28/07/2010

O bom gigante




Era uma vez um gigante que não gostava de ser gigante.
- Chamo muito a atenção - queixava-se ele. - Para onde quer que vá, todos, de longe, apontam o dedo para mim ?Lá vai o gigante!" E assustam-se. E abusam do meu nome e pessoa, metendo medo aos meninos: ?Se não comes a sopa, chamo o gigante". E espalham disparates a meu respeito, dizendo que eu como gente, sou mau e outras calúnias que tais. Não aturo isto.
Pôs-se a andar de joelhos, a ver se não davam tanto por ele. Qual quê! Um gigante de joelhos, quer se queira quer não, é sempre um gigante, ainda que de joelhos.
Deixou de aparecer. Fechou-se no seu palácio de gigante e nunca mais pôs um pé fora de casa. Mas um gigante escondido, que de um momento para o outro pode aparecer, aterroriza ainda mais a vizinhança do que se andasse sempre na rua.
- Vou mudar de terra - decidiu o desgostado gigante.
Andou por vários reinos, sempre precedido pela sua fama.
- Vem aí o gigante - gritavam.
E todos fugiam.
Até que foi ter a uma terra de gigantes. De gigantões. Todos muito maiores do que ele.
- Aqui é que me convém ficar a viver - disse o gigante. - Ninguém vai reparar em mim.
Por acaso reparavam. Chamavam-no, nessa terra, de gigantões matulões, chamavam ao gigante desta história de ?pitorro", ?badameco", ?homenzinho", ?pigmeu"... Mas ele, que tinha muito bom feitio, não se importava.

António Torrado