28/03/2011

Um A no peito



Era uma vez uma T-shirt com um A impresso no peito. Ou melhor: era uma vez um rapazinho com uma T-shirt, que tinha um A impresso no peito. Um A grande. Muito bem desenhado. Com dois traços assim, a descer, cada qual para seu lado, e outro assim, a cortá-los, na horizontal. Claro que todos sabem como é que se escreve um A. Mas deixem-me também a mim provar que sei...
Perguntavam ao menino, o tal da T-shirt com um A impresso no peito:
- Como é te chamas? António?
- Não.
- Alberto?
- Não.
- Álvaro?
- Não.
- Ah! Pois claro. Chamas-te André!
- Não.
- Agostinho?
- Não.
- Almiro?
- Não.
- Alfredo?
- Não.
- Alípio?
- Não.
- Albano?
- Não.
- Não é possível! Então como é que tu te chamas?
- Timóteo.
- Timóteo? Mas não tem A. Espera: estás a usar uma T-shirt emprestada?
- Não.
- Nesse caso o A é nome de família... Chamas-te Timóteo Alves? Almeida? Amorim? Andrade? Antunes?
Não havia meio de acertar.
Só então é que a T-shirt se explicou:
- Não gosto que me tratem por T-shirt. Chamo-me Camisola de Manga Curta e de Algodão. O A de algodão é nome de família.
Foi a partir desta altura que as outras peças de roupa passaram a exigir, bem assinaladas, as respectivas letras iniciais do apelido. L de lã para as meias. S de seda para as blusas. F de feltro para as calças.
E se não fizermos a vontade, a roupa já disse que deixa de nos servir.
Que transtorno, ehm!? Principalmente no Inverno...

António Torrado