24/06/2011

O rato anacoreta



Das curvas unhas de terrível gato
Por milagre escapando-se ligeiro,
No atulhado armazém de um merceeiro
Foi asilo buscar pequeno rato.

Pilha de seis de fundo e vinte de alto
De queijos permissões subia ao tecto,
E atraído de Cheiro tão selecto,
Lá trepa o fugitivo em salto e salto.

Num queijo que à parede mais se unia,
Lá começa a roer, e em pouco espaço
Uni buraco enlapou, que nada escasso
Cubículo e sustento lhe exibia.

Ora dormindo, ora manducando,
Ali vive tranquilo e sem cuidado.
«Do mundo – diz – estou desenganado,
E quero ir minhas expiando!»

Que me dizes, leitor, ao tal ratinho?
Assim vivendo à custa dos patetas,
Nesses conventos regalões roupetas
Da salvação procuram o caminho.


Tradução de Costa e Silva