De tanto viajar, uma andorinha havia aprendido muitas coisas. Sabia prever as tempestades, e anunciava-as aos marinheiros com antecedência suficiente para que pudessem escapar delas.
Certo dia, vendo um lavrador semear o cânhamo, colocando os grãos nos sulcos abertos na terra, a andorinha disse aos outros passarinhos:
- Estão vendo aquela mão que lança as sementes de cânhamo? Não está longe o dia em que será maldição para todos vocês aquilo que ela está plantando. Surgirão redes e laços para aprisioná-los. E ouçam-me bem. Ocorrerão coisas que lhes causarão a morte ou a prisão. Que Deus os livre da gaiola e da panela. Comam já os grãos ali plantados, e agradecerão o meu conselho.
Os passarinhos riram da andorinha, e não lhes custou esquecer rapidamente o que ela lhes dissera.
Quando a plantação já estava verde, a andorinha tornou a dizer-lhes:
- Arranquem um por um esses pés de cânhamo, e estarão evitando a própria desgraça.
- Ora - responderam os passarinhos - isso seria tarefa para milhares de nós, e além disso não acreditamos nesse seu mau augúrio.
- Prestem atenção no que lhes digo. Quando os lavradores virem que é chegada a hora, armarão redes e alçapões para protegerem sua plantação, e então não adiantará nada vocês ficarem voando de um lado para outro.
Os passarinhos já estavam, porém, cansados de ouvi-la, e afastaram-se. Pouco depois, sofriam perseguição, prisão e morte.
Moral da Estória:
Só nos importamos com o mal quando ele se abate sobre nós.