Toth é, reconhecidamente, o mais sábio e hábil dentre os deuses, sendo o pai de todas as artes em que o homem se exercita com o raciocínio. Deu-se que, um dia, ao formular as regras do jogo de Senet, esse poderoso deus perguntou-se como poderia preservar o conhecimento em algo mais durável do que a memória.
Por muito tempo essa questão incomodou o deus-íbis, que se ocupava de outras coisas menores enquanto sua inimaginável mente procurava uma resolução para aquele enigma. Depois de um tempo, porém, ocorreu a Toth que poderia usar um caniço afiado e tinta para, em uma folha de papiro, planta que crescia, abundante, no delta, desenhar signos que representassem coisas – como pão, macaco ou barca – e conceitos – como amor, ódio, fidelidade. Durante vários dias, hora na forma de homem com cabeça de íbis, hora na forma de babuíno Toth se ocupa de traçar todos os signos que sua mente imagina. Feita sua obra foi mostrá-la ao rei dos deuses, Rá, e obter sua aprovação para que os homens dela pudesse desfrutar.
No palácio do soberano dos deuses Toth diz:
- Creio ser essa minha mais útil invenção, que permite registrar tudo que se queira em algo mais durável que a memória, especialmente a dos homens, que depressa se embota e se perde. Assim, a grande glória dos deuses estará imperecível, mesmo daqui a milhares de anos.
- O que tua sapiente invenção fará, Thot, é destruir a memória, esse dom que somente os seres humanos tem dentre todos os animais. Afinal, se tudo está registrado, qual será a necessidade de recordar?
- Toda a necessidade, pois os homens poderão confiar na memória, ainda. Recorrerão aos registros daquilo que é muito importante, e será a partir deles que construirão algo novo. Não irão perder mais tempo aprendendo ou ouvindo aquilo que seus pais já sabiam, sem poder se beneficiar da experiência deles. Será, apenas, interpor um veículo certo entre a memória e o ser humano. Eles serão muito ajudados por isso, é o que vejo.
Toth parou, como que refletindo, e disse:
- Imagine qual será a angústia do homem sábio, sem poder ter certeza que suas palavras serão ouvidas pelos seus filhos exatamente como ele desejou que o fossem, posto que precisa confiar na memória dos que irão contar a sua história aos mais novos. Eis ai uma das grandes utilidades da escrita, o pensamento puro e incólume para a mente de seu estudioso. Além disso, imagine como será útil registrar as contas no papel, tendo certeza de que estão corretas, ou o calendário, mostrando que tal ato glorioso de Rá remete a um passado em tantos anos, não em outros quantos. E a cheia do rio Nilo, que vivifica o Egito poderá ser calculada e colocada a serviço dos homens e deuses...
- Fazei então, Toth, como julgas correto, pois que tua invenção sapientíssima, assim como todas as outras anteriores – o calendário, a álgebra, a escrita – estarão a disposição dos homens e deuses.
Por muito tempo essa questão incomodou o deus-íbis, que se ocupava de outras coisas menores enquanto sua inimaginável mente procurava uma resolução para aquele enigma. Depois de um tempo, porém, ocorreu a Toth que poderia usar um caniço afiado e tinta para, em uma folha de papiro, planta que crescia, abundante, no delta, desenhar signos que representassem coisas – como pão, macaco ou barca – e conceitos – como amor, ódio, fidelidade. Durante vários dias, hora na forma de homem com cabeça de íbis, hora na forma de babuíno Toth se ocupa de traçar todos os signos que sua mente imagina. Feita sua obra foi mostrá-la ao rei dos deuses, Rá, e obter sua aprovação para que os homens dela pudesse desfrutar.
No palácio do soberano dos deuses Toth diz:
- Creio ser essa minha mais útil invenção, que permite registrar tudo que se queira em algo mais durável que a memória, especialmente a dos homens, que depressa se embota e se perde. Assim, a grande glória dos deuses estará imperecível, mesmo daqui a milhares de anos.
- O que tua sapiente invenção fará, Thot, é destruir a memória, esse dom que somente os seres humanos tem dentre todos os animais. Afinal, se tudo está registrado, qual será a necessidade de recordar?
- Toda a necessidade, pois os homens poderão confiar na memória, ainda. Recorrerão aos registros daquilo que é muito importante, e será a partir deles que construirão algo novo. Não irão perder mais tempo aprendendo ou ouvindo aquilo que seus pais já sabiam, sem poder se beneficiar da experiência deles. Será, apenas, interpor um veículo certo entre a memória e o ser humano. Eles serão muito ajudados por isso, é o que vejo.
Toth parou, como que refletindo, e disse:
- Imagine qual será a angústia do homem sábio, sem poder ter certeza que suas palavras serão ouvidas pelos seus filhos exatamente como ele desejou que o fossem, posto que precisa confiar na memória dos que irão contar a sua história aos mais novos. Eis ai uma das grandes utilidades da escrita, o pensamento puro e incólume para a mente de seu estudioso. Além disso, imagine como será útil registrar as contas no papel, tendo certeza de que estão corretas, ou o calendário, mostrando que tal ato glorioso de Rá remete a um passado em tantos anos, não em outros quantos. E a cheia do rio Nilo, que vivifica o Egito poderá ser calculada e colocada a serviço dos homens e deuses...
- Fazei então, Toth, como julgas correto, pois que tua invenção sapientíssima, assim como todas as outras anteriores – o calendário, a álgebra, a escrita – estarão a disposição dos homens e deuses.
Contos e Lendas da Mitologia Egípcia