01/08/2010

A toalha do monge


Era uma vez uma velha que morava com o filho e a nora. A sogra tinha inveja da beleza da moça e judiava dela, ordenando-lhe que fizesse todo o trabalho pesado da casa. A moça, meiga e bondosa, nunca se queixava, o que deixava a velha ainda mais enfurecida.
Um dia, mandou que a moça preparasse uns bolos de arroz e, quando prontos, os contou. Foi então à vila fazer compras. Um monge andarilho parou junto à casa e a moça, generosa, lhe deu um bolo de arroz. Depois que o monge partiu, a sogra chegou, contou os bolos e notou, na hora, que estava faltando um.
- O que você fez com o bolo que está faltando?- esbravejou.- Criatura voraz e inútil!
- Dei ao monge - a moça explicou, tentando acalmar a velha.
- Bem, vá buscá-lo! - a sogra gritou.
A jovem esposa, então, correu atrás do monge, apresentou mil desculpas, e pediu o bolo de volta.
O monge riu e devolveu o presente. Por sua vez, deu à moça uma pequena toalha.
- Leve-a para enxugar o rosto - disse. - Sei que sua vida, com sua sogra, não é fácil.
A partir de então, a velha mãe começou a notar que sua nora ficava cada dia mais e mais linda. Isso aumentou-lhe a inveja e uma manhã, quando espiava sua nora, viu a moça enxugar o rosto com a toalha e observou que, cada vez que o fazia, ficava mais bela e radiante.
- Ela usa uma toalha mágica! - a velha murmurou consigo.
No dia seguinte mandou a moça fazer compras e roubou-lhe a toalha. Lavou o rosto e olhou-se no espelho. Não notou, porém, mudança alguma.
- Sou mais velha - pensou -, portanto, preciso enxugar com mais força!
Enxugou o rosto várias vezes e mirou-se no espelho. Para seu horror seu rosto tornou-se longo e eqüino, depois peludo e redondo, como a cara de um macaco. Finalmente, ficou com a cara de um gnomo feio e grotesco!
- Nossa! - exclamou a velha e caiu ao chão desmaiada.
Nesse momento, voltou a nora. Viu o demônio dentro da casa e preparou-se para fugir. A velha gritou:
- Socorro!
A nora reconheceu a voz da sogra e ficou com pena dela.
- Você precisa dar um jeito! - a velha implorou.
Então a nora saiu correndo, em busca do monge.
Encontrou-o não muito distante dali e contou-lhe o que se sucedera. Ele riu.
- Quando uma pessoa malvada usa a toalha - o monge disse -, acaba parecendo um demônio!
- E não há cura? - a moça perguntou.
- Há - o monge riu novamente. - Diga à sua sogra que use o outro lado da toalha!
A jovem esposa correu para casa e disse à velha qual a solução. A sogra, no mesmo instante, virou a toalha e enxugou o rosto. Na primeira vez, seu rosto transfigurou-se de gnomo em macaco; na segunda vez, em um focinho de cavalo e, na terceira, transformou-se em seu próprio rosto enrugado, mas humano.
A velha abraçou a nora e chorou.
- Querida filha - a mãe falou, implorando perdão -, eu não via como eu era má com você!
E desse dia em diante, nunca mais pronunciou uma palavra áspera para ninguém. Tornou-se boa e generosa e trabalhou lado a lado com a nora. Tinha a esperança de que o velho monge da toalha mágica voltasse um dia, para que pudesse agradecer-lhe.
Ele, porém, nunca mais voltou - nem foi preciso.

Conto japonês