falei! — gritou o Pequeno Polegar.
Cada vez mais assustados, os dois ladrões resolveram ficar em silêncio para descobrir se não estavam ouvindo coisas.
— Por que não me levam com vocês? — tornou a gritar o menino. — Eu posso aju­dá-los !

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