Contam esta história em África, à volta da fogueira.
Façam de conta que também lá estamos a ouvir o contador desfiar a história, enquanto tange o corá, que é um especial instrumento de cordas esticadas sobre uma caixa de ressonância, feita de meia cabaça revestida de couro. Plim... Plam... Plim... Conseguem ouvir?
Dantes, muito antes de os homens se terem espalhado pela Terra, os bichos não eram como são hoje. Por exemplo: a zebra tinha a pele igual à que o leão tem e o leão, imaginem a excentricidade, tinha a pele às riscas como tem a zebra. Devia ficar-lhe bem...
A zebra que, nessa época, passava por amiga do leão, disse-lhe, um dia:
- Estive a pensar que devias mudar de aspecto. Assim, com essa pele tão vistosa, chamas demasiadamente a atenção e deves ter dificuldade em esconder-te, quando queres caçar de surpresa.
O leão reconheceu que, efectivamente, já sofrera alguns desaires na caça à conta da sua bizarra pele às riscas.
- Queres trocar pela minha? - propôs a zebra.
Ela, sem riscas, parecia-se mais com um burro, o que não era nada lisonjeiro para a vaidade da zebra. No fundo, ela invejava a pele listada do leão.
Acertado o negócio, trocaram de pele. Naquele tempo, tudo era fácil.
Vendo-se vestida de riscado, como tanto ambicionara, a zebra foi ter com a restante bicharia, a avisar, a torto e a direito:
- Cuidado que, agora, o leão é que anda com a minha pele.
O leão não gostou. Aquela badalação era prejudicial aos seus intentos e aos seus pergaminhos de majestade. De modo que, desde essa altura, que ele anda a exigir à zebra a devolução da pele.
Onde quer que veja uma a jeito, salta-lhe para os lombos e tenta com as garras arrancar-lhe a pele. Até agora ainda não conseguiu recuperá-la, o que é pena. Quem é que não gostava de ver um leão às riscas?
António Torrado