- «Procuro o meu gado que por aí perdi.»
- «Tão gentil senhora a guardar o gado!.
- «Senhor, já nascemos para esse fado.»
- «Por estas montanhas em tão grande p’rigo!»
Diga me, ó menina, se quer vir comigo.»
- «Um senhor tão guapo dar tão mau conselho
Querer que se perca o gado alheio!»
- «Não tenha esse medo que o gado se perca
Por aqui passarmos uma hora de sesta.»
- «Tal razão como essa eu não na ouvirei:
Já dirão meus amos que de mais tardei,»
- «Diga-lhe, menina, que se demorou
Co’esta nuvem de água que tudo molhou.»
- «Falarei verdade, que mentir não sei:
À volta do gado eu me descuidei.»
- «Pastorinha, escute, que oiço balar gado...»
- «Serão as ovelhas que me têm faltado.»
- «Eu lhas vou buscar já muito depressa,
Mas que me espedace por essa chaneca.»
- «Ai como vai grave de meias de seda!
Olhe não as rompa por essa resteva.»
- «Meias e sapatos, tudo romperei
Só por lhe dar gosto, minha alma, meu bem.»
- «Ei-lo aqui vem; é todo o meu gado.»
- «Meu destino foi ser vosso criado.»
- «Senhor, vá-se embora, não me dê mais pena,
- «Que há-de vir meu amo trazer-me a merenda.»
- «Se vier seu amo, venha muito embora;
Diremos, menina, que cheguei agora.»
- «Senhor, vá-se, vá-se, não me dê tormento:
Já não quero vê-lo nem por pensamento.»
- «Pois adeus, ingrata da Linda-a-Pastora!
Fica-te, eu me vou pela serra fora.»
- «Venha cá, Senhor, torne atrás correndo...
Que o amor é cego, já me está rendendo.»
Sentaram-se à sombra... tudo estava ardendo...
Quando elas não querem, então ‘stão querendo.
Romanceiro, Almeida Garrett