O gato e a raposa não privavam, em trato de amizade, mas de uma vez que o acaso os juntou deram em considerar que não eram tão desparecidos um com o outro, como se julgavam.
Ambos tinham cauda, embora a da raposa mais felpuda e mais calhada para gola de samarra, o que não era de bom tom lembrar à raposa... Ambos tinham o passo de bailarina em pontas. Ambos tinham olhos de farolim, para descortinar os recantos da noite. Ambos tinham artes de caça e vasto receituário de matreirices. Ambos sabiam, com vaidade, que valiam mais do que pesavam. Ambos tinham aos cães a mesma raiva.
Foi, aliás, a propósito de cães que a raposa e o gato, um dia, em que passeavam a par pelo campo, tiveram a seguinte conversa:
- Se uma matilha de cães nos perseguisse, o que é que tu farias? - perguntou a raposa ao gato.
- Nem me fales nesses monstros, que fico com o pêlo em pé - disse o gato. - Uma matilha? Bastava-me um cão só, para lhe fugir.
- Pois sim, mas como te escapavas? - insistiu a raposa.
- Escapava-me. Fugia. Safava-me. Debandava. Raspava-me. Sumia. Onde houvesse uma árvore para eu trepar era por ela acima que eu desaparecia da vista do cão - explicou o gato, todo arrepiado.
- Vejo que és um pouco simplório e covarde - comentou a raposa. - Pois eu tenho mil manhas e recursos para os afastar de mim. Um catálogo de estratégias, podes crer. A dificuldade está na escolha, quando chega a ocasião.
Logo por azar, surgiu a ocasião. Dois cães de caça correram sobre o gato e a raposa. Sentindo-os perto, o gato saltou para uma árvore e pôs-se a salvo.
Mas já eles corriam sobre a raposa.
Então o gato viu a raposa, que há pouco se gabava de dispor de tantos e tão variados expedientes contra a fúria dos cães, fugir a bom fugir, como qualquer coelho assustadiço. E, lá mais adiante, ser filada pelo rabo...
Não tardaria muito que enfeitasse uma gola de samarra.
Do seu providencial poleiro, o gato matutava que mais vale saber do que apregoar que se sabe.
Ambos tinham cauda, embora a da raposa mais felpuda e mais calhada para gola de samarra, o que não era de bom tom lembrar à raposa... Ambos tinham o passo de bailarina em pontas. Ambos tinham olhos de farolim, para descortinar os recantos da noite. Ambos tinham artes de caça e vasto receituário de matreirices. Ambos sabiam, com vaidade, que valiam mais do que pesavam. Ambos tinham aos cães a mesma raiva.
Foi, aliás, a propósito de cães que a raposa e o gato, um dia, em que passeavam a par pelo campo, tiveram a seguinte conversa:
- Se uma matilha de cães nos perseguisse, o que é que tu farias? - perguntou a raposa ao gato.
- Nem me fales nesses monstros, que fico com o pêlo em pé - disse o gato. - Uma matilha? Bastava-me um cão só, para lhe fugir.
- Pois sim, mas como te escapavas? - insistiu a raposa.
- Escapava-me. Fugia. Safava-me. Debandava. Raspava-me. Sumia. Onde houvesse uma árvore para eu trepar era por ela acima que eu desaparecia da vista do cão - explicou o gato, todo arrepiado.
- Vejo que és um pouco simplório e covarde - comentou a raposa. - Pois eu tenho mil manhas e recursos para os afastar de mim. Um catálogo de estratégias, podes crer. A dificuldade está na escolha, quando chega a ocasião.
Logo por azar, surgiu a ocasião. Dois cães de caça correram sobre o gato e a raposa. Sentindo-os perto, o gato saltou para uma árvore e pôs-se a salvo.
Mas já eles corriam sobre a raposa.
Então o gato viu a raposa, que há pouco se gabava de dispor de tantos e tão variados expedientes contra a fúria dos cães, fugir a bom fugir, como qualquer coelho assustadiço. E, lá mais adiante, ser filada pelo rabo...
Não tardaria muito que enfeitasse uma gola de samarra.
Do seu providencial poleiro, o gato matutava que mais vale saber do que apregoar que se sabe.