Na era de 1500 viviam em Barcelos um sapateiro, João Pires, e um fidalgo, D. Pedro Martins. João Pires tinha uma filha, chamada Luisinha. D. Pedro tinha fama de galanteador e perseguia constantemente a filha de João Pires. Um dia, em defesa da sua filha, o sapateiro deu duas valentes bofetadas ao fidalgo. As bofetadas foram tão fortes que deixaram marcas profundas na sua cara. A partir de então, D. Pedro foi alvo da chacota do povo, o que atiçou o seu ódio pelo sapateiro e pela Luisinha.
Um dia, uma grande tempestade fez com que um barco vindo da Flandres naufragasse na costa de Esposende. As mulheres da localidade acorreram à praia para recolher os despojos. Entre elas estava a Luisinha que encontrou um pedaço de madeira meio enterrado na areia. A madeira tinha um calor estranho e exalava um perfume exótico. Levou-o para casa e lançou-o à lareira. De repente, a casa ficou toda iluminada e apareceu desenhada no solo uma cruz luminosa. Por mais que escavassem a terra no local onde a cruz luminosa se projectava, a cova voltava a encher-se de terra. A notícia do milagre espalhou-se e a casa do sapateiro foi transformada em local de peregrinação. Aproveitando-se da situação para se vingar, D. Pedro Martins decidiu acusar os dois de bruxaria, com o intuito de os atirar à fogueira. No momento em que se preparava para acusá-los, invocando o nome de Deus, a cruz luminosa surgiu de novo. Testemunhando o milagre, o fidalgo caiu de joelhos e arrependido pediu perdão a Deus. Conta a lenda que a partir desse momento as marcas das bofetadas do sapateiro desapareceram por completo do seu rosto.
Este milagre deu origem à construção de uma ermida, anterior à actual igreja, e também à famosa romaria da Feira das Cruzes de Barcelos.