20/03/2010

Cadmo




O fundador da antiga cidade de Tebas foi Cadmo, que era filho de Agenor, rei de Tiro, situada na Fenícia. A irmã de Cadmo, Europa, havia desaparecido sem deixar vestígio. Dizia-se que um touro branco a raptara quando ela brincava com as amigas na beira do rio. Agenor não acreditou e mandou o filho procurá-la, ameaçando-o de exílio se não a encontrasse.
Cadmo saiu então estrada afora com seus fiéis companheiros. Correu mundo, interrogando os habitantes dos diferentes lugares. Em vão: ninguém pôde ajudá-lo.
Perdendo a esperança de ter êxito, temeu a cólera paterna. Por isso, resolveu não voltar para casa, mesmo se tivesse que viver para sempre no exílio. Mas aonde ir agora, onde encontrar refúgio?
Foi fazer a pergunta ao deus de Delfos:
"Ao sair do santuário", disse-lhe Apolo, "você verá uma vaca. Siga o caminho pelo qual ela o guiar. Na campina em que a vaca se detiver, funde uma cidade e lhe dê o nome de Tebas."
Cadmo agradeceu ao deus e seguiu suas instruções... e seguiu a vaca. Atravessou um rio, prados de relva tenra, até que, certa manhã, a vaca parou para descansar. Era ali que se localizaria a nova cidade.
A princípio, Cadmo quis oferecer o animal em sacrifício aos deuses.
Como precisasse de água pura para as libações, mandou os companheiros irem buscá-la numa nascente na floresta vizinha. Enquanto isso, juntou algumas pedras grandes e construiu um altar, onde dispôs a lenha necessária para o fogo sacrificial. Devia respeitar os ritos se quisesse que a cidade nascesse sob bons auspícios.
O sol já ia alto no céu, e nenhum dos seus companheiros voltara. Inquieto, Cadmo se perguntava o que os teria retardado. Decidiu sair à procura deles.
Tendo sua lança como única arma e uma pele de leão como couraça, entrou na floresta. Não demorou a encontrar a nascente. Mas um horrível espetáculo o esperava. Uma serpente gigantesca acabava de devorar seus queridos companheiros. Cadmo não hesitou. Lança em riste, atacou o monstro. Sua tristeza superava o terror que sentia, e ele só tinha uma idéia em mente: vingar os mortos ou compartilhar a sorte deles. O ferro penetrou na pele escamosa, e jatos de um sangue escuro jorraram. Mas a cobra só fora atingida de leve. Como ela não parava de se contorcer, a ponta da lança saiu da ferida.
E o monstro, enfurecido, saltou sobre o herói, que escapou por um triz.
Atacando a serpente mais uma vez, espetou-a e a obrigou a recuar. De súbito, ela se chocou com um galho de carvalho, que transpassou sua garganta, e, ferida mortalmente, foi ao chão.
Quando o vencedor contemplava seu adversário e chorava a perda dos amigos, a deusa Atena lhe apareceu:
"Recolha os dentes do dragão", ordenou. "Semeie-os e verá nascer um exército de soldados. Entre eles encontrará novos companheiros."
Cadmo efetuou a estranha semeadura.
Assim que enterrou os dentes, os torrões se ergueram. Apareceu um capacete aqui, a ponta de uma lança ali, ombros, braços, e por fim toda uma seara de guerreiros cresceu entre os sulcos recém-abertos. Cadmo desembainhou precipitadamente a espada; de repente, diante dos seus olhos, os soldados começaram a lutar entre si e acabaram se matando uns aos outros. Cinco deles, porém, escaparam sãos e salvos do combate e declararam paz. Foi com a ajuda deles que Cadmo fundou Tebas.
Após alguns anos, Tebas já era uma cidade florescente, e a família real prosperou com ela. Cadmo se casou com Harmonia, que lhe deu quatro filhas. Uma delas, Sêmele, concebeu Dioniso. Outra, Agave, deu à luz Penteu, o infeliz rei de Tebas que se recusou a receber Dioniso e o cortejo de bacantes. Vocês se lembram do fim sinistro desse rei, que morreu dilacerado pela própria mãe no Citéron. A vingança do deus foi cruel.
As gerações seguintes tomaram o cuidado de não despertar a cólera divina. Mas um destino trágico voltava a ameaçar a cidade.

Contos e Lendas da Mitologia Grega