30/04/2010

Boa Sentença

Um homem rico, mas avarento, tinha perdido dentro de um alforge uma quantia em oiro bastante avultada. Anunciou que daria cem mil-réis de alvíssaras a quem lha trouxesse. Apresentou-se-lhe em casa um honrado camponês levando o alforge. O nosso homem contou o dinheiro, e disse:
- Deviam ser oitocentos mil-réis, que foi a quantia que eu perdi; no alforge encontro apenas setecentos; vejo, meu amigo, que recebeste adiantado os cem mil-réis de alvíssaras; estamos pagos por conseguinte.

O bom camponês, que nem por sombras tocara no dinheiro, não podia nem devia contentar-se com semelhantes agradecimentos. Foram ter com o juiz, que vendo a mé-fé do avarento, deu a seguinte sentença:
- Um de vós perdeu oitocentos mil-réis; o outro encontrou um alforge apenas com setecentos. Resulta daí claramente que o dinheiro que o último encontrou não pode ser o mesmo a que o primeiro se julga com direito. Por consequência tu, meu bom homem, leva o dinheiro que encontraste, e guarda-o até que apareça o indivíduo que perdeu somente setecentos mil-réis. E tu, o único conselho que passo dar-te, é que tenhas paciência até que apareça algum que tenha achado os oitocentos mil-réis.


Conto Tradicional Português