14/03/2009

O pinheiro ambicioso

Era uma vez um pinheiro, que não estava contente com a sua sorte. «Oh! dizia ele, como são horrorosas estas linhas uniformes de agulhas verdes, que se estendem ao longo dos meus ramos! Sou um pouco mais orgulhoso que os meus vizinhos, e sinto que fui feito para andar vestido de outro modo. Ah! se as minhas folhas fossem de oiro!»
O Génio da montanha ouviu-o, e no dia seguinte pela manhã acordou o pinheiro com folhas de oiro. Ficou radiante de alegria, e admirou-se, pavoneou-se todo, olhando com altivez para os outros pinheiros, que, mais sensatos do que ele, não invejavam a sua rápida fortuna. À noite passou por ali um judeu, arrancou-lhe todas as folhas, meteu-as num saco, e foi-se embora, deixando-o inteiramente nu dos pés à cabeça.
«Oh! disse ele, que doido que eu fui! não me tinha lembrado da cobiça dos homens. Fiquei completamente despido. Não há agora em toda a floresta uma planta tão pobre como eu. Fiz mal em pedir folhas de oiro; o oiro atrai as ambições.
Ah! se eu arranjasse um vestuário de vidro! Era deslumbrante, e o judeu avarento não me teria despido.»
No dia seguinte acordou o pinheiro com folhas de vidro, que reluziam ao sol como pequeninos espelhos. Ficou outra vez todo contente e orgulhoso, fitando desdenhosamente os seus vizinhos. Mas nisto o céu cobriu-se de nuvens, e o vento rugindo, estalando, quebrou com a sua asa negra as folhas de cristal.
«Enganei-me ainda, disse o jovem pinheiro, vendo por terra todo feito em pedaços o seu manto cristalino. O oiro e o vidro não servem para vestir as florestas. Se eu tivesse a folhagem acetinada das aveleiras, seria menos brilhante, mas viveria descansado.»
Cumpriu-se o seu último desejo, e, apesar de ter renunciado às vaidades primitivas, julgava-se ainda assim mais bem vestido do que todos os outros pinheiros seus irmãos. Mas passou por ali um rebanho de cabras, e vendo as folhas acabadas de nascer, tenrinhas e frescas, comeram-lhas todas sem deixar uma única.
O pobre pinheiro, envergonhado e arrependido, já queria voltar à sua forma natural. Conseguiu ainda este favor, e nunca mais se queixou da sua sorte.


Guerra Junqueiro, Contos para a Infância