05/02/2012

A arca de trigo que o fogo poupou

Há muitos anos atrás, João Machado Valadão, que morava na Vila das Velas, tinha ficado como mordomo de Espírito Santo para o ano seguinte. Guardava com muito respeito em sua casa, numa arca fechada à chave, a coroa e o estandarte e ainda um moio de trigo em sacos para o pão da coroação.
No mês de Setembro, como castigo pelos desacatos que muitas pessoas cometiam e para lhes animar a fé, pegou fogo na casa do dito homem. O fogo foi-se ateando com tal força que não houve água nem braços suficientes para o apagar.
Todos os que podiam andar juntaram-se para ajudar João Valadão, mas estavam impotentes. O calor e o barulho eram insuportáveis. Telhas, pedras, madeira saltavam e estalavam por todo o lado. As labaredas iam engordando à medida que queimavam as traves, os trens de casa, a roupa.
Chorosos, lamentavam-se e assistiam à fúria do fogo que queimava tudo o que encontrava à sua frente. Ficaram, porém, muito espantados, quando as chamas investiram contra a arca e os sacos de trigo guardados para o Espírito Santo e recuaram sem lhes causar qualquer dano.
Por fim o fogo foi-se extinguindo e da casa apenas restava um monte de cinza e pedras. Quando o calor diminuiu, começaram a esgravatar nos escombros com pouca esperança de que encontrassem alguma coisa a salvo.
Mas muitos louvores deram ao Espírito Santo, ao verem, no meio das cinzas, a arca com a coroa e o estandarte do Espírito Santo e os sacos de trigo em perfeito estado.
A fé no Espírito Santo tornou-se mais forte e as suas festas foram feitas com muita dedicação.