19/01/2011

A sapa casada



Um lavrador possuía três filhos. As pragas haviam destruído suas plantações e dizimado seus bois e cavalos. Quase não existia, em casa, o que comer. Diante disso, o filho mais velho disse ao pai:
— Meu pai, já estou homem feito. Não posso continuar aqui. Preciso ganhar a minha vida. Por isso, vou correr mundo à procura de trabalho. Hei de voltar rico.
O lavrador deu-lhe a bênção, e o rapaz partiu. Depois de viajar por diversos países e de sofrer muitas dificuldades, parou numa cidade onde se casou. Mas continuou pobre.
Passado algum tempo, o segundo filho do lavrador resolveu seguir o exemplo do mais velho. Pediu dinheiro ao pai e saiu a correr mundo. Depois de passar muitas privações, parou numa cidade onde se casou. Não conseguiu ficar rico.
Anos depois, o filho mais novo do lavrador, vendo que os irmãos não voltavam, resolveu sair à sua procura. Desejava também arranjar algum emprego rendoso. O lavrador ficou muito triste porque era viúvo, e o rapaz era a única companhia que êle tinha na velhice. Mas deu a bênção ao moço e, com lágrimas nos olhos, deixou-o partir.
Após visitar muitas cidades sem encontrar os irmãos nem conseguir emprego, o rapaz parou à beira de uma lagoa para descansar. Era ao cair da tarde. De repente, ouviu uma voz deliciosa entoando uma linda canção.
O moço ficou encantado com a beleza e a doçura da voz. Debalde procurou a moça que cantava. Tão entusiasmado ficou com aquela voz maravilhosa que exclamou:
— Eu me casaria com a dona dessa voz, mesmo que fosse uma sapa desta lagoa!
Mal tinha acabado de proferir estas palavras, o rapaz viu, com espanto, uma sapa enorme e feia saltar da lagoa e dizer para ele:
— Sou eu a dona da voz maravilhosa! Se o senhor é um homem honrado, tem de cumprir sua palavra e casar-se comigo!
Passado o espanto, o rapaz viu que realmente tinha o dever de se casar com a sapa. Disse-lhe, então, que estava pronto para o casamento. A sapa ordenou, pois, ao rapaz que entrasse na lagoa e mergulhasse sem receio, nas suas águas.
O moço assim fez e viu-se, subitamente, num palácio deslumbrante, construído debaixo da lagoa. Estava tudo preparado para o casamento. Mas todos os habitantes do palácio, inclusive o padre, o sacristão, as testemunhas, os criados, os guardas eram sapos que coaxavam sem cessar.
Depois da cerimônia, o casal ficou residindo no palácio, onde havia todo o conforto. Todos os dias, havia banquetes, festas, concertos, peças de teatro, mas tudo feito, cantado e representado pelos sapos. A princípio, o rapaz achou tudo aquilo muito desagradável. Mas, com o correr do tempo, acostumou-se ao reino dos sapos, embora tivesse sempre saudades dos irmãos e do seu velho pai.
Aproximava-se, porém, o aniversário do lavrador. Havia muito tempo que essa data era festajada pelos parentes que, todos os anos, se reuniam em sua casa, para cumprimentar seu pai. Mas como poderia — pensava o rapaz — chegar em casa, casado com uma sapa ? Certamente, seria ridicularizado pelos irmãos e pelos outros parentes. Que fazer?
Resolveu dizer à sapa que precisava comparecer ao aniversário do seu pai. A esposa achou que êle fazia muito bem e começou a bordar uns lenços de seda para o sogro.
Afinal, chegou o dia da visita ao pai. Acompanhado da sapa, o rapaz tomou o caminho de sua casa. Quando o lavrador soube que o filho tinha casado com uma sapa, ficou muito triste. Mas não pôde deixar de admirar os lenços lindíssimos que a nora lhe ofereceu.
Na hora do jantar, o rapaz ficou indignado com as risa-das e indiretas dos irmãos e das cunhadas. Mas ficou calado. Deu o braço à esposa e caminhou para a mesa, sem se importar com o riso dos parentes e vizinhos.
Quando os dois esposos sentaram à mesa, aconteceu um fato inesperado. A sapa, de repente, transformou-se numa jovem lindíssima, ricamente vestida. O espanto foi geral.
A sapa era uma princesa. Anos atrás, havia sido encantada por uma feiticeira que tinha inveja de sua beleza. Somente poderia voltar à forma humana se encontrasse uni rapaz que a desposasse. Assim, a feiticeira pensava que a moça jamais seria desencantada.
O rapaz ficou radiante de alegria. Seus irmãos e cunhadas arrependeram-se do que haviam feito. E o velho lavrador não cabia em si de tanta satisfação.
No lugar onde se achava a lagoa, surgiu um lindo palácio, servido por criados e soldados que haviam sido encantados pela feiticeira.
O rapaz perdoou aos irmãos e, juntamente com a esposa e seu velho pai, foi residir no belo palácio, onde viveu, muito feliz, o resto de sua existência.