Foram caçar no melhor convívio uma raposa e um lobo. Apanharam dois carneiros. Comeram um e enterraram o outro para o jantar do dia seguinte.
No dia seguinte chegou o lobo e disse para a comadre raposa:
— Vamos comer o carneiro?
— Hoje não: estou convidada para madrinha de uma criança.
No dia seguinte voltou o lobo e perguntou à comadre que nome dera ao afilhado:
— Um nome novo: Comecei.
E ainda a raposa se desculpou nesse dia dizendo que ia ser madrinha de outro afilhado.
Voltou o lobo e perguntou à comadre que nome pusera ao afilhado.
— Meei — respondeu a espertalhona — e pena tenho eu de ainda não o poder acompanhar. Tenho hoje outro afilhado que baptizar, mas amanhã vou com certeza.
No dia seguinte voltou o lobo e perguntou-lhe pelo nome do afilhado.
— Pus-lhe: Acabei.
E ambos se dirigiram para o lugar onde o carneiro fora enterrado. E claro que a raposa tinha sozinha papado o carneiro, deixando-lhe o rabo espetado no chão. Logo que avistaram o rabo disse a raposa para o lobo:
— Enquanto eu aqui tiro um espinho do meu pezinho, vá o meu compadre andando, puxe com força pelo rabo, e vá comendo e saboreando a carne.
O lobo seguiu o conselho da raposa. Lançou-se ao rabo com tanta força que caiu de costas c m o rabo na boca. Carne nenhuma. Já a este tempo a raposa se tinha esgueirado para muito longe.
Ataíde Oliveira, Contos Tradicionais Portugueses