Nos primeiros tempos da Reconquista, vivia num palácio perto de Vouzela o nobre guerreiro El Haturra, descendente do famoso chefe mouro Cid Alafum. El Haturra era velho e feio e nunca era visto sem a sua bengala: uma velha cana negra entregue, de geração em geração, ao seu novo possuidor através de um ritual verbal misterioso.
El Haturra tinha um amigo português chamado Álvaro, que o aconselhou a desfazer-se da bengala para pôr fim à troça de que era alvo. Este explicou-lhe que a vara era mágica e ficaria verde no dia do profético encontro de dois primos descendentes de Cid Alafum. Esse encontro faria com que as terras e os tesouros do antigo chefe mouro voltassem à posse da família e que formosas mouras fossem desencantadas. Tinha, contudo, como condição essencial que ambos os descendentes professassem a religião de Maomé.
Um dia, enquanto passeavam pelo campo, os dois amigos viram uma linda princesa acompanhada por uma formosa aia. De repente, a vara começou a ficar verde e El Haturra começou a rejuvenescer. Agora jovem e belo, reconheceu na aia a descendente de Cid Alafum e, juntamente com Álvaro, saiu atrás das duas jovens que se dirigiam à corte do rei de Portugal. Diz a lenda que El Haturra conseguiu convencer a jovem aia a casar-se com ele e o rei de Portugal abençoou a união com uma condição: o baptismo de El Haturra. De início, opôs-se veementemente, mas a sua paixão foi mais forte e aceitou o desejo real, esquecendo-se da condição imposta pela profecia. No momento em que estava a ser baptizado, El Haturra voltou a ser velho e feio como dantes. Com o choque, a noiva desmaiou e nunca mais quis ouvir falar no seu noivo que desapareceu para sempre.
A cana verde foi guardada num sítio secreto. Segundo a tradição, se alguém gritar "Viva o fidalgo da caninha verde!" no mesmo local e à mesma hora em que se deu o encontro entre os dois descendentes de Cid Alafum, ouvirá gargalhadas alegres das mouras encantadas que julgam ter chegado a hora da sua libertação.