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30/06/2008

O simplório e o tratante




Certo sujeito simplório seguia por uma estrada, arrastando seu asno atrás de si pelo cabresto, quando um par de malandros o viu; e um disse ao outro: "Vou tomar o asno daquele camarada." Perguntou o outro: "Como irás fazê-lo?" "Segue-me e verás," respondeu o primeiro. O gatuno foi até junto do asno, desprendeu-o do cabresto e entregou-o ao companheiro. Depois passou o cabresto pelo seu próprio pescoço e seguiu o João Bobo até ver que o companheiro tinha sumido com o asno; então, parou. O idiota puxou o cabresto, mas o patife não se mexeu. O burriqueiro virou-se e, vendo o cabresto no pescoço de um homem, perguntou: "Quem és tu?" Respondeu o tratante: "Sou teu asno, e minha história é espantosa. Sabe que cu tenho uma velha mãezinha muito piedosa e, um dia, cheguei junto a ela muito embriagado. Ela me disse: "Ó meu filho, arrepende-te ante o Altíssimo por esses teus pecados." Mas eu tomei meu bordão e bati-lhe, e ela me amaldiçoou, e me transformou num asno e fez-me cair em tuas mãos. Contudo, hoje, minha mãe lembrou-se de mim e seu coração ansiou por mim; e ela me perdoou ante o Altíssimo, e o Senhor restituiu-me minha forma antiga entre os filhos de Adão." Gritou o bobo: "Não há Majestade e não há Poder senão em Alá, o Glorioso, o Omnipotente! Com Alá sobre ti, ó meu irmão, perdoa-me o que tenho feito contigo, montando em ti, e tudo o mais." Então, o simplório deixou o patife ir embora e voltou para casa, bêbado de pesar e inquieto, como se tivesse tomado vinho. Sua mulher perguntou-lhe: "Que te incomoda, e onde está o jumento?" "Não sabes o que era aquele jumento; mas eu te contarei," respondeu ele. Contou-lhe a história toda, e a mulher exclamou: "Ó, ai de nós, ai de nós pela punição que receberemos do Todo- Poderoso! Como pudemos usar um homem como uma besta de carga, durante todo esse tempo?" E deu esmolas, e fez penitência, e suplicou o perdão dos Céus. O homem ficou algum tempo em casa, ocioso e inútil, até que a mulher lhe disse: "Por quanto tempo vais ficar sentado em casa, sem fazer nada? Vai ao mercado, compra-nos outro asno e vai fazer teu trabalho com ele." Então, ele foi ao mercado, parou junto ao local de venda de asnos, e lá viu seu próprio animal exposto à venda. Aproximou-se dele e, encostando a boca ao seu ouvido, disse-lhe: "Pobre de ti, que nunca procedes bem. Com certeza andaste bebendo novamente e batendo em tua mãe. Mas, por Alá, nunca mais te comprarei." E deixou-o ali e foi-se embora.



A pomba e a formiga


Enquanto a sede uma pomba
Em clara fonte mitiga,
Vê por um triste desastre
Cair n'água uma formiga.

Naquele vasto oceano
A pobre luta e braceja,
E vir à margem da fonte
Inutilmente deseja.

A pomba, por ter dó dela,
N'água uma ervinha lança;
Neste vasto promontório
A triste salvar-se alcança.

Na terra a põe uma aragem;
E livre do precipício,
Acha logo ocasião
De pagar o benefício:

Que vê atrás de um valado,
já fazendo à pomba festa,
Um descalço caçador
Que dura farpa lhe assesta.

Supondo-a já na panela,
Diz: "Hei de te hoje cear!"
Mas nisto a formiga astuta
Lhe morde num calcanhar.

Sucumbe à dor, torce o corpo,
Erra o tiro, a pomba foge;
Diz-lhe a formiga: "Coitado!
Foi-se embora a ceia de hoje!"

De boca aberta ficando,
Conhece o pobre glutão
Que só devemos contar
Com o que temos na mão.

E posto enfim que haja ingratos,
Notar devemos também
Que as mais das vezes no mundo
Não se perde o fazer bem.

Curvo Semedo (Trad.)

29/06/2008

Lenda das Obras de Santa Engrácia

Diz a lenda que Simão Pires, um cristão-novo, cavalgava todos os dias até ao convento de Santa Clara para se encontrar às escondidas com Violante. A jovem tinha sido feita noviça à força porque o seu pai não estava de acordo com o amor de ambos.
Um dia, Simão pediu à sua amada para fugir com ele. No dia seguinte, Simão foi acordado pelos homens do rei que o vinham prender acusando-o do roubo das relíquias da igreja de Santa Engrácia, que ficava perto do convento. Para não prejudicar Violante, Simão não revelou a razão porque tinha sido visto no local. Apesar de invocar a sua inocência foi preso e condenado à morte na fogueira. A cerimónia da condenação tinha lugar junto da nova igreja de Santa Engrácia, cujas obras já tinham começado. Quando as labaredas envolveram o corpo de Simão, este gritou que era tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem.
Certo é que as obras da igreja iniciadas à época da execução de Simão pareciam nunca mais ter fim. De tal forma, que o povo se habituou a comparar tudo aquilo que parece não ter fim às obras de Santa Engrácia.


27/06/2008

Reginaldo

– «Reginaldo, Reginaldo,
Pajem del-rei tão querido,
Não sei porquê, Reginaldo
Te chamam o atrevido.»
– «Porque me atrevi, senhora,
A querer o defendido.»
– «Não foras tu tão covarde
Que já dormiras comigo.»
– «Senhora zombais de mim
Porque sou vosso cativo.»
– «Eu não no digo zombando,
Que deveras te lo digo.»
– «Pois quando o quereis, infanta,
Que vá pelo prometido?»
– «Entre las dez e las onze
que el rei não seja sentido.»

Inda não era sol posto,
Reginaldo adormecido:
As dez não eram bem dadas,
Reginaldo já erguido.
Calçou sapato de pano,
Que el rei não fosse ouvido,
Foi-se à câmara da infanta,
Deu-lhe um ai, deu-lhe um gemido.
«Quem suspira a essa porta,
Quem será o atrevido?
– «É Reginaldo, senhora
Que vem pelo prometido.»
– «Levantai-vos minhas aias,
Que assim Deus vos dê marido!
E ide abrir mansinho a porta
Que el-rei não seja sentido.»
Vela o pajem toda a noite...
Por manhã é adormecido;
Chamava o rei que chamava
Que lhe desse o seu vestido:

– «Reginaldo não responde,
alguma tem sucedido!
Ou está morto o meu pajem
Ou grande traição há sido.»
Responderam os vassalos
Que tudo tinham sentido:
– «Morto não é Reginaldo,
de sono estará perdido.»

Vestiu-se el-rei muito à pressa,
E leva um punhal consigo
Vai correndo sala e sala,
Abrindo porta e postigo,
Chega ao camarim da infanta,
Dormiam tão sossegados
Como mulher e marido.
De nada do que se passava
De nada davam sentido.
Acudiram os vassalos,
Que viram a el-rei perdido:
– «Nunca vossa majestade
Mate um homem adormecido.»
Tira el-rei seu punhal de oiro,
Deixa-o entre os dois metido,
O cabo para a princesa.
Para o Reginaldo o bico.
Ia-se a virar o pajem,
Sentiu-se cortar no fio:
– «Acorda já, bela infanta,
Triste sono tens dormido!
Olha o punhal de teu pai
Que entre nós está metido.»
– «Cala-te daí Reginaldo,
Não sejas tão dolorido;
Vai já deitar-se a seus pés,
Que el-rei é bom e sofrido.
Para o mal que temos feito
Não há senão um castigo;

Mas se el-rei mandar matar-me,
Eu hei-de morrer contigo.»
– «Donde vens, ó Reginaldo?»
– «Senhor, de caçar sou vindo.
– «Que é da caça que caçaste,
Reginaldo o atrevido?»
– «Senhor rei, da caça venho,
Mas não a trago comigo;
Que o trazer caça real
A vassalo é defendido.
Só vos trago uma cabeça,
A minha: dai-lhe o castigo.»
– «Tua sentença está dada,
Morrerás por atrevido.»
Vedes hora o bom do rei
Dando voltas ao sentido:
– «Se mato a bela infanta,
Fica o meu reino perdido...
Para matar Reginaldo,
Criei-o de pequenino...
Metê-lo-ei numa torre
Por princípio de castigo.»
– «Dizei-me vós, meus vassalos,
Pois tudo tendes ouvido,
Que mais justiça faremos
Deste pajem atrevido?»
Respondem os condes todos,
E muito bem respondido:
– «Pajem de rei que tal faz,
Tem a cabeça perdido.»

Já o metem numa torre,
Já o vão encarcerar.
Mas ano e dia é passado,
E a sentença por dar.

Veio a mãe de Reginaldo
O seu filho a visitar:
– «Filho, quando te pari
Com tanta dor e pesar,
Era um dia como este,
Teu pai estava a expirar.
Eu coas lágrimas nos olhos,
Filho, te estava a lavar;
Cabelos desta cabeça
Com eles te fui limpar.
E teu pai já na agonia,
Que me estava a encomendar:
Enquanto fosses pequeno
De bom ensino te dar,
E depois que fosses grande
A bom senhor te entregar.
Ai de mim, triste viúva,
Que te não soube criar!
A el-rei te dei por amo,
Que melhor não pude achar:
Tu vais dormir coa Infanta,
De teu senhor natural!
Perdeste a cabeça, filho,
Que el-rei ta manda cortar!...
Ai! meu filho, antes que morras,
Quero ouvir o teu cantar.»
– «Como hei-de eu cantar, mi madre
Se me sinto já finar?»
– «Canta, meu filhinho, canta,
Para haver minha benção,
Que me estou lembrando agora
De teu pai nesta prisão.
Canta-me o que ele cantava
Na noite de São João;
Que tantas vezes mo ouviste
Cantar co meu coração.»

– «Um dia antes do dia
Que é dia de São João,
Me encerraram nestas grades
Para fazer penação.
E aqui estou, pobre coitado,
Metido nesta prisão,
Que não sei quando o sol nasce,
Quando a lua faz serão.»

De suas varandas altas
El-rei estava a escutar;
Já se vai onde a Princesa,
Pela mão a foi buscar:
– «Anda ouvir, ó minha filha,
Este tão lindo cantar,
Que ou são os anjos no céu,
Ou as sereias no mar.»
– «Não são os anjos no céu,
nem as sereias no mar,
mas o triste sem ventura
a quem mandais degolar.»
– «Pois já revogo a sentença
E já o mando soltar;
Prende-o tu, Infanta, agora,
Pois contigo há-de casar.»

Romanceiro, Almeida Garrett




26/06/2008

Modo correcto


Um Monge de grande devoção e instruído, atravessava uma vez um rio em um barco quando ao passar ao lado de uma pequena ilhota, ouviu uma voz de um homem que muito torpemente tentava elevar suas preces. No interior do monge não pode mais que entristecer-se.
- Como era possível que alguém fora capaz de entoar tão mal aqueles mantras? Talvez aquele homem ignorava que os mantras deviam ser recitados com entonação adequada, com ritmo e musicalidade precisas, com pronuncia perfeita.
Decidiu então ser generoso e desviando-se de seu rumo aproximou-se a ilhota para instruir aquele homem sobre a importância da correcta execução dos mantras. Não era em vão que se considerava um frande especialista e aqueles mantras não tinham para ele qualquer segredo. Quando desembarcou a ilhota, pode ver um pobre homem de aspecto sossegado cantando alguns mantras um pouco sem acerto. O monge, com serena paciência, dedicou algumas horas a instruir minuciosamente a aquele indivíduo que a cada momento mostrava efusivas mostras de agradecimento a seu instrutor. Quando entendeu que por fim aquele sujeito poderia recitar os mantras com certa capacidade despediu-se dele, advertindo-lhe:
- E lembre-se meu bom amigo, é tal a potência de estes mantras que sua correcta pronuncia permite que um homem seja capaz de caminhar sobre as aguas.
Mas apenas havia percorrido alguns metros com seu barco, ouviu a voz daquele homem a recitar os mantras ainda pior que antes.
- Que horror. Há pessoas que são incapazes de aprender nada de nada, assim pensou o monge.
- Hey, monge - escutou atrás de si uma voz muito perto.
Ao voltar-se viu ao pobre homem que, caminhando sobre a as águas, aproximava-se de seu barco e perguntava:
- Nobre monge, já esqueci-me tua instruções sobre o modo correcto de recitar os mantras. Serias, tão amável de repeti-lo novamente?




Conto Indiano


21/06/2008

O Príncipe Sapo

Era uma vez um rei que não tinha filhos e tinha muita paixão por isso, e a mulher disse que Deus lhe desse um filho mesmo que fosse um sapo. Houve de ter um filhinho como um sapo; depois botaram as folhas a ver se havia quem o queria criar, mas ninguém se animava a vir. O rei, vendo que o sopito do filho não havia quem o queria criar, anunciou que, se houvesse alguma mulher que o quisesse criar, lho dava em casamento e lhe dava o reino. Nisto aí apareceu uma rapariga e disse: «Se Vossa Real Majestade me dá o filho, eu animo-me a vi-lo criar.» O rei disse que sim e a rapariga veio criar o sopito. Depois passou algum tempo e ele foi crescendo e ela lavava-o e esmerava-o como se ele fosse uma criança. Foi indo e ele tinha uns olhos muito bonitos e falava, e a rapariga dizia: «Os olhos dele e a fala não são de sapo.» Já estava grande, passaram-se anos e ela, uma noite, teve um sonho em que lhe diziam ao ouvido que o sapo era gente, mas pela grande heresia que a mãe disse que estava formado em sapo, que se o rei lho desse para ela casar com ele que casasse e quando fosse na primeira noite que se fosse deitar, que ele tinha sete peles e ela levasse sete saias e quando ele dissesse: «Tira uma saia», lhe dissesse ela: «Tira uma pele.» Assim foi e casou o sapo com a rapariga e na noite do casamento ele pediu-lhe que tirasse ela as saias e ela foi-lhe pedindo que tirasse as peles e depois de ele as tirar ficou um homem. Ao outro dia ele tornou a vestir as peles e ficou outra vez sapo. E ela disse-lhe: «Tu para que vestes as peles? Assim és tão bonito e vais ficar sapo.» «Assim me é preciso, cala-te.» Ela, assim que se pôs a pé, foi contar tudo à rainha, e o rei mais a rainha disseram-lhe: «Quando hoje te deitares, diz-lhe o mesmo e depois de ele tirar as peles e estar a dormir, deixa a porta do quarto aberta que nós queremos ir vê-lo.» Foram-no ver e viram que ele era homem. Ao outro dia o príncipe tornou a vestir as peles e vai o pai disse-lhe: «Tu, porque vestes as peles e queres ser feio?» «Eu quero ser sapo, porque o meu pai tem mão interior e, se eu fico bonito, impõem a minha mulher.» O rei disse-lhe: «Eu não a impunha, mas queria que tu ficasses bonito.» Depois, como viram que ele não queria deixar de ser sapo, pediram a ela que, assim que ele adormecesse, lhes trouxesse as peles para eles as queimarem. Ela assim fez e eles botaram as peles ao fogo aceso. De manhã vai ele para vestir as peles e não as acha. «Que é das peles?» «Vieram aqui o teu pai e a tua mãe e levaram-nas.» «Mal hajas tu se lhas destes, mais quem te deu o conselho. Adeus. Se alguma vez me tornares a ver, dá-me um beijo na boca.»

A mulherzinha ficou mas o rei e a mulher, assim que viram que o filho faltou, puseram-na fora da porta. Ela, coitada, não tinha com que se tratar; o que era do rei lá ficou e ela estava muito pobrezinha. A todas as pessoas que via perguntava se tinham visto um homem assim e assim e lá lhe dava as notícias do príncipe. Vieram por onde ela estava uns cegos e ela fez-lhes a pergunta. Os moços dos cegos disseram-lhe: «Nós vimos no rio Jordão um homem e certamente era ele; estava botando fatias de pão para trás das costas e dizendo: «Pela alma de meu pai, pela alma de minha mãe, pela alma de minha mulher.» Ela disse-lhes: «Vocês quando tornam para essa banda?» «Nós para o fim do outro mês voltamos para lá; havemos de passar por esse rio.» A mulherzinha aprontou-se e foi com eles. Chegou lá e era o príncipe. Ela chegou ao pé dele e deu-lhe o beijo na boca como ele tinha dito e disse-lhe: «Ora vamos embora, que se acabou o nosso fado.» E foram para casa e foram muito felizes e tiveram muitos filhos.


Recolha de Adolfo Coelho




20/06/2008

O Filho Pródigo




Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: "Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde". E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, vivendo dissolutamente. Tendo gasto tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. Então foi servir a um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E, caindo em si disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância e eu, aqui morro de fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o Céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho, trata-me como um dos teus jornaleiros. E, levantando-se, foi ter com o pai. Ainda estava longe quando o pai o viu, e enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço cobrindo-o de beijos. O filho disse-lhe: Pai pequei contra o Céu e contra ti, já não mereço ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a mais bela túnica e vesti-lha; ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e encontrou-se. E a festa principiou. Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos, perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele: "O teu irmão voltou e teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo". Encolerizado, não queria entrar; mas o pai saiu e instou com ele. Respondendo ao pai, disse-lhe: "Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua e nunca deste um cabrito para me alegrar com os meus amigos; e agora, ao chegar esse teu filho que te consumiu os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo". O pai respondeu-lhe: "Filho, tu sempre estás comigo e tudo o que é me é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu: estava perdido e encontrou-se".

Parábolas de Jesus
Lc 15,11 -32


Ano de sol

Houve um tempo em que não chovia e os animais morram de tanta sede. Então, todos resolveram se reunir a fim de solucionar o problema. O coelho recusou-se a participar das tentativas de encontrar água. Os animais cavaram, cortaram árvores, até que, em uma dessas árvores a tartaruga encontrou água suficiente para forma um pequeno lago. Fizeram festa, tocaram batuque durante três semanas, pois não sentiriam mais sede. O leão sugeriu que não deixassem o coelho beber a água deles e todos concordaram. Quando os animais saíram para a caça, deixaram a gazela tomando conta do lago. Sentindo sede, o coelho colocou mel dentro de uma cabaça, foi até à gazela e chamou. A gazela perguntou quem era e o que queria. O coelho respondeu que lhe trouxera mel de presente. Sem saber o que era mel. O coelho a convenceu que provasse. Ela gostou tanto que implorou mais ao coelho. Este, então, lhe disse que ela ainda não havia sentido todo o sabor do mel, pois isso só aconteceria se ela o comesse atada a uma árvore. Dessa forma, a gazela deixou-se amarrar. O coelho não deu mais mel à gazela e, ainda, foi ao lago beber água e tomar banho, sujando toda a lagoa. Quando os outros animais chegaram, repreenderam a gazela e puseram o macaco de guarda. No dia seguinte o coelho, novamente, chamou e o macaco respondeu que não perdesse o seu tempo, pois todos os seus artifícios já era conhecidos. O coelho disse que era uma pena, pois trazia consigo uma coisa muito saborosa, e fingiu ir-se embora. O macaco pediu para ao menos ver do que se tratava. O coelho passou um pouco de mel em seus lábios e o macaco ficou maravilhado com o sabor. Quando o macaco implorou um pouco mais, o coelho disse-lhe que não poderia dar-lhe, pois tinha medo que depois ele o seguisse para descobrir onde ele obtinha o mel. O macaco jurou que não faria isso e o coelho pediu-lhe, como prova, que o deixasse atar-lhe a uma árvore. Louco pelo mel, o macaco permitiu, repetindo-se com ele o mesmo que com a gazela. Ao retornarem, os animais ficaram enfurecidos. O mesmo sucedeu com o búfalo, o hipopótamo, o elefante e com os demais bichos, deixando o leão exasperado. Até que a tartaruga ofereceu-se para ficar de guarda. Ela, então, resolveu ficar de guarda dentro do lago, escondendo-se em baixo da água. Chegando ao lago, o coelho pensou que os outros tivessem desistido de enfrentá-lo. Entrou na lagoa e fez a festa. Quando ia sair da água, a tartaruga agarrou-lhe a perna. Ele implorava que a tartaruga lhe largasse a perna e nada. Quando os animais retornaram, ficaram muito contentes, julgando o coelho e condenando-o à morte. O condenado exigiu o seu direito a uma última vontade: ser executado no colo da mulher do chefe. No momento em que a onça ia atirar, o coelho começou a fazer gracinhas, fazendo-a rir e errar o alvo, acertando a mulher do chefe, possibilitando a fuga do coelho. Por isso, todos os animais o procuram, a fim de executá-lo. Desde então, têm-se visto o coelho, sempre sozinho, correndo de um lado para o outro, aos saltos e aos ziguezagues.


Conto de Moçambique





17/06/2008

Defeito ou qualidade?


Todos os dias um empregado ia a uma fonte buscar água para a casa. Levava uma vara ao pescoço com dois grandes potes, um de cada lado. Um dos potes tinha uma racha e pelo caminho perdia metade da água. Um dia o pote falou com o homem:
- Estou envergonhado, quero pedir-te desculpas.
- Por quê? Do que estás envergonhado?
- Por causa desta racha apenas consigo entregar metade da minha carga. Tu andas de um lado para o outro e os teus esforços não são compensados.
O homem falou:
- Quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.
- Já notaste que no teu lado do caminho há muitas flores? E só há flores do teu lado. Cada dia que voltamos do poço, com a água que perdes regas as flores. Eu colho essas flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Se não fosses como és, ele não poderia ter essas belezas para dar graça à sua casa.





A serpente branca

Há muitos e muitos anos, vivia um rei muito celebrado por sua sabedoria. Nada era oculto para ele. Era como se o conhecimento das coisas mais secretas chegasse até ele pelo ar. Mas tinha um estranho costume. Quando a refeição do meio-dia acabava, a mesa era tirada e não havia mais ninguém presente, um criado de confiança lhe trazia um prato a mais. Esse prato era coberto. Nem mesmo o criado sabia o que havia ali dentro. Nem ele nem mais ninguém, porque o rei só tirava a tampa e comia depois que ficava sozinho.
Um dia, depois que isso já acontecia há algum tempo, o criado não agüentou mais de curiosidade na hora de levar o prato embora. Secretamente o carregou para seu quarto, trancou a porta com cuidado e, quando levantou a tampa, viu que dentro havia uma serpente branca.
Depois de ver a cobra, não agüentou ficar sem dar uma provadinha. Cortou um pedaço bem pequeno dela e o pôs na boca. Assim que o pedacinho da serpente tocou a língua dele, o criado começou a ouvir sussurros suaves e estranhos do lado de fora da janela. Quando se debruçou para ver o que era, descobriu que as vozes que murmuravam eram de pardais conversando, que contavam uns aos outros tudo o que tinham visto pelos bosques e campos. Provar a serpente tinha lhe dado o poder de entender a linguagem das aves e dos animais.
Ora, aconteceu que justamente naquele dia desapareceu o melhor anel da rainha. Como o criado de confiança tinha toda a liberdade para ir onde bem entendesse no palácio, suspeitaram que o tivesse roubado. O rei mandou chamá-lo e brigou com ele, dizendo que, a não ser que ele desse o nome do ladrão até o dia seguinte, seria considerado culpado e decapitado. Não adiantou jurar inocência. O rei mandou-o embora sem uma palavra de consolo.
Com medo e se sentindo desgraçado, ele foi até o quintal e ficou pensando, vendo se encontrava um jeito para sair daquela situação. Alguns patos estavam calmamente sentados na beira de um riacho, à vontade, se alisando com o bico e batendo papo. O criado parou e escutou. Cada um dizia aos outros o que tinha acontecido em todos os lugares por onde tinha nadado naquela manhã, e toda a comida gostosa que tinha comido. Mas um deles disse, queixoso:
— Estou com um peso no estômago... Estava comendo tão depressa que engoli um anel que estava no chão bem embaixo da janela da rainha...
O criado rapidamente agarrou o pato pelo pescoço, levou-o direto para a cozinha e disse ao cozinheiro:
— Olha só que pato gordo... Se eu fosse você, assava ele.
— É mesmo... — disse o cozinheiro, pesando o pato com a mão. — Já que ele se esforçou para ganhar tanto peso, é tempo agora de ir para o forno.
Cortou o pescoço do pato e depois, quando estava limpando a ave para assar, encontrou o anel da rainha no estômago dela. Com isso, não foi difícil o criado convencer o rei de sua inocência. Querendo reparar a injustiça que tinha feito, o rei lhe perguntou se havia alguma coisa que ele desejasse, e lhe ofereceu o cargo que ele quisesse escolher na corte.
O criado recusou todas as honras e disse que só queria um cavalo e um pouco de dinheiro, porque desejava ver o mundo e viajar um bocado. O rei logo lhe deu o que queria, e ele partiu.
Um dia, passando por um lago, notou que três peixes estavam presos nuns caniços e estavam ficando sem água. Dizem que os peixes são mudos, mas ele ouviu muito bem como eles gemiam se lamentando, diante da morte horrível que os esperava. Como era um bom sujeito, desceu do cavalo e pôs os três cativos novamente na água. Eles puseram as cabecinhas de fora, se abanando de alegria, e disseram:
— Vamos lembrar disso e recompensar você por nos ter salvo.
Ele continuou seu caminho e, pouco depois, ouviu uma voz que vinha da areia a seus pés. Prestou atenção e ouviu a queixa do rei das formigas:
— Se os humanos conseguissem manter seus animais desajeitados bem longe de nós, seria ótimo! Esse cavalo estúpido com esses cascos imensos e pesados está esmagando meu povo sem piedade...
Ouvindo isso, o criado saiu por um caminho lateral, e o rei das formigas gritou:
— Vamos lembrar disso e recompensar você...
O caminho levava a uma floresta. Lá, ele viu um casal de corvos empurrando os filhotes para fora do ninho:
— Fora, seus marmanjões! — gritavam. — Não podemos mais encher as barrigas de vocês. Já estão bem grandinhos para buscarem sua própria comida.
Os pobres filhotes batiam as asas desajeitados e não conseguiam levantar-se do chão.
— Ainda somos filhotes indefesos... — gritavam. — Como é que podemos arranjar comida se ainda nem sabemos voar? Vocês vão nos fazer morrer de fome!
Ouvindo isso, o bom jovem apeou, matou o cavalo com a espada e deu sua carne para alimentar os filhotes de corvo. Eles vieram saltitando, comeram até se fartar, e disseram:
— Vamos lembrar disso e recompensar você.
Daí para a frente, ele teve que usar as pernas. Depois de muito caminhar, chegou a uma grande cidade. As ruas estavam cheias de barulho e movimento. Um homem a cavalo anunciava que a filha do rei estava procurando marido, mas que quem quisesse pedir a mão dela precisava primeiro cumprir uma tarefa muito difícil e, se falhasse, perderia a vida. Muitos já tinham tentado, mas arriscaram a vida à toa. Quando o jovem viu a filha do rei, ficou tão estonteado com a beleza dela que se esqueceu do perigo, foi até o rei e se apresentou como pretendente.
Foi levado diretamente à beira do mar. Lá, diante de seus olhos, jogaram n'água um anel de ouro. Depois, o rei lhe disse que ele precisaria ir buscar o anel lá no fundo. E acrescentou:
— Se você sair da água sem ele, será jogado de volta, tantas vezes quantas necessário, até morrer nas ondas.
Os cortesãos todos ficaram com pena do jovem e lamentaram sua sorte, tão bonito. Depois, deixaram-no sozinho na praia.
Ele ficou um pouco ali parado, pensando no que ia fazer. De repente, viu três peixes nadando em sua direção — justamente os três cujas vidas ele tinha salvo. O do meio tinha uma concha na boca. Depositou-a na praia, junto aos pés do rapaz. Quando ele pegou a concha e abriu, viu que dentro estava o anel de ouro.
Todo contente, levou o anel até o rei, esperando receber a recompensa prometida. Mas a princesa era muito prosa e, quando viu que ele era inferior a ela em nascimento, desprezou-o e disse que ele ia precisar cumprir uma segunda tarefa. Desceu até o jardim e espalhou dez sacos cheios de farelo pelo meio da grama.
— Você vai ter que recolher tudo isso até amanhã, antes do sol nascer — disse ela —, sem faltar nem um grãozinho.
O rapaz sentou no jardim e começou a pensar em um jeito de cumprir a tarefa, mas não lhe ocorria nada. E lá ficou ele, tristíssimo, esperando que o levassem para a morte quando o dia nascesse. Mas quando os primeiros raios do sol chegaram ao jardim, ele viu que os dez sacos estavam de pé, cheios até a borda, sem faltar nem um grãozinho. O rei das formigas tinha vindo durante a noite, com milhares e milhares de formigas, e os bichinhos agradecidos tinham juntado todos os grãos de farelo dentro dos sacos outra vez.
A filha do rei veio em pessoa até o jardim e ficou espantadíssima de ver que a tarefa tinha sido cumprida. Mas seu coração prosa ainda se recusava a se render. Por isso, ela disse:
— Ele cumpriu as duas tarefas. Mas não será meu marido enquanto não me trouxer um fruto da árvore da vida.
O rapaz nem sabia onde ficava essa árvore da vida. Partiu procurando, resolvido a andar até onde as pernas o levassem, mas sem qualquer esperança de encontrar.
Uma noite, depois de procurar por três reinos, ele chegou a uma floresta. Sentou-se debaixo de uma árvore e estava quase adormecendo quando ouviu um barulho nos galhos e uma fruta de ouro caiu em suas mãos. Ao mesmo tempo, três corvos desceram voando da árvore, pousaram em seus joelhos e disseram:
— Nós somos os filhotes de corvo que você não deixou morrer de fome. Quando crescemos e ouvimos dizer que você estava procurando a fruta de ouro, voamos por cima do mar até o fim do mundo, onde cresce a árvore da vida, e pegamos a fruta.
Muito contente, o rapaz voltou para casa. Deu a fruta de ouro para a princesa e, depois disso, ela não tinha mais desculpa. Dividiram a maçã da vida e a comeram juntos. Aí o coração dela se encheu de amor por ele, e os dois viveram até a velhice numa felicidade perfeita.






12/06/2008

O Caçador





Era uma vez um homem quem era caçador, e seu nome era Caçador, também. Um dia, ele estava caçando quando encontrou um cervo. Quando mirou no animal, o cervo desapareceu. Ele mirou novamente e de repente o cervo se transformou num homem. Caçador ficou apavorado. O homem chegou perto dele e disse: "Por que você sempre caça cervos e pássaros? Você não sabe que eles têm um dono?" "Eu tenho que alimentar minha família, e esta é sua única forma", replicou Caçador.
"Qual o tamanho de sua família?" Perguntou o homem. "Dois meninos, uma menina, minha mulher e eu", respondeu Caçador, "e isso é o que nos mantêm vivos".
"Bem", disse o homem, "se eu lhe der dinheiro, você pára com isso?" "É claro", disse Caçador, "assim que eu tiver dinheiro, nunca mais caçarei". Neste momento, o homem pegou cinquenta dinares e deu-os a Caçador. "Antes que você vá, qual é seu nome?" o homem perguntou. "Sou Caçador, e você?" disse Caçador.
"Chamo-me Abdala", respondeu o homem, "e eu tenho uma família, como você".
Caçador chegou em casa, limpou sua arma e encostou-a na parede. Ele disse a sua mulher que nunca mais iria caçar e que Deus lhe tinha dado uma fonte de dinheiro. Porém, não muito depois, o dinheiro acabou, e Caçador pegou novamente sua arma e saiu para caçar. Quando ele chegou na mata, encontrou o cervo no mesmo lugar e na mesma hora. Ele mirou, e imediatamente o animal transformou-se em Abdala. "Não tínhamos um acordo?" perguntou Abdala. "Mas o dinheiro acabou", disse Caçador, "e nós quase morremos de fome". "Você vê aquela rocha?" disse Abdala, "Sempre que você precisar de mim, apenas vá até ela e diga 'Ó irmão Abdala', e virei imediatamente." Então ele deu ao caçador outros cinqüenta dinares.
Caçador voltou feliz para casa. Quando ele deu o dinheiro a sua esposa, ela exigiu saber onde ele o tinha conseguido. Ele disse que tinha encontrado um amigo que lhe prometera ajuda todas as vezes que necessitasse; Caçador somente tinha que ir à rocha e chamá-lo. "Você é um homem pão-duro!" disse a esposa de Caçador, "Você deveria convidá-lo a vir a nossa casa, nós poderíamos comer juntos e reforçar essa amizade." Então Caçador voltou a rocha e chamou Abdala.
Após se desculpar por não convidá-lo, Abdala insistiu para que primeiro a família de Caçador fosse a sua casa. Após combinarem para às oito da manhã, Caçador voltou para casa para contar à esposa as novidades.
Caçador e sua família compraram um presente e se dirigiram à rocha com as crianças. Quando eles lá chegaram, encontraram Abdala e sua família esperando.
Cada um da família Abdala deu boas-vindas a um membro da família Caçador e eles sacudiram as mãos. Num piscar de olhos, eles estavam num mundo diferente.
A família Abdala preparou um banquete e convidou todos os vizinhos que trouxeram presentes e dinheiro para Caçador e sua família. Após ficarem algum tempo, Caçador e sua família juntaram os presentes e o dinheiro e foram para casa. Eles tinham dinheiro suficiente para construir uma boa casa. Poucos meses depois, num feriado, Caçador foi visitar seu amigo. Quando Abdala apareceu, ele segurou a mão de Caçador e num piscar de olhos, eles estavam um lugar diferente.
Abdala deu mil dinares a Caçador.
Caçador pegou o dinheiro e foi para casa. Sua esposa disse que eles tinham o suficiente para casar seu filho mais velho. Eles encontraram uma boa garota para ele e marcaram a data do casamento. É claro que Caçador convidou Abdala e sua família. Abdala disse a Caçador que preparasse uma sala separado para ele e outras vinte pessoas e não deixar ninguém se aproximar deles. No dia do casamento, todos da cidade foram convidados e Caçador fez o que Abdala pediu.
As pessoas podiam ver Caçador entrar na sala separada com bandejas cheias e sair com elas vazias, sem no entanto poderem ver o que estava lá dentro.
Após todos irem embora, Abdala perguntou a Caçador se eles poderiam dar o presente da noiva, e cada um deu um linda jóia. Antes de Abdala ir, ele disse a Caçador que todos estavam convidados para sua casa a semana toda.
Uma dupla de ladrões da cidade sabiam onde a noiva tinha colocado sua caixa de jóias, então entraram na casa e levaram. Quando Caçador e sua família voltaram para casa, descobriram o roubo. Todos os Caçadores pediram ajuda a Abdala, que os confortou e lhes disse que abrissem novamente a caixa das jóias. Eles encontraram o dobro de jóias que havia inicialmente. Abdala virou-se para Caçador e disse: "Na próxima vez, meu irmão, quando você for nos visitar, nós protegeremos sua casa".

Conto palestiniano

11/06/2008

O leão e o rato


Saiu da toca aturdido
Daninho pequeno rato,
E foi cair insensato
Entre as garras de um leão.

Eis o monarca das feras
Lhe concedeu liberdade,
Ou por ter dele piedade.
Ou por não ter fome então.

Mas essa beneficência
Foi bem paga, e quem diria
Que o rei das feras teria
De um vil rato precisão!
Pois que uma vez indo entrando
Por uma selva frondosa,
Caiu em rede enganosa
Sem conhecer a traição.

Rugidos, esforços, tudo
Balda sem poder fugir-lhe:
Mas vem o rato acudir-lhe
E entra a roer-lhe a prisão.
Rompe com seus finos dentes
Primeira e segunda malha;
E tanto depois trabalha,
Que as mais também rotas são.

O seu benfeitor liberta,
Uma dívida pagando,
E assim à gente ensinando
De ser grata à obrigação.
Também mostra aos insofridos,
Que o trabalho com paciência
Faz mais que a força, a imprudência
Dos que em fúria sempre estão.
Curvo Semedo (Trad.)

10/06/2008

O leão, a lebre e o cágado

A lebre só tinha uma cabra. Sabendo que o leão possuía um bode, propôs a ele que lhe emprestasse o animal por uns tempos para que sua cabra tivesse filhotes. Quando isso ocorreu, a lebre foi devolver o bode ao leão. Entretanto, ele exigiu as crias, alegando que sem o seu bichinho a cabra jamais as teria tido. Como não conseguiram entrar em um acordo, procuraram a ajuda do tribunal dos anciãos. O tribunal deu ganho de causa ao leão, apresentando a mesma justificativa que o vencedor já havia utilizado anteriormente, ou seja: sem o bode a cabra não teria tido filhotes. Todavia, como faltava o cágado, também membro no tribunal dos anciãos, a lebre solicitou que se aguardasse a sua chegada, com o que todos concordaram, por questão de justiça. Após um dia inteiro de espera, chega o cágado. O leão, furioso, perguntou a razão para tanto atraso, ao que ele respondeu que sua demora devia-se ao fato de que ele estava assistindo ao parto de seu pai. Todos riram, perguntando onde se viu homem dar à luz. Então, o cágado perguntou se não disso, afinal, que se tratava. Imediatamente, os anciãos mudaram de posicionamento, dando ganho de causa à lebre, pois compreenderam que, já que é a mulher quem dá à luz, a ela os filhos pertencem.


Conto de Angola


09/06/2008

As flores de Ida





– MINHAS pobres flores estão todas mortas, disse a pequena Ida. Ontem elas estavam tão belas! E agora as folhas caem secas. Que terá acontecido? – perguntou ela ao estudante que estava em cima do canapé e de quem ela gostava muito.
Ele sabia contar as estórias mais lindas e apresentar as figuras mais divertidas, de corações com meninas que dançavam, flores e grandes castelos dos quais não se podia abrir as portas. Oh! era um estudante muito alegre.
– Por que minhas flores se apresentam hoje com um ar tão triste?, – perguntou-lhe uma segunda vez –, mostrando-lhe o ramo seco.
– Vou dizer-lhe o que elas têm – disse o estudante. – Suas flores estiveram esta noite no baile onde dançaram muito e eis por que suas pétalas estão tão caídas.
– Mas as flores não sabem dançar – disse a pequena Ida balançando a cabeça.
– Sim, é verdade – respondeu o estudante. – Mas assim que anoitece e que nós dormimos, elas pulam e ficam alegres, quase todas as noites.
– E as crianças não podem ir a esse baile? Elas se divertiriam bastante.
– Sim – respondeu o estudante. As crianças do jardim, as pequenas margaridas e os pequenos muguets..
– Onde dançam as belas flores? Onde fica o salão de baile? – perguntou a pequena Ida.
– Você nunca saiu da cidade, do lado do grande castelo onde o rei faz sua residência, no verão, e onde existe um magnífico jardim cheio de flores? Você pode ver os cisnes que nadam docemente para perto de você, quando lhes dá migalhas de pão. Pois acredite, é lá que acontecem os grandes bailes.
– Mas eu fui ontem com mamãe ao jardim – replicou a menina – não havia mais folhas nas árvores e nem sequer uma flor. Onde estão elas agora? Eu vi tantas durante o verão!
– Estão no interior do castelo – disse o estudante. – Assim que o rei e os cortesãos voltam para a cidade, as flores abandonam prontamente o jardim, entram no castelo e levam uma vida agradável. Oh! se você visse isso! As duas mais belas rosas se assentam no trono e elas são o rei e a rainha. As cristas-de-galo escarlates ficam colocadas de cada lado e se inclinam: são os oficiais da casa real. A seguir vêm as outras flores e começa o grande baile... As violetas azuis representam os oficiais de marinha; dançam com os jacintos, que eles chamam de senhoritas. As tulipas e os grandes lírios verme-lhos são as velhas damas encarregadas de velarem para que se dance convenientemente e que tudo se passe como se deve.
– Mas – pergunta a pequena Ida – não há ninguém que castigue as flores por dançarem no castelo do rei? Nós não poderíamos dançar sem um convite.
– Ninguém fica sabendo – disse o estudante. – É verda-de que algumas vezes, durante a noite, chega o velho intendente que faz a sua ronda. Leva um grande molho de chaves com ele, e quando as flores ouvem o seu tilintar, ficam quietinhas e se escondem atrás das cortinas para não serem vistas. “Sinto que aqui existem flores”, diz o velho intendente; mas ele não as pode ver.
– É soberbo – disse a pequena Ida batendo as mãos – será que eu podia ver as flores dançarem?
– Talvez – disse o estudante. – Pense nisso quando você voltar ao jardim do rei. Olhe pela janela e você as verá. Eu o fiz hoje mesmo: havia um longo- lírio amarelo que estava estendido no canapé. Era uma dama da corte.
– Mas as flores do jardim das Plantas também vão? Como podem caminhar tanto?
– Sim – disse o estudante – pois quando elas querem, podem voar. Você nunca viu as belas borboletas vermelhas, amarelas e brancas? E por acaso elas não se parecem com as flores? E porque elas nunca foram outra coisa. As flores deixaram seus caules e se elevaram nos ares; lá elas agitaram suas folhas como se fossem asinhas e começaram a voar. E, já que se portaram muito bem, obtiveram a permissão para voar o dia inteiro, não precisando mais ficar agarradas ao seu caule. Foi assim que as folhas se transformaram em asas verdadeiras. Mas você mesma as viu. Ademais, pode ser que as flores do jardim das Plantas nunca tenham ido ao jardim do rei. Eis por que eu quero contar-lhe algo que fará com que o professor de botânica, nosso vizinho, arregale os olhos. Quando você for ao jardim, anuncie a uma flor que haverá um grande baile no castelo: ela o repetirá a todas as outras e elas voarão. Já imaginou a cara que fará o professor, quando ele for visitar o jardim e não ver nem uma flor, sem poder compreender para onde elas foram?
– Mas as flores não sabem falar.
– É verdade – respondeu o estudante –, mas elas são muito fortes em astúcia. Você nunca viu as flores, quando faz um pouco de vento, se inclinarem e fazerem sinais com a cabeça? Você nunca reparou que todas as folhas verdes se agitam? Esses movimentos são tão inteligíveis para elas, quanto as palavras são para nos.
– Será que o professor compreende a linguagem delas? – perguntou Ida.
– Sim, certamente. Um dia em que ele estava em seu jardim, percebeu uma grande urtiga que com suas folhas fazia sinais a um lindo cravo vermelho. Ela dizia: “Como você é belo! Como eu o amo!”, mas o professor se aborreceu e bateu nas folhas que servem de dedos à urtiga. Feriu-se, e, depois desse fato, lembrando-se sempre do quanto lhe custara, nunca mais tocou numa urtiga.
– É engraçado – disse a pequena Ida, e começou a rir.
– “Como se pode meter tais coisas na cabeça de uma criança?” – disse um enfadonho conselheiro que entrara durante a conversação para fazer uma visita e que se sentara no canapé.
Mas tudo o que o estudante contava à pequena Ida tinha para ela um encanto extraordinário e ela reflectia muito. As flores tinham as pétalas caídas, porque estavam cansadas de ter dançado toda a noite. Sem dúvida estavam doentes. Então ela as levou juntamente com seus outros brinquedos, que se encontravam sobre uma pequena mesa cuja gaveta estava cheia de belas coisas.
Encontrou a sua boneca Sofia, deitada e adormecida; mas a menina lhe disse: “É preciso levantar-se, Sofia, e contentar-se por esta noite com a gaveta. As pobres flores estão doentes e precisam tomar o seu lugar. Isso talvez as cure.”
E ela levantou a boneca. Esta tinha o ar muito contrariado e não disse uma só palavra, tanto estava aborrecida por não poder ficar na sua caminha!
Ida colocou as flores no leito de Sofia, cobriu-as bem com o cobertor e disse-lhes que ficassem quietinhas; ela iria fazer-lhes um chá para que elas pudessem tornar-se alegres novamente e se levantarem no dia seguinte cedo.
A seguir fechou as cortinas em volta do pequeno leito, a fim de que o sol não batesse em seus olhos.
Durante toda a noite ela não pôde deixar de sonhar com o que lhe contara o estudante, e, no momento de deitar-se, dirigiu-se para as cortinas das janelas, onde se encontravam as flores de sua mãe, jacintos e tulipas, e lhes disse baixinho: “Eu sei que vocês irão ao baile esta noite”.
As flores fizeram de conta que não compreendiam nada e não mexeram nem uma folha, o que não impediu Ida de saber o que queria.
Quando foi se deitar, pensou no prazer que seria ver as flores dançarem no castelo do rei. “Minhas flores teriam ido?” E ela adormeceu.
Acordou durante a noite: sonhara com as flores, com o estudante e o conselheiro. A vela ardia sobre a mesa, o pai e a mãe dormiam.
“Desejaria saber se minhas flores ainda estão no leito de Sofia! Sim, desejaria saber”.
Levantou-se e lançou um olhar pela porta entreaberta.
Ouviu e pareceu-lhe que o piano tocava no salão, mas tão suavemente que ela jamais ouvira coisa igual.
“São as flores que dançam. Gostaria tanto de vê-las!”
Mas ela não ousou levantar-se de fato, com medo de acordar seus pais.
“Oh! Se elas quisessem entrar aqui!”, pensou ela.
Mas as flores não apareceram e a musica continuou a tocar baixinho. Finalmente ela não pôde se conter; era bonito demais. Deixou seu pequeno leito e foi na ponta dos pés até a porta, a fim de olhar para o salão.
Oh! Foi maravilhoso o que viu!
Não havia iluminação, e verdade; no entanto, estava bastante claro. Os raios de lua caíam pela janela até o solo; podia-se enxergar como se fosse pleno dia.
Todos os jacintos e as tulipas estavam no solo; nem uma ficara na janela; todos os vasos estavam vazios.
No assoalho, todas as flores dançavam alegremente, umas no meio das outras, fazendo toda a espécie de figurações e se segurando nas suas longas folhas verdes, a fim de fazerem uma grande roda. Ao piano estava sentado um grande lírio amarelo, com o qual a pequena Ida travara conhecimento no verão, pois se lembrava muito bem do que o estudante dissera: “Veja como ele se parece com D. Carolina”.
Todo mundo caçoara dele, no entanto, Ida pensou reconhecer que a grande flor amarela se parecia de maneira extraordinária com essa senhorita.
Ela tocava piano da mesma maneira; balançava o corpo para lá e para cá, acompanhando o compasso com a cabeça. Ninguém reparara na pequena Ida. A seguir ela viu um grande crisântemo azul que saltou para o meio da mesa onde estavam seus brinquedos e que foi abrir a cortina do leito da boneca.
Era ali que dormiam as flores doentes; elas se levantaram e disseram às outras, por meio de um sinal de cabeça, que também tinham vontade de dançar. O velho bondoso do frasco de perfume, que perdera seu lábio inferior, levantou-se e cumprimentou as belas flores.
Elas readquiriram a sua bela aparência, misturaram-se às outras e se mostraram as mais alegres.
De repente, algo pulou da mesa; Ida olhou: era a vara que se lançava ao solo; também queria tomar parte na dança das flores. Sobre ela estava colocada uma pequena boneca de cera, que usava um grande chapéu exactamente igual ao do conselheiro.
A vara pulou no meio das flores e começou a marcar o tempo de uma mazurca; ninguém o fazia melhor do que ela; as outras flores eram muito leves e nunca fariam o mesmo ruído com os pés.
Subitamente, a boneca que estava agarrada à vara cresceu, voltou-se para as outras flores e gritou-lhes:
“Como podem meter tais coisas na cabeça de uma criança? E. uma fantasia idiota!” E a boneca de cera se parecia extraordinariamente com o conselheiro com o seu chapéu grande; tinha a mesma cor amarelada e o mesmo ar resmunguento.
Mas suas longas pernas sofreram com isso: as flores bateram nelas rudemente; ela diminuiu de repente e transformou-se numa bonequinha outra vez. Como tudo aquilo era divertido de ver!
A pequena Ida não pôde deixar de rir. A vara continuava a dançar e o conselheiro era obrigado a dançar com ela, apesar de toda a sua resistência, tanto quando cresceu, como quando voltou às suas proporções de pequena boneca com seu grande chapéu negro. Finalmente as outras flores intercederam por ela, sobretudo aquelas que haviam saído do leito e boneca; a vara deixou-se tocar por sua insistência e acabou se aquietando.
Depois alguém bateu violentamente na gaveta onde estavam guardados os outros brinquedos de Ida. O homem do frasco de perfume correu até à beira da mesa, deitou-se sobre o ventre e conseguiu abrir um pouco a gaveta. Imediatamente Sofia se levantou e olhou m volta espantada.
“Então há um baile aqui!” disse ela; “por que ninguém me avisou?”
– Quer dançar comigo? – perguntou homem dos perfumes.
“Por acaso, aí está um bailarino”? disse ela voltando-lhe as costas.
A seguir sentou-se sobre a gaveta. Naturalmente algumas das flores viriam convidá-la. Mas nenhuma se apresentou. O homem começou a dançar sozinho, saindo-se muito bem.
Como nenhuma das flores parecia prestar atenção a Sofia, ela pulou com grande ruído da gaveta para o chão. Todas as flores correram para ela, perguntando-lhe se estava machucada e mostrando-se, muito amáveis para com ela, sobretudo aquelas que haviam dormido em sua cama. Não se machucara e as flores de Ida lhe agradeceram por sua boa cama, levaram-na para o meio da sala, onde brilhava a lua, e começaram a dançar com ela. Todas as outras flores faziam círculos para vê-las. Sofia, alegre, disse-lhes que agora elas podiam ficar com a sua cama, pois ela não se importava de dormir dentro da gaveta.
As flores lhe responderam: “Agradecemos cordialmente; não poderemos viver muito tempo. Amanhã estaremos mortas. Mas diga à pequena Ida que nos enterre lá no canto do jardim onde foi enterrado o passarinho das Canárias. Nós ressuscitaremos no verão e nos tornaremos ainda mais belas”.
“Não, não quero que vocês morram” – disse Sofia – e beijou as flores.
Mas no mesmo instante a porta do salão se abriu e uma multidão de flores magníficas entrou dançando.
Ida não podia entender de onde elas vinham. Sem dúvida, eram todas flores do jardim do rei! Havia rosas esplêndidas, que usavam coroas de ouro: eram o rei e a rainha. A seguir apareceram os mais encantadores girassóis, os cravos mais maravilhosos, que saudaram de todos os lados.
Estavam acompanhados de uma orquestra; os jacintos tocavam como se possuíssem campainhas de verdade.
Era uma música inesquecível; todas as outras flores se reuniram à nova banda, e as violetas e as papoulas dançaram assim como as minúsculas margaridas.
E se abraçavam umas às outras. Era um espectáculo delicioso.
A seguir as flores se deram uma boa noite e a pequena Ida correu para a cama, onde ficou sonhando com tudo o que vira. No dia seguinte, assim que se levantou, correu para a mesinha a fim de ver se as flores ainda estavam lá. Abriu as cortinas do pequeno leito; as flores estavam todas, mas ainda mais murchas do que na véspera. Sofia dormia na gaveta e tinha o ar de sonhar profundamente.
“Lembra-se do recado que tem para mim”? – perguntou-lhe a pequena Ida.
Mas Sofia não disse uma só palavra.
“Você não é bondosa” – disse Ida – “no entanto, todas elas dançaram com você”.
A seguir apanhou uma caixa de papel que continha desenhos de belos pássaros e colocou dentro dela as flores mortas.
“Aqui está o seu caixão” – disse ela. “E mais tarde, quando meus priminhos vierem me ver, poderão me ajudar a enterrá-las no jardim, para que depois ressuscitem e se tornem ainda mais lindas”.
Os primos da pequena Ida eram dois meninos encantadores; chamavam-se Jonas e Adolphe. Seu pai lhes dera dois talabartes e eles os levaram, a fim de mostrá-los a Ida. A menina contou-lhes a triste estória das flores e pediu-lhes que a ajudassem a enterrá-las.
Os dois meninos caminharam na frente com seus dois talabartes nas costas e a pequena Ida os seguiu com as suas flores mortas dentro do seu pequeno caixão; abriram um buraco no jardim; depois de ter dado um último beijo nas flores, Ida colocou o caixãozinho no mesmo. Adolphe e Jonas deram dois golpes de flecha no enterro; pois eles não possuíam nem fuzil nem canhão.


Hans Christian Andersen



Lenda de Geraldo, o Sem Pavor

Esta lenda passou-se no ano de 1166, no tempo em que Évora era ainda a Yeborath árabe, para grande desgosto de D. Afonso Henriques que a desejava como ponto estratégico da reconquista de Portugal aos Mouros. Geraldo Geraldes, um homem de origem nobre que vivia à margem da lei, era chefe de um bando de proscritos que habitavam num pequeno castelo nos arredores de Yeborath. Conhecido também pelo Sem Pavor, Geraldo Geraldes decidiu conquistar Évora para resgatar a sua honra e o perdão para os seus homens. Disfarçado de trovador rondou a cidade e traçou a sua estratégia de ataque à torre principal do castelo que era vigiada por um velho mouro e pela sua filha. Numa noite, o Sem Pavor subiu sozinho à torre e matou os dois mouros, apoderando-se em silêncio da chave das portas da cidade. Mobilizou os seus homens e atacou a cidade adormecida numa noite sem lua que, surpreendida, sucumbiu ao poder cristão. No dia seguinte, D. Afonso Henriques recebeu surpreendido a grande novidade e tão feliz ficou que devolveu a Geraldo Geraldes as chaves da cidade, bem como a espada que ganhara, nomeando-o alcaide perpétuo de Évora. Ainda hoje, a cidade ostenta no brasão do claustro da Sé, a figura heróica de Geraldo Geraldes e as duas cabeças dos mouros decepadas, para além de lhe dedicar a praça mais emblemática de Évora.

Lenda de Évora




Lenda de Santa Maria de Aguiar

Reza a história que a Santa teve papel preponderante na vitória lusa ao receber no manto as balas disparadas pelos espanhóis.

A Santa começou a ser venerada há vários séculos na sequência de preciosa ajuda que teria dado às tropas portuguesas nas batalhas que travaram com os castelhanos. Assim, em 1664, nos campos que rodeiam o convento de Santa Maria de Aguiar travou-se uma grande batalha onde os espanhóis apesar de em maior número foram copiosamente derrotados e tantos os seus mortos que se passou a chamar àquela batalha, a “Batalha da Salgadela”. Diz a lenda que a Santa teve papel preponderante na vitória lusa ao receber no manto as balas disparadas pelos espanhóis, evitando assim que os portugueses fossem atingidos. «Mira que anda Santa Capeluda a aparar las balas com um azafáte» teria sido a expressão usada pelos castelhanos durante a batalha.



07/06/2008

O touro

Um touro fugido vinha devastando os rebanhos. Os pastores não tinham mais coragem de levar os animais para o pasto por causa daquele enorme animal selvagem que sempre aparecia de repente, atacando de cabeça baixa e dando chifradas em tudo o que via pela frente.
Os pastores sabiam, no entanto, que o touro odiava a cor vermelha, e um dia resolveram preparar-lhe uma armadilha.
Envolveram com um pano vermelho o tronco de um grossa árvore e em seguida esconderam-se.
Logo o touro apareceu, soprando pelas ventas.
Ao ver o tronco vermelho, baixou a cabeça para atacar e, com um grande estrondo, enterrou os chifres na árvore, tornando-se prisioneiro.