Fugindo da águia que tentava capturá-la, a lebre escondeu-se na casa do besouro, e este, percebendo que a rapineira ia acabar derrubando a sua moradia, chegou à porta e lhe disse:
- Poderosa águia, eu sei que lhe será muito fácil apoderar-se da lebre que está em minha casa, mas não se esqueça de que ela é minha hóspede, e por isso lhe peço que respeite as leis da hospitalidade.
Mas a águia ignorou o pedido do besouro, e afastando-o com as asas, agarrou a pobre lebre com suas garras e voltou satisfeita para o ninho. Enfurecido, o besouro voou até lá, e aproveitando a ausência da dona da casa furou a casca dos ovos que encontrou. Quando a ave retornou e descobriu o que tinha sido feito, lamentou-se de-sesperada, e essa sua dor durou meses. No ano seguinte, ainda sem ter esquecido o que acontecera, ela mudou seu ninho para um lugar mais alto, mas mesmo assim o besouro foi lá e novamente furou todos os ovos. Dessa vez a mãe frustrada recorreu ao deus dos ares, pedindo-lhe justiça, tendo este aconselhado que ela depositasse os ovos da postura seguinte em uma dobra do seu manto real, onde eles ficariam a salvo. Isso foi feito, mas aí o besouro simplesmente sacudiu o manto e com isso os ovos caíram ao chão e romperam a casca.
Desesperada, a águia ameaçou abandonar a corte, e o rei dos ares então inti-mou o besouro a comparecer diante do tribunal. Lá, ele contou o caso desde o início, e o rei, lhe dando razão, tentou sem sucesso reconciliar as duas partes. Daí que para acomodar a situação o soberano decidiu mudar a época em que a águia põe seus ovos, fazendo-a coincidir com a estação em que o besouro se enfia terra à dentro para resguardar-se dos rigores do inverno.
Moral da história: Para a justiça não basta punir. O mais importante é acabar com o problema.
Fábulas de Esopo