12/08/2010

Lenda dos Corvos de S. Vicente



No tempo da ocupação da Península Ibérica pelos mouros, estes ordenaram que todas as igrejas fossem convertidas em mesquitas muçulmanas. Os cristãos de Valência quiseram pôr a salvo o corpo do mártir S. Vicente, que estava guardado numa igreja. As Astúrias eram a única região cristã da península. Para levar o corpo para as Astúrias, fizeram-se ao mar. Como as águas estavam turbulentas, foram forçados a aproximar-se da costa. Perguntaram então ao mestre da embarcação que terra tão bonita era aquela. O mestre respondeu-lhes que era o Algarve. Pouco depois o barco encalhou e forçou-os a passar a noite naquele lugar. Na manhã seguinte, quando se preparavam para retomar viagem, avistaram um navio pirata. O mestre da embarcação propôs-lhes afastar-se com o navio para evitar a abordagem dos corsários, enquanto os cristãos se escondiam na praia com a sua relíquia. Depois viria buscá-los. O barco nunca mais voltou e os cristãos ficaram naquele lugar. Construíram um templo em memória de S. Vicente e formaram uma pequena aldeia à sua volta. Entretanto D. Afonso Henriques entrou em guerra com os mouros do Algarve. Como vingança, os mouros, arrasaram a aldeia dos cristãos de S. Vicente e levaram-nos cativos. Passados muitos anos, D. Afonso Henriques foi avisado de que existiam cativos cristãos entre os prisioneiros feitos numa batalha contra os Mouros. Chamados à presença do rei, um deles, já muito velho, contou-lhe a sua história e confidenciou-lhe que tinham enterrado o corpo de S. Vicente num local secreto. Pedia ao rei que resgatasse o corpo do mártir para um local seguro. D. Afonso Henriques resolveu viajar com o cristão a caminho de S. Vicente, mas este morreu durante a viagem. Sem saber o local exacto onde estava o santo, D. Afonso Henriques aproximou-se das ruínas do antigo templo. Avistou um bando de corvos que sobrevoavam um certo lugar. Os seus homens escavaram e encontraram o sepulcro de S. Vicente, escondido na rocha. Trouxeram o corpo de S. Vicente de barco para Lisboa e durante toda a viagem foram acompanhados por dois corvos, cuja imagem ainda hoje figura nas armas de Lisboa em testemunho desta história extraordinária.