Vorazes comem lobos;
Nada lhes vence a gana;
Eis o que fez um deles;
Em farta comezaina.
Tão sôfrego engolira,
Sua avidez foi tanta,
Que de través lhe fica
Um osso na garganta.
Sentindo-se engasgado,
E sem poder gritar,
julgou-se na agonia
E prestes a expirar.
Uma cegonha (ó dita!)
Passa dali vizinha;
Chamada por acenos,
Vem acudi-lo asinha.
Com grande habilidade
Procede à operação;
Retira o osso — e a paga
Requer do comilão.
"A paga! (exclama o lobo)
Comadre! Estás brincando!
Pois não te deixo livre,
A vida desfrutando?
Não me saiu dos dentes
Tua cabeça intata?
Vai-te e das minhas garras
Cuida em fugir, ingrata!"
Barão de Paranapiacaba (Trad.)