15/12/2010

O peixe e o gato



Era uma vez um peixe.
Era uma vez um gato,
um gato gaiato com sonhos e cócegas de gato macaco.
- Vem daí, ó peixe, brincar-me no prato.
Ó peixe de prata, de prata barata,
vem jogar comigo ao gato e ao rato.

O peixe dançava nos olhos do gato.
Por dentro do vidro, voava em recato...
?Há perigo? Que perigo?
Estou vivo e bem vivo
e bem protegido"
Bolinhas subiam em ondas de ornato...

E o gato, um safado, malhado do mato,
Dizia, baixinho, de encontro ao buraco.
- Troquemos, peixinho, e já, sem demora,
eu vou para a redoma,
tu vens cá para fora.
É que ando cansado do ar que respiro,
suspiro por água. Nadando, sou foca,
sou pato a vapor, sou gato a motor...
Salta daí! Vamos! Troca!

O peixe descia... fugia... fugia...
Não ia em batota nem troca-baldroca.


- Ah, sim?! - lhe dizia o gato do mato
- Tens boca e não falas?
Mas, diz, finalmente não vais no contrato?


O peixe de prata, de prata lavrada
nadava, nadava...

Então, mais sensato, o gato-pingado
gritou para o buraco:
- Quebrou-se o contrato. Não brinco contigo.
Fica do teu lado, que eu fico onde fico
e desde já te digo,
meu carapau calado,
que hás-de afogado
morrer, para castigo.

Lá foi o gato amuado
pregar para outro postigo,
enquanto o peixe de prata
nadava de largo em largo
no lago feito baía.
E cada escama lhe ria...