Quando a terra era muito jovem a noite e os animais não existiam. Havia somente árvores, plantas e pessoas. Nessa época, o sol brilhava muito forte. As pessoas estavam sempre cansadas porque não podiam dormir bem. As árvores eram murchas devido ao forte calor Somente a Cobra Grande que era uma bruxa podia fazer a noite aparecer. Ela era uma cobra muito grande que vivia perto do rio.
Guardava a noite no fundo do rio, dentro de um coco. A cobra gostava de ver as pessoas cansadas e sonolentas. Os índios imploravam para que ela libertasse a noite, mas era inútil. Um dia, a filha da cobra se casou. Como sua mãe, a bela índia não precisava da noite para descansar. Mas seu marido e as outras pessoas da aldeia viviam cansadas. Ela não gostava de ver este sofrimento. Então disse para seu marido que ela iria pedir a noite para sua mãe. A mãe nunca recusava seus pedidos. O marido da filha da cobra tinha três fiéis empregados. Ele os enviou para que fossem pegar a noite com a cobra. Imediatamente os três índios pegaram uma canoa e foram encontrar a Cobra Grande. Embora os três homens estivessem muito estafados, eles remavam velozmente. Quando as árvores viram a cena, perguntaram onde os índios estavam indo com tanta pressa. Quando as árvores souberam que iriam buscar a noite, começaram a dançar e a gritar de alegria. Os três empregados chegaram ao lugar onde a cobra vivia. Contaram a ela porque estavam ali. Ela não gostou da ideia de entregar a noite, mas a cobra nunca negava um pedido da filha. Outra versão: No começo do mundo só havia o dia. A noite estava adormecida nas profundezas do rio com Boiúna, cobra grande que era senhora do rio. A filha de Boiúna, uma bela, tinha se casado com um rapaz de um vilarejo nas margens do rio. Seu marido, um jovem muito bonito, não entendia porque ela não queria dormir com ele. A filha de Boiúna respondia sempre: - É porque ainda não é noite. - Mas não existe noite. Somente dia! - Ele respondia. Até que um dia a moça disse-lhe para buscar a noite na casa de sua mãe Boiúna. Então, o jovem esposo mandou seus três fiéis amigos ir pegar a noite nas profundezas do rio. Boiúna entregou-lhes a noite dentro de um caroço de tucumã, como se fosse um presente para sua filha. Os três amigos estavam carregando a tucumã quando começaram a ouvir barulho de sapinhos e grilos que cantam à noite. Curiosos, resolveram abrir a tucumã para ver que barulho era aquele. Ao abri-la, a noite soltou-se e tomou conta de tudo. De repente, escureceu. A moça, em sua casa, percebeu o que os três amigos fizeram. Então, decidiu separar a noite do dia, para que esses não se misturassem. Pegou dois fios. Enrolou o primeiro, pintou-o de branco e disse: - Tu serás cujubin, e cantarás sempre que a manhã vier raiando. Dizendo isso, soltou o fio, que se transformou em pássaro e saiu voando. Depois, pegou o outro foi, enrolou-o, jogou as cinzas da fogueira nele e disse: - Tu serás coruja, e cantarás sempre que a noite chegar. Dizendo isso, soltou-o, e o pássaro saiu voando. Então, todos os pássaros cantaram a seu tempo e o dia passou a ter dois períodos: manhã e noite.
Lenda do Brasil