18/11/2010

Cavalinho e cavalo



O cavalinho foi ver o pai às corridas.
Tinham-lhe dito que o pai ia concorrer, na Grande Prova Internacional a Todo o Galope, e o cavalinho, que nunca tinha vencido a cerca do prado onde vivia, deu um salto e pronto. Estava do outro lado.
- Se fosse o meu pai, melhor ele saltaria - disse de si para si o cavalinho. - O meu pai é um grande saltador.
Um cavalo na estrada, sem cavaleiro nem atrelado, chama sempre a atenção. Um automóvel parou, ao pé dele.
- Ó cavalicoque, posso dar uma voltinha? - perguntou uma risonha voz de dentro do carro.
O cavalinho assustou-se e fugiu. Correu. O automóvel atrás dele.
Se não tivesse inflectido para um caminho de mau piso, o automóvel tinha-o apanhado. Assim, escapou.
- Se fosse o meu pai, melhor correria - disse de si para si o cavalinho. - O meu pai é um grande corredor.
Era o que se ia ver na tal Grande Prova a Todo o Galope. Postados, na linha de partida, cavaleiros e cavalos. Entre eles, o pai do cavalinho.
Desataram todos a correr ao mesmo tempo. Nem se percebia qual ia à frente, tanto o pó que levantavam.
- Deve ser o meu pai - dizia o cavalinho.
Fosse ou não fosse, o certo é que, numa curva, depois de terem saltado uma barreira, os cavalos tropeçaram uns nos outros e caíram. E magoaram-se. Entre eles, o pai do cavalinho.
Foi interrompida e anulada a corrida.
Agora de novo no prado com a cerca à volta, o cavalinho faz companhia ao pai, que coxeia, de perna ligada, para que se cure depressa.
- Se não tivesse havido aquela confusão, depois da barreira, tu é que tinhas ganho - disse-lhe o filho.
O cavalo de corrida faz que sim com a cabeça e relincha. O pescoço musculoso brilha como seda. As crinas ondeiam. É um lindo cavalo castanho, cor de terra molhada. O filho sai a ele.