29/11/2009

O Pestim



Dantes os ciganos viviam todos no Egipto. É lá a nossa terra, é de lá que viemos há séculos de anos. Todos os ciganos são filhos dum homem do Egipto e de uma indiana. Desse casamento nasceu a raça cigana.
Um dia, lá no Egipto, andava um molhe de ciganos nas caravanas, de terra em terra. Os tempos eram muito mais antigos, mas a vida dos ciganos era a mesma, andar de um lado pró outro a penar. Nesse dia que eu estava a falar apareceu no acampamento um senhor, uma senhora, um bebezinho e um burro.
Pediram se podiam ir na caravana, os ciganos reuniram-se e depois foram no acordo.
Andaram, andaram de terra em terra.
Às vezes, os ciganitos, a brincar, guerreavam com o menino e partiam-lhe a cabeça. O menino começava a chorar, aparecia a senhora e dizia:
- Deixa, não faz mal que já passou.
Passava-lhe a mão na cabeça e sarava logo. Mas os ciganos nem reparavam nisso, não viam que a ferida estava a escorrer sangue e que parava logo. Acho que nas antiguidades não se notava isso, pelo menos é o que se diz.
Outras vezes, era o senhor que ia deitar palha ao burrinho e, quando virava costas, os ciganos tiravam a palha e iam pô-la aos burros deles. Mas, no outro lugar, tornava a aparecer palha, e cada vez mais. Os ciganos ficavam muito admirados.
Foi quando souberam que aquelas pessoas eram S. José, Nossa Senhora o Menino Jesus e o burrinho que sempre os acompanhou nas andanças.
Era a altura em que eles andavam fugidos do rei pra não morrerem e acharam que o sítio mais seguro era andarem no meio dos ciganos. Ninguém ia lá procurá-los. E é verdade, quando um cigano quer esconder alguém, não há polícia que descubra.
Foi assim que eles se safaram, graças aos ciganos. A nossa senhora gostava muito deles. Até há ciganos que dizem que a Nossa Senhora é cigana, mas isso já não sei. Ela ensinou-lhes muita coisa, e o pestim, bolo que só nos os ciganos fazemos e só pelo Natal, foi receita dada pela Virgem.