Era uma vez, nas margens do rio Nilo, no Egipto, uma casinha. Dentro dessa casinha estava um berço. E, nesse berço, um bebé, que ainda não falava e tinha uns olhos enormes e sorridentes. A mãe chamava-lhe Yocheved e amava-o muito. Alimentava-o, cuidava dele e levava-o a dar longos passeios quando fazia sol.
Naquele tempo, um rei malvado governava o Egipto. Era um Faraó. Tratava os Judeus com crueldade e fazia deles escravos. Um dia decretou:
— Cada primogénito judeu que nascer deve ser deitado ao rio.
O Faraó deu esta ordem porque era muito maldoso.
Quando Yocheved teve conhecimento deste decreto, olhou para o filho e disse para consigo: “Nunca o atirarei ao rio. Escondê-lo-ei onde não possam encontrá-lo.” E foi exactamente isso que fez, em segredo.
Depois de o ter feito, os soldados egípcios bateram à sua porta.
— Existem alguns bebés rapazes nesta casa? — perguntaram.
— Claro que não — respondeu Yocheved, toda a tremer.
Mesmo assim, os soldados revistaram a casa toda. Mas, como não encontraram nada, foram-se embora.
Os dias passaram e Yocheved manteve o filho escondido. Mas o menino não gostava de estar naquele canto escuro. Chorava continuamente, e ansiava pelo sol e pela luz. Então, Yocheved percebeu que não podia continuar a esconder o filho daquela maneira. Pegou num pequeno cesto, acolchoou-o para o tornar confortável, e pintou-o com alcatrão por fora. Pôs o bebé no cestinho e levou-o até junto do rio Nilo.
Esgueirou-se por entre os canaviais e colocou o bercinho na água, dizendo:
— Vai, meu barquinho,
Leva o meu filhinho,
Deixa esta arca vogar.
Que as tuas águas
Possam sobre ele
Olhar.
Beijou o bebé e deixou-o sozinho. Tinha os olhos rasos de lágrimas.
De repente, apareceu uma rã junto dela e começou a coaxar:
— O que se passa?
— Oh, rãzinha, estou muito preocupada. Não consigo esconder mais o meu filho do Faraó; por isso, tive de o pôr num bercinho e abandoná-lo à sua sorte. Flutuará rio abaixo e a sua vida será poupada… Mas tenho o coração pesado. Como posso voltar para casa sem o meu filho?
— Não te preocupes. Nós tomaremos conta do teu filho. Venham daí, meninas…
Subitamente, centenas de rãs surgiram aos saltos de todos os lados. Ficaram a olhar para o bebé, muito surpreendidas. Nunca tinham visto nada igual. Durante toda a noite, vigiaram o bercinho e embalaram a criança. Contudo, ao romper do dia, a criança começou a chorar. Tinha fome. As rãs deram-lhe lama para comer, mas a criança não comia lama. Deram-lhe pequenas moscas, mas ela recusou. Cada vez chorava mais.
De repente, ouviu-se um barulho de tambores e címbalos à distância. A filha do Faraó e as suas aias passeavam ao longo da margem do rio. Quando a princesa viu o cestinho a flutuar, rodeado de rãzinhas, perguntou-lhes:
— Porque fazeis tanto barulho?
As rãs contaram-lhe tudo. A filha do Faraó olhou para dentro do cesto e viu o bebé a chorar de fome. Pegou nele, levou-o para o palácio e chamou-lhe Moisés. “Moisés” significa “aquele que é salvo”, e ela tinha-o salvo das águas.
Moisés cresceu e tornou-se um belo rapaz. Vivia no palácio e a filha do Faraó era como uma mãe para ele.
Um dia, Moisés foi até aos campos. Viu como os Israelitas trabalhavam duramente e os Egípcios os castigavam. Ficou muito triste. Deixou o palácio e foi até junto do rio. Quando chegou junto da margem, ouviu uma voz a perguntar:
— Porque estás tão triste, Moisés?
Moisés falou às rãs dos fardos que os Israelitas tinham de suportar. Os bichinhos ouviram-no e coaxaram:
— Não te preocupes, havemos de te ajudar.
Nessa mesma noite, as rãs foram até terra firme aos milhares. Entraram no palácio real e foram até ao quarto do Faraó. Saltaram para a cama deste e meteram-se debaixo da cama. Puseram-se em cima da mesa e debaixo da mesa. O Faraó queria deitar-se, porque estava cansado. De repente, deu-se conta de que as rãs tinham invadido o seu leito. Deu um salto e começou a vestir-se à pressa. As suas mangas estavam cheias de rãs! Tentou beber um copo de água, mas dentro do próprio copo estava uma rã bem verde e gordinha. Estavam por todo lado, em todos os cantos e esquinas do palácio. O Faraó pôs-se a gritar:
— Quem se atreveu a trazer estas pestes para dentro do palácio?
Moisés entrou no quarto e respondeu:
— Se deixares o meu povo partir, livrar-te-ei destas rãs…
— Deixo-os ir, vão, vão! — gritou o rei.
Então Moisés ergueu o bordão e ordenou:
— Rãs, regressai ao rio!
As rãs saltaram de novo para a água.
Mas o Faraó não cumpriu a sua promessa e não deixou os Israelitas partir. Então, Moisés mandou mais pragas sobre o Egipto. Só depois da décima praga, puderam os Israelitas partir.
Conto de Israel
Levin Kipnis
Let us play in Israel
Tel-Aviv, N. Tversky Publishing House, 1966
tradução e adaptação
Levin Kipnis
Let us play in Israel
Tel-Aviv, N. Tversky Publishing House, 1966
tradução e adaptação