C’os seus soldados à guerra:
Duzentos eram quintados,
Eram duzentos de leva.
Se todos eles vão tristes,
Um mais que todos eram:
Baixa traz a sua espada,
Seus olhos postos em terra.
Lá no meio do caminho
O capitão lhe dissera:
- «Porque vais triste, soldado
Essa paixão por quem era?»
- «Não é por pai nem por mãe,
nem por irmã que eu tivera,
É pela esposa que deixo
Lá tão só na minha terra.
Este cordão de oiro fino,
Que sete arráteis bem pesa,
Mais me pesa a mim levá-lo,
Que ao partir lho não dera!»
- «Soldado, tens sete dias
Para que voltes a vê-la.
Se a encontrares chorando,
Ficas sete anos com ela:
Senão, nem mais uma hora
Terás de aguardo ou de espera.»
Quem saltava de contente
O meu soldadito era.
Deixou estrada direita,
Por atalhos se metera;
Inda não é meia-noite,
À sua porta batera.
- «Quem bate à minha porta,
Quem bate com tanta pressa?
- «É um soldado, senhora,
Que voz traz novas da guerra.»
- «Mal haja a nova que traz,
E mais quem veio trazê-la!
Ergue-te tu, minha vida,
Assoma-te a essa janela;
Despede-me esse soldado
Que a tão má hora aqui chega.»
- «Amigo, vindes errado
Co’as vossas novas da guerra:
Deixai-nos dormir em paz,
Que bem precisamos dela.»
Foi-se dali o soldado
Mais pronto do que viera:
- «Bem haja o meu capitão
Pelo bem que me fizera!
Com sete dias de aguardo...
Nem sete horas carecera
Para me quitar saudades,
Livrar-me de toda a pena!
Tomai lá meu capitão
Os mimos da minha terra;
Este cordão de oiro fino,
Que agora inda mais me pesa.
Minha mulher não precisa,
Que os primos podem mantê-la.»
- «Pois tua mulher tem primos,
E tu vinhas com dó dela!...»
Romanceiro, Almeida Garrett