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31/08/2010

A rã no poço

Uma rã morava dentro de um poço abandonado. Um dia apareceu perto de sua casa uma grande tartaruga do mar.
Ela começou então a contar vantagens para a tartaruga, dizendo que era muito bom morar dentro do poço.
“Ah, como me sinto bem! É o melhor lugar do mundo. Quando tenho vontade, saio pra caminhar um pouco. Se estou cansada, descanso, apoiada nos tijolos fresquinhos que revestem as paredes de meu poço. Ah, no meu poço tem também muitas moscas. Nem preciso sair, me cansando, pra pegá-las. Estendo a língua e schwupt, recolho uma em pleno vôo.
Às vezes, bóio na água. Delicioso! Fico muito tempo boiando, pensando na vida, de papo pro ar. Outras vezes, nado de um lado pro outro, espirro água, faço uma confusão. Ou de noite, no meu canto, contemplo a nesga do céu estrelado, que ora se reflete nas águas, ora parece estar ao meu alcance. Ou brinco no barro. Já brincou no barro? Maravilhoso!
Olha só essas caranguejos e esses girinos passeando em volta. Eles têm inveja de mim. Porque eu não posso me comparar com eles. Eu sou a dona do meu poço e do meu nariz. Eu tenho uma liberdade imensa. Se você quiser, pode me visitar de vez em quando.
Tanto falou a rã, que a tartaruga do mar ficou curiosa e quis entrar no poço. Mas não conseguiu passar pela entrada, muito estreita para ela. Penou para livrar o casco do limo e das ervas. E disse:
Você, rã, conhece o oceano? Ele ocupa boa parte do mundo, criando imensidões por trás de imensidões de água. Dentro dele existem poços de muitos quilômetros de profundidade, montanhas, florestas e milhões de animais marinhos.
Quando na terra chove semparar, enchendo rios, transbordando lagos, provocando enchentes, toda essa água vai para o oceano e ninguém nota a elevação do nível das águas. E se há seca, os rios secam, os lagos desaparecem, os lençóis d’água dentro da terra diminuem e ninguém nota se o nível das águas baixou alguns centímetros.
E quando estou em casa, nadando no meio das ondas, algumas de muitos metros de altura, ou passeando nas profundezas onde ninguém jamais chegou, percebo o quanto sou feliz de viver nesse imenso oceano.
Nesse momento, a rã, um pouco confusa, despediu-se, porque enão tinha nada para responder.



30/08/2010

Lenda do Castelo de Bragança ou da Torre da Princesa


Quando a cidade de Bragança era ainda a aldeia da Benquerença, lá vivia uma princesa bela e órfã com o seu tio, o senhor do Castelo. A princesa tinha-se apaixonado por um jovem nobre e valoroso, apesar de pobre. Este, que também a amava, partira para procurar fortuna, prometendo só voltar quando se achasse digno de a pedir em casamento. Durante muitos anos a princesa recusou todas as propostas de casamento até que o tio resolveu forçá-la a casar-se com um nobre cavaleiro seu amigo. Quando a jovem foi apresentada ao cavaleiro decidiu contar-lhe que o seu coração era do homem por quem esperava há 10 anos. Este facto despertou a cólera do tio, que resolveu vingar-se. Nessa noite, o senhor do Castelo disfarçou-se de fantasma e, entrando por uma das duas portas dos aposentos da princesa, disse-lhe que esta seria condenada para sempre se não acedesse a casar com o cavaleiro. Quando estava a ponto de a obrigar a jurar por Cristo, a outra porta abriu-se e, apesar de ser de noite, entrou um raio de sol que desmascarou o falso fantasma. A partir de então a princesa nunca mais foi obrigada a quebrar a sua promessa e passou a viver recolhida numa torre que ficou para sempre lembrada como a Torre da Princesa. As duas portas ficaram a ser conhecidas pela Porta da Traição e a Porta do Sol.

Princesa Carlota

HAVIA UM REI que era solteiro, e os conselheiros instavan com ele, que se casasse, para deixar sucessores ao trono. O rei era amigo de caçar, e sempre que saía passava defronte de uma cabana, onde morava um velho pastor e sua formosa filha, chamada Carlota. Um dia disse o rei ao pastor:
__ Os meus vassalos querem que eu case, e tu és a única mulher de quem gosto; queres casar comigo?
__ Isso não pode ser, senhor; porque eu apenas sou uma pobre pastora.
__ É o mesmo, caso contigo; mas com uma condição, de nunca me contrariares nos meus desejos, por menos razoáveis que sejam.
__ Estou por tudo que Vossa Majestade me ordenar.
Realizou-se o casamento. O rei mandou para a cabana do pobre velho fatos de rainha, que ela vestiu, largando os seus trapinhos. Então, disse-lhe o velho pai:
__ Guarda esses trapinhos para quando te sejam precisos.
A filha guardou os trapos em uma caixa, que deixou em poder do pai, e partiu para o palácio.
Ao fim de nove meses deu à luz uma menina, tão formosa como sua mãe. Passados três dias entrou o rei no quarto da esposa e disse-lhe:
__ Trago-te uma triste notícia: os meus vassalos querem que eu mande matar a nossa filha, porque não se conformam ser um dia governados pela filha de uma pastora.
__ Vossa Majestade manda, e cumpre-me obedecer, respondeu a rainha, quase a saltarem-lhe as lágrimas dos olhos.
O rei recebeu a menina e entregou-a a um conselheiro. Tempos depois teve a rainha um filho, que o rei mandou igualmente matar sob o mesmo pretexto.
Alguns anos depois entrou o rei muito apoquentado no quarto da esposa e disse-lhe:
__ Vou dar-te uma notícia, de todas a mais triste, os meus vassalos estão indignados comigo; não querem que estejas em lugar de rainha, e dizem-me que te expulse do palácio. Por isso, querida Carlota, prepara-te, que tens de voltar para a cabana de teu pai.
__ Não se apoquente, Real Senhor; estou pronta a obedecer; parto já.
__ Tens que despir os fatos de rainha.
__ É o que já vou fazer.
E a rainha despiu todo o fato ficando em camisa.
__ Não dispo a camisa, porque encobre o ventre onde estiveram guardados os nossos filhos. (Disse a rainha).
O rei nada teve que objectar. Estava o velho pastor à porta da sua choça, quando viu aproximar-se a filha. Recolheu-lhe logo para dentro, tirou da caixa os antigos trapinhos e levou-os à filha para que os vestisse. Ela vestiu-os sem proferir um queixume. Continuou na antiga vida de pastora. Para ela a sua vida de rainha fora apenas um sonho; lembrava-se muito dos seus filhos e para estes eram todas as suas saudades. Passados anos voltou o rei a casa de Carlota, e disse-lhe que os vassalos instavam com ele, que casasse; e por isso tinha resolvido casar com uma formosa princesa de quinze anos.
__ Efectivamente, respondeu a pastora, um rei bom como Vossa Majestade merece ter uma descendência que lhe perpetue o nome.
__ Venho pedir-te o favor de voltares ao palácio para dirigires as criadas de cozinha. Bem sabes que a princesa há-de ser acompanhada por fidalgos, e vem igualmente com seu irmão mais novo; quero, portanto, servi-los com lauta mesa.
__ Estou pronta, logo que Vossa Majestade ordenar.
__ Chegam amanhã; deves ir hoje para o palácio.
Carlota foi, vestindo um pobre vestido de chita com que costumava ir à igreja. No dia seguinte chegou a noiva e o irmão, com outros fidalgos, e houve à sua chegada grandes festejos. Carlota estava governando na cozinha e aí a foi o rei encontrar.
__ Não vens ver a minha noiva?
__ Estou esperando quem me substitua aqui, enquanto vou e volto.
Chegou então uma cozinheira, e Carlota foi cumprimentar a noiva.
__ É muito linda! disse Carlota, beijando a mão da noiva: Deus conserve muitos anos a sua preciosa saúde. É digna do rei vai receber por seu marido.
A menina ficou estupefacta. Então o rei ajoelhou-se em frente de Carlota, e disse:
__ Olha que são os nosso filhos. Quis experimentar o teu coração: és uma pastora que vale mil rainhas.
Houve então mil abraços e beijos de parte a parte. O rei mandara os filhos para casa de uma tia, que os educava como príncipes, que eram, em vez de os mandar matar como tinha firmado à rainha.

Conto Tradicional Português



Vassilissa, a formosa



Há muito, muito tempo, num certo reino distante, vivia um rico mercador, com sua mulher e uma única filha. A menina chamava-se Vassilissa, e era bonita e meiga como uma flor. Mas um dia quando Vassilissa tinha apenas 8 anos, sua mãe ficou muito doente, e, sentindo que ia morrer, chamou a filha, tirou de sob as cobertas uma pequena boneca e lhe entregou dizendo:
- Escuta, Vassilissa, minha filha, as minhas últimas palavras. Ao morrer deixo-te a minha bênção e esta bonequinha, que deverás trazer sempre contigo. Não a mostres a ninguém, e quando te acontecer algum desgosto, dá-lhe de comer e beber, e pede-lhe conselhos. Depois de alimentada, ela te dirá o que fazer para te ajudar na desgraça.
Algum tempo depois da morte da mãe, seu pai casou-se de novo, com uma viúva que tinha duas filhas, pouco mais velhas do que Vassilissa, pensando que isso seria bom para sua filhinha órfã de mãe. Mas enganou-se, porque a madrasta não gostava da enteada. Ela e as filhas invejavam a sua beleza, e atormentavam-na com toda sorte de trabalhos e encargos pesados, para que ela ficasse magra e feia.
Vassilissa suportava tudo pacientemente e, apesar da vida dura que levava, ficava cada vez mais bonita, passou a ser chamada de Vassilissa, a formosa, enquanto a madrasta e sua filhas iam ficando cada vez mais feias e secas, de tanta ruindade, mesmo passando o tempo todo comendo, sem fazer nada.
Como isso era possível? É que a bonequinha que a mãe lhe dera ajudava a menina, que muitas vezes deixava de comer só para com sua porção alimentar a boneca, sempre à noite, depois que todos se deitavam. Ela lhe dava de comer dizendo: Come, boneca-beleza, e ouve minha tristeza! E lhe contava os seus problemas. A boneca escutava, dava-lhe conselhos e a mandava dormir. E pela manhã todo o trabalho já aparecia feito, enquanto a menina descansava na sombra e colhia flores. Assim ela ia vivendo.
Passaram alguns anos, e as meninas chegaram à idade de ficar noivas. Mas todos os pretendentes que apareciam, e não eram poucos, só tinham olhos para Vassilissa, cada vez mais formosa. E nem olhavam para as filhas da madrasta. Esta ficava furiosa, e só respondia a todos os pretendentes que não concederia a mão da mais nova antes que as duas mais velhas se casassem. E depois de despachar o pretendente, ela descontava sua raiva maltratando Vassilissa. Um dia, o pai de Vassilissa, teve de partir para uma longa viagem de negócios, e foi então que a madrasta se aproveitou da sua ausência para se vingar da enteada. Mudou-se logo para outra casa, que ficava à beira da floresta, onde, todos sabiam, vivia a malvada bruxa Baba-Iága, que não deixava ninguém se aproximar dela. Quem se aproximasse, ela devorava como se fosse um frango. Então a madrasta começou a mandar Vassilissa para a floresta toda hora, buscar uma coisa ou outra, esperando que a menina caísse nas garras da bruxa perversa.
Mas Vassilissa voltava sempre, incólume, porque a bonequinha lhe indicava o caminho certo, e não deixava aproximar-se da cabana da Baba-Iága.
Não sabendo mais o que inventar, certo dia, ao anoitecer, a madrasta apagou as velas da casa, só para mandar Vassilissa buscar fogo. E quem tinha fogo sempre, todos sabiam, era só a Baba-Iága.
- Vai procurar a Baba-Iága e não te atrevas a voltar sem o fogo!
- Eu vou e vou levar o meu jantar. Pegou a trouxinha com sua escassa comida, e logo as três a empurraram para fora da casa, para o escuro da noite.
Assim que se afastou da casa, a menina sentou-se num tronco caído e começou a alimentar a sua bonequinha.
Come, boneca-beleza, e ouve a minha tristeza! Estão me mandando para a Baba-Iága, buscar fogo! A bruxa vai me devorar!
A bonequinha comeu e seus olhos brilharam:
- Não tenhas medo, Vassilissa. Vai para onde te mandaram, mas não te separes de mim. Contigo, nenhum mal acontecerá.
Vassilissa pôs a bonequinha no bolso do avental, fez o sinal da cruz e entrou na floresta, trémula. Andou um pouco, e, de repente, viu, passando a galope na sua frente, um cavaleiro todo branco, vestido de branco, sobre um corcel branco. E começou a amanhecer.
Andou mais um pouco, e viu outro cavaleiro, todo vermelho, vestido de vermelho, sobre um corcel vermelho. E começou a nascer o sol.
Vassilissa, andou e andou, e, só ao entardecer do dia seguinte, chegou à clareira onde ficava a cabana da Baba-Iága. A cerca em volta da casa era toda feita de ossos humanos, encabeçados por crânios espetados neles, com olhos humanos nas órbitas. O trinco do portão era uma boca humana cheia de dentes aguçados. E a casinha era construída sobre grandes pés de galinha.
Vassilissa parou, petrificada de susto. Nisso pasou galopando outro cavaleiro, todo negro, vestido de negro, sobre um corcel negro. E fez-se noite.
Mas a escuridão durou pouco, pois os olhos de todas as caveiras da cerca se acenderam como brasas vivas, e ficou claro como o dia.
Vassilissa, morta de medo, não sabia o que fazer e ficou parada no lugar, como enraizada. Nisso, ouviu, vindo da floresta, um grande barulho. Era a Baba-Iága, acocorada no seu pilão, apagando os rastros com a vassoura, desgrenhada e feia de meter medo!
Unf, unf!!! Sinto cheiro de carne humana! Quem está aqui?
Vassilissa, trémula, aproximou-se da bruxa e disse:
Sou eu vovozinha! Sou Vassilissa, a madrasta e suas filhas me mandaram aqui para te pedir fogo.
Está bem, disse a bruxa. Eu as conheço. Mas tu, Vassilissa, antes terás de ficar morando e trabalhando um tempo aqui comigo, então te darei fogo. Senão eu te devoro!
Durante o dia inteiro, a bruxa deu tarefas, muito pesadas, para a menina cumprir, e para servi-la desde a manhã até a noite. Era varrer e lavar, cozinhar e cuidar da horta, limpar o quintal, lavar e passar roupa, trazer bebidas do porão, tudo isso Vassilissa tinha que fazer… E só conseguia dar conta do serviço graças à ajuda da bonequinha, que trazia sempre no bolso do avental e não mostrava à bruxa.
No dia seguinte, a bruxa acordou de madrugada, olhou em volta, viu que todo o serviço estava feito, e ficou aborrecida por não ter do que reclamar. Espiou pela janela, lá fora passou galopando o cavaleiro branco, e a manhã clareou. A bruxa saiu da casa , assobiou, e o seu pilão apresentou-se à sua frente, com a mão e a vassoura. Passou galopando o cavaleiro vermelho, e surgiu o sol. A Baba-Iága embarcou no pilão e saiu voando baixo, deixando Vassilissa sozinha em casa. A bonequinha fez todo o serviço pesado, e só deixou a menina arrumar a mesa e aguardar a bruxa.
Quando saiu de casa a bruxa mandou que a menina separasse os grãos bons dos carunchados. Tudo deveria estar pronto quando ela voltasse para casa, caso contrário ela comeria.
A menina pediu ajuda à sua boneca e esta lhe disse que não tivesse medo, que comesse, fizesse suas orações e dormisse, pois a noite é boa conselheira.
Na manhã seguinte quando acordou, a menina olhou pela janela e viu que os olhos das caveiras já estavam se fechando. O cavaleiro branco passou e nasceu o dia. A bruxa saiu e a menina ficou sozinha em casa admirando seus móveis e objectos. Quando começou a pensar na tarefa dos grãos a sua boneca já tinha resolvido tudo. Quando a bruxa chegou e viu tudo resolvido, ficou furiosa pois não sabia como colocar defeito. A bruxa então, gritou: Meus fiéis servos, moam os grãos para mim. Surgiram três pares de mãos de esqueletos e levaram os grãos.
A bruxa deu a ordem para o dia seguinte, dizendo que a menina deveria repetir a tarefa do dia anterior e , além disso, separar as sementes de papoula. Quando retornou à noite ficou muito brava, mas chamou as mãos dos esqueletos e mandou que extraíssem o óleo das sementes de papoula.
Enquanto a Baba-Iága jantava, Vassilissa ficou por perto , silenciosa. A bruxa perguntou: por que você está olhando sem dizer nada? Você é muda?
A menina respondeu: se pudesse, gostaria de lhe fazer umas perguntas.
Pergunte, disse a bruxa, mas lembre-se, nem todas as perguntas são boas. Saber demais envelhece.!
Vassilissa então perguntou: gostaria de saber quem é o homem que vi no caminho todo de branco. Quem é ele?
Esse é o meu dia luminoso, disse a bruxa.
Mas passou também um homem todo vestido de vermelho.
É o meu sol vermelho, disse a bruxa.
Mas quando cheguei no portão o homem que passou estava todo de negro.
Essa é a minha noite, o escuro!
A menina pensou nos três pares de mãos de esqueletos, mas não fez mais perguntas, ficou quieta.
Baba-Iága disse: por que não faz mais perguntas?
A menina respondeu que essas eram suficientes, acrescentando: você mesma disse, vovó, que perguntar demais envelhece.
A bruxa replicou: Você fez bem em perguntar só a respeito do que viu lá fora e não do que viu aqui dentro de casa. Não gosto quando a sujeira é levada para fora. Mas agora eu quero perguntar uma coisa para você: Como conseguiu fazer todas as tarefas que lhe dei?
A menina respondeu: A benção de minha mãe me ajudou, respondeu a menina. (não falou da boneca).
Ah!!! Então foi isso? Dê o fora daqui , filha abençoada, eu não preciso de nenhuma benção em minha casa.
Assim, Baba-Iága pôs a menina para fora de sua casa, empurrando-a pelo portão. Mas, tirou da cerca, uma das caveiras com seus olhos flamejantes, colocou-a num pau e deu para a menina dizendo: Aqui está o fogo para suas irmãs e sua madrasta, pegue-o e leve-o para casa.
A menina saiu correndo da casa da bruxa e entrou na floresta somente com a luz da caveira, mas esta extingüiu-se assim que o dia clareou. Ela só chegou em casa na noite seguinte depois de muito caminhar, mas quando chegou perto do portão, pensou em jogar fora a caveira, mas uma voz lhe falou: Não faça isso, leve-me até sua madrasta.
Assim fez a menina. Quando entrou com o fogo que se acendera sozinho, os olhos da caveira se fixaram na madrasta e em sua filhas queimando suas almas e perseguindo-as aonde fossem se esconder. Ao amanhecer as três tinham virado cinzas. Só Vassilissa escapou.
A menina enterrou a caveira, fechou a casa e foi para a cidade.
Caminhou bastante e chegando à feira, encontrou uma boa velhinha que estava fiando tecido para a roupa do rei. Ela pediu que lhe ensinasse e a boa velhinha assim o fez. A cada dia a menina fiava melhor e um dia o rei foi até o mercado saber quem estava tecendo aqueles lindos tecidos e conheceu-a.
O rei pediu que ela fosse morar no seu castelo, pois logo apaixonou-se pela bela moça. Ela aceitou, mas com a condição de levar a pobre velha. O rei aceitou.
Os dois casaram e estavam muito felizes, quando o pai da Vassilissa voltou da viagem e estava procurando-a por toda parte até que soube onde ela estava e foi visitá-la. O rei convidou-o a morar com eles e assim, o pai voltou a viver com a filha verdadeira e tão querida!

Conto russo

O Leão e o Mosquito

´

Um leão ficou com raiva de um mosquito que não parava de zumbir ao redor de sua cabeça, mas o mosquito não deu a mínima.
-Você está achando que vou ficar com medo de você só porque você pensa que é rei? – disse ele altivo, e em seguida voou para o leão e deu uma picada ardida no seu focinho.
Indignado, o leão deu uma patada no mosquito, mas a única coisa que conseguiu foi arranhar-se com as próprias garras. O mosquito continuou picando o leão, que começou a urrar como um louco. No fim, exausto, enfurecido e coberto de feridas provocadas por seus próprios dentes e garras, o leão se rendeu. O mosquito foi embora zumbindo para contar a todo mundo que tinha vencido o leão, mas entrou directo numa teia de aranha. Ali o vencedor do rei dos animais encontrou seu triste fim, comido por uma aranha minúscula.


Moral: muitas vezes o menor de nossos inimigos é o mais temível.


Fábula de Esopo


29/08/2010

A ovelha generosa


Era uma ovelha muito generosa. Sabem o que é ser generoso? É gostar de dar, dar por prazer.
Pois esta ovelha era mesmo muito generosa. Dava lã.
Dava lã, quando lhe pediam.
Vinha uma velhinha e pedia-lhe um xailinho de lã para o Inverno. A ovelha dava.
Vinha uma menina e pedia-lhe um carapuço de lã para ir para à escola. A ovelha dava.
Vinha um rapaz e pedia-lhe um cachecol de lã para ir à bola. A ovelha dava.
Vinha uma senhora e pedia-lhe umas meias de lã para trazer por casa. A ovelha dava.
- Ó ovelha, não achas de mais? Xailes, carapuços, cachecóis, meias... É só dar, dar...
- Não se ralem - respondia a ovelha. - Vocês não aprenderam na escola que a vaca dá leite e a ovelha dá lã? É o que eu estou a fazer.
Apareceu a Dona Carlota, muito afadigada:
- Eu só queria um novelozinho para fazer um saco para a botija. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha a dar nunca se cansava.
Veio a Dona Firmina, muito preocupada:
- Eu só queria um novelozinho para uma pega para a cozinha. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha a dar nunca se cansa.
Veio a Dona Alda, muito atarantada:
- Eu só queria um novelozinho para acabar uma manta. Ainda chega?
Pois claro que chegava. A ovelha a dar nunca se cansa.
E eram coletes, camisolas, golas, golinhas, luvas... que a gente até estranhava que a lã se lhe não acabasse. A ovelha sorria e tranquilizava:
- Não acaba. Nunca acaba. Conhecem aquele ditado: ""Quem dá por bem, muito lhe cresce também""? Pois é o que eu faço.
E a ovelha generosa lá foi atender uma avó, que precisava de um novelo para um casaquinho de bebé, o seu primeiro neto que estava para nascer...

28/08/2010

Lenda do Bálsamo na Mão

Na freguesia de Chapim, concelho de Macedo de Cavaleiros, existia outrora um rei mouro que exercia o seu domínio sobre aquela região. Este rei tinha muito mau feitio e aproveitava todas as oportunidades para humilhar os seus súbditos. Um dia, decidiu instituir um novo tributo, diferente de todos aqueles que tinha mandado executar antes: todos os homens que se casassem eram obrigados a entregar-lhe a noiva logo após a cerimónia do casamento. Este tributo tornou-se um hábito que gerou ódios e vergonha. Mas quem se atrevesse a contestar as ordens do rei seria severamente castigado.
Um dia o cristão Joaquim resolveu casar-se com Marianinha, a moça mais bela de toda a região. Marianinha nem queria pensar em pagar o infame tributo, mas Joaquim disse-lhe que não se preocupasse porque tinha um plano e, com a ajuda de Nossa Senhora, Marianinha não cairia nas mãos do cruel rei mouro. Casaram-se numa pequena igreja e, logo à saída, estavam os soldados à espera de Marianinha. Joaquim convenceu-os a juntarem-se a ele e a alguns amigos com o propósito de levarem ofertas ao senhor mouro daquelas terras.
O rei mouro já tinha ouvido falar da beleza de Marianinha e mal podia esperar para tê-la nos seus braços. Mas quando lhe retirou o véu, verificou que não era ela mas sim Joaquim que apertava nos seus braços. Desembaraçando-se das suas roupas de mulher, Joaquim retirou um punhal que tinha escondido e cravou-o no peito do rei mouro antes de fugir. Agonizante, o rei pediu as cabeças de Joaquim e de Marianinha para as pisar antes de morrer. Os guerreiros mouros lançaram-se na caça ao homem. Joaquim e os seus amigos ainda lhes fizeram resistência mas a desproporção era grande e foram quase todos dizimados. Marianinha prometia fervorosamente um novo templo à Virgem enquanto Joaquim caía no chão ferido de morte. Por milagre, Joaquim reparou que nas suas mãos nascia um bálsamo que curava as feridas e começou a gritar aos seus companheiros moribundos que esfregassem as mãos com aquela substância. Os guerreiros mouros, aterrorizados, viram os mortos e os moribundos a erguerem-se do chão, a pegarem nas armas e a entregarem-se à luta com uma paixão desmedida. Apesar da desvantagem numérica, os cristãos conseguiram fazer com que os mouros partissem em debandada.
Desde então, aquela terra conquistada aos mouros ficou a ser conhecida como Terra de Nossa Senhora de Bálsamo na Mão e, mais tarde, Lugar de Balsemão onde ainda hoje existe uma ermida em honra de Nossa Senhora de Balsemão, no alto do Monte Carrascal.


O leão e o mosquito



Algures, no coração de África, sobre uma folha tenra e macia da floresta, um mosquito dorme.
Assim que o sol desaparecera no horizonte, o mosquito tinha procurado um poiso tranquilo e adormecera. Com ele, tudo à sua volta adormecia também. Mas eis que rompe o silêncio um tremendo ru-ru-ru-gido.
Estremunhados, os bichos acordam e o mosquito da nossa história ergue-se e esfrega os olhos com as patas da frente:
- Que é isto? - pergunta ele, supondo-se no meio de um mau sonho.
- É o leão, o leão terrível - sussurram vozes, aqui e acolá, no escuro da floresta.
Enorme é ele, não há dúvida. Bamboleando a sua imensa majestade, chicoteando o ar com a cauda felpuda, de focinho torcido e sobrolho carregado, o leão avança.
O mosquito via mal ao longe. Não fosse ter descido, filtrado pelas nuvens, um raiozinho de luar azulado e ainda a estas horas o mosquito estaria para descobrir quem tão brutamente interrompera o seu sono tranquilo.
- Cale-se e tenha maneiras! - gritou o mosquito, muito abespinhado. - Isto são horas de andar a acordar quem precisa de dormir?
Os bigodes eriçados do leão quase tocavam a folha que servia de cama ao mosquito destemido.
- Quem és tu, insignificante criatura, e quem te deu o direito de te opores às minhas vontades? - perguntou ele, arregalando os olhos que pareciam dois faróis.
- E a si quem lhe deu o direito de me incomodar nos meus domínios?
A esta insolência, o leão fez um grande esforço para não perder a calma.
- Essa é boa! Eu sou o rei da floresta, por isso faço o que me apetece, digo o que me apetece, como o que me apetece e rujo, canto, urro, brado, quando muito bem me apetece.
- E quem lhe disse que era o rei da floresta? - interrompeu-o, tranquilamente o mosquito.
O leão rugiu:
- Que escandaloso atrevimento! Sou o rei, porque sou o rei. Todos os bichos o sabem e têm medo de mim.
- Engana-se - replicou-lhe o impertinente insecto. - Eu, por exemplo, não tenho medo de si. E posso prová-lo.
- Mas isto é inacreditável! - exclamou o leão de juba eriçada. - Um mosquito tem a ousadia de provocar o rei dos animais? Nunca em tal se ouviu falar.
E, dizendo isto, o leão soprou, com quantas forças tinha, para cima da folha, onde estava o mosquito. A folha balançou-se como se o vento a impelisse, enquanto o mosquito, agarrado a ela, rindo-se, pedia:
- Mais, mais. Que belo baloiço!
O rei dos animais não podia suportar tanto descaramento. Abrindo a bocarra, fez menção de engolir o mosquito, mas o insecto, ligeiro, escapou-se a tempo e só a folha entrou, inteirinha, na garganta do leão... O rei dos animais engasgou-se e tossiu:
- Ah! Hoc! Ah! Hoc! Hoc!
Entretanto, o mosquito fora alojar-se, sabem onde? Numa das narinas da fera, nem mais nem menos. As cócegas e as picadas puseram o rei dos animais a espirrar que não tinha fim:
- Atchim! Atchim! Larga-me, deixa-me... Hoc! Ah! Eu abdico... Atchim! Faço-te rei dos animais... Hoc! Atchim! Faço-te rei, se me deixares em paz!
Ao ouvir isto, o mosquito abandonou a narina do leão, que se pôs a correr pela floresta fora, tossindo ainda, atordoado e vencido.
- Escutem todos - zumbia o impertinente insecto, alertando a noite num voo desordenado. - Agora eu é que mando. Sou eu o rei dos animais. Esta floresta e as outras florestas pertencem-me. Os bichos que as povoam devem-me obediência, porque eu sou o rei. Eu sou o rei dos animais! O REI!
E seria, de facto, o rei dos animais, se não tivesse esbarrado numa enorme teia de fios invisíveis, tecidos pela gulosa aranha das oito patas...
E lá se acabou o reinado do rei mosquito.


António Torrado


27/08/2010

O Minotauro no Labirinto



O rei Minos disposto a subir ao trono de Creta para ocupar o lugar de seu pai Astérion perguntou ao povo de Creta qual seria a prova a que seria submetido para ser declarado legítimo rei de Creta. A multidão discutiu esse assunto e eis que alguém deu uma excelente ideia.
Sugeriu então que o rei Minos deveria pedir aos deuses para sair um touro branco do mar.
Minos pensou como é que iria cumprir a tarefa e de repente lembrou-se que Poseidon, Deus do Mar adorava o sacrifício de animais. Assim, Minos pediu a Poseidon que fizesse sair um touro branco do mar e em troca este sacrificaria o animal.
Passado algum tempo, o feito concretizou-se e o povo de Creta declarou Minos como seu legítimo rei.
No entanto, Minos adorava o ser enviado por Poseidon, visto que era um touro diferente de todos. Assim, mandou sacrificar outro touro em seu lugar, o que deixou o Deus do Mar realmente zangado. Como castigo, Poseidon fez com que a mulher de Minos, a rainha Pasifae se apaixona-se pelo touro e tivesse um filho deste, o que envergonharia e desonraria Minos.
Pasifae teve então um filho que da cintura para baixo era homem e da cintura para cima era um touro. Envergonhado, Minos mandou Dédalo, um arquitecto muito famoso criar um labirinto em que quem entrasse nunca mais voltasse a sair. Assim, encerrou o Minotauro lá dentro, mas as exigências do enteado não eram nada fáceis, pois este exigia carne humana. Minos exigia então a Atenas que de nove em nove anos, sete rapazes e sete raparigas seriam enviados para o labirinto para serem devorados pelo Minotauro. Caso contrário, haveria guerra entre Atenas e Creta.
Assim, de sete em sete anos eram enviados os catorze jovens e Teseu, filho do rei de Atenas também decidiu ir, prometendo ao pai que iria matar o Minotauro. O pai disse-lhe então que colocariam uma vela negra no mastro, mas caso conseguissem vencer o Minotauro colocariam uma vela negra. Ao chegar a Creta, a filha do rei, Ariadna mal viu Teseu apaixonou-se. Decidida a ajudá-lo, Ariadna deu-lhe uma espada e um novelo que lhe indicaria onde estava o Minotauro, se ele prometesse levá-la consigo para Atenas para casarem. Ele prometeu e entrou no labirinto. Seguiu então o novelo e quando encontrou o Minotauro cortou-lhe a cabeça. Seguiu rapidamente o novelo que lhe indicava também a saída e fugiu com Ariadna e com os catorze jovens para Atenas. No entanto, quando pararam numa ilha para descansarem este abandonou Ariadna. De regresso a casa, devido aos festejos, os jovens esqueceram-se de hastear a vela branca, que significava que eles tinham saído vitoriosos. Ao ver que a vela continuava negra, o Rei Egeu, pai de Teseu pensara que tinha perdido o filho e atirara-se para o mar, morrendo afogado. Esse mar é hoje conhecido pelo mar Egeu.

Contos e Lendas da Mitologia Grega


A origem do bicho-da-seda



Há muito tempo, um homem partiu para uma longa viagem e deixou sua filha em casa, cuidando de um cavalo. Ela estava tão sozinha e com tantas saudades de seu pai que disse brincando para o cavalo:
- Se trouxer meu pai de volta, eu me caso com você!
Imediatamente o cavalo empinou, arrebentando as rédeas, e partiu a galope até onde estava o pai da menina. Surpreso e contente, o homem montou e o cavalo relinchou com tristeza, olhando na direcção de onde tinha vindo.
- Deve existir alguma razão para isso – pensou o homem – Será que aconteceu alguma coisa em casa?
Voltou imediatamente. E como o animal tinha mostrado muita inteligência, tratou-o bem, dando-lhe comida extra. Mas o animal não queria comer e toda vez que a moça passava ele empinava de excitamento – e isso aconteceu em diversas ocasiões.
O pai, confuso, quis saber o que tinha acontecido e sua filha lhe contou a brincadeira que tinha feito.
- Não acredito! – exclamou ele – você não poderia ter brincado assim, pois pode significar a desonra de nossa família. Acho melhor sair de casa por uns tempos.
Ele matou então cavalo e pendurou a carcaça num gancho no fundo do pátio.
Quando o homem saiu novamente para viajar, a moça e a filha do vizinho começaram a brincar perto do cavalo. A moça deu um chute nele e disse:
- Seu bestalhão! Como pode acreditar que eu me casaria com você? Morto e estendido – bem que mereceu essa sorte!
Quando ela estava falando, o cavalo empinou, envolvendo-a com sua carcaça, e partiu a galope. A filha da vizinha ficou muito assustada e não teve coragem de salvá-la. Correu para contar ao seu pai. Quando ele voltou e procurou pelos dois, tinham desaparecido, mas alguns dias depois foram achados no galho de uma grande árvore.
A moça e o cavalo tinham se transformado em bicho-da-seda, fiando fios de seda na árvore – e formando um grande e espesso casulo, de um tipo nunca visto antes. As mulheres da vizinhança, que usam esses casulos, lucraram muito com esses casulos incomuns.
As árvores onde esses casulos apareceram passaram a se chamar sang ou amoreira, que significa “perdido”. Desde então todo mundo as cultiva , e este é o bicho-da-seda que existe actualmente.

O Matador de Dragões



Era uma terra bela e fecunda, com florestas, campos, rios, ruas e cidades. Um rei fora empossado por Deus: um ancião, mais velho e altivo do que todos os reis dos quais já se tenha ouvido algo crível. A única filha desse rei era uma moça de grande juventude, anelo e beleza. O rei era aparentado com todos os tronos da redondeza, porém sua filha era ainda uma criança, e sozinha, como se não tivesse família alguma. Seguramente, eram sua brandura e benevolência e o poder de seu rosto sereno a causa inocente da existência daquele dragão – o qual, quanto mais ela crescia e desabrochava, mais se avizinhava, até que por fim sentou-se, como o próprio Terror, na floresta defronte a mais bela cidade do país. Pois existem misteriosas relações entre o Belo e o Terrível; em um determinado ponto, ambos se completam, como a vida ridente e a morte diária e próxima.
Não se diz com isso que o dragão fosse hostil à jovem senhora, assim como ninguém pode dizer, sem sombra de dúvida, se a morte é adversária da vida. Quiçá o grande e fervente animal se deitasse como um cão ao lado da bela moça e, quiçá, apenas a monstruosidade da própria língua o impedisse de acariciar, em humildade animal, as lindíssimas mãos. Contudo, naturalmente não se haveria de pô-lo à prova, uma vez que o dragão era impiedoso contra todos que porventura entrassem no círculo de sua força e, comparável a uma morte visível, tudo agaturrava e retinha, inclusive rebanhos e crianças.
A princípio, o rei há de ter percebido com grande satisfação que essa adversidade e esse perigo transformavam muitos jovens de sua terra em homens. Estes jovens, de todas as castas – nobres, seminaristas e criados –, partiam como para uma terra estranha, distante, possuíam o heroísmo de uma única ardorosa e febricitante hora, na qual encontravam vida e morte, e esperança, e medo, e tudo o mais – como num sonho. Após algumas semanas, já ninguém mais se lembrava de contar esses filhos destemidos e de registrar seus nomes em algum lugar. Pois, em dias de aflição como estes, o povo habitua-se também a heróis: eles já não são mais algo extraordinário. A emoção, o medo, a fome de milhares clama por eles – e eles estão lá, como uma necessidade, como pão, procedentes daquelas últimas leis que, mesmo nos tempos de calamidade, não deixam de vigorar.
Todavia, como o número daqueles que se sacrificavam após uma resistência desesperançada continuasse a crescer, como quase em toda família do país o melhor filho (e, muitas vezes, ainda na flor da juventude) caíra em combate, o rei começou então a temer, e com razão, que todos os primogénitos de sua terra viessem a morrer e que muitas donzelas tivessem de tomar sobre si uma viuvez virginal pelos longos anos de uma vida sem filhos. Ele, então, negou a seus subalternos a luta. Porém, a comerciantes estrangeiros que, tomados por um horror inominado, fugiam da terra flagelada entregava ele uma mensagem que reis em situação semelhante propalavam desde tempos antigos: aquele que conseguisse libertar a pobre terra desta grande morte, este obteria a mão da filha do rei, fosse ele da nobreza ou o último filho de um verdugo.
E mostrou-se que também o estrangeiro era repleto de heróis e que o grande prémio não perdia seu atractivo. Os forasteiros, porém, não eram mais felizes que os nativos – vinham tão-somente para morrer.
Nestes dias, deu-se uma mudança na filha do rei. Se até então seu coração, opresso pela tristeza e pelo destino do país, rogava pela destruição da besta, seu ingénuo sentimento, uma vez que ela fora prometida a um poderoso desconhecido, aliava-se agora ao flagelador, ao dragão; e chegou a tal ponto que ela, na honestidade do sonho, inventava preces a seu favor e reclamava a mulheres santas que tomassem o monstro sob sua protecção.
Certa manhã, ao acordar cheia de vergonha de tais sonhos, chegou-lhe aos ouvidos um rumor que a horrorizou e perturbou. Contava-se de um jovem que, sabe-se Deus de onde, viera para lutar e que, no entanto, não logrou matar o dragão, mas conseguiu, ferido e sangrando, desvencilhar-se das garras do execrando inimigo e esconder-se na floresta fechada. Lá, encontraram-no inconsciente, frio em sua fria casca de ferro, e trouxeram-no para uma casa onde ele agora jazia em febre profunda, o sangue quente sob as ataduras ardentes.
Ao ouvir esta notícia, de bom grado teria a jovem – assim como estava, em suas vestes de seda branca – corrido pelas ruas a fim de tomar o lugar do doente à beira da morte. Porém, quando as camareiras a vestiram, e ela viu seu lindo vestido e seu rosto triste ir e vir nos muitos espelhos do castelo – ela, então, perdeu a coragem de arrojar-se a algo tão excepcional. Ela sequer teve forças suficientes para mandar qualquer criada de confiança até a casa na qual jazia o enfermo desconhecido, a fim de mitigar-lhe os sofrimentos com uma boa compressa ou um bálsamo suave.
Entretanto, havia nela uma inquietação que quase a fez adoecer. Ao cair da noite, estava sentada à janela, tentando adivinhar a casa na qual o homem desconhecido jazia à beira da morte. Pois, para ela, era natural que ele morresse. Apenas Uma poderia, talvez, salvá-lo, mas Esta era covarde demais para procurá-lo. Este pensamento – o de que a vida do herói ferido estaria nas suas mãos – não mais a deixou. Por fim, este pensamento a empurrou, após o terceiro dia, passado em meio a tormentos e auto-reprimendas, noite adentro, numa escura, inquieta e chuvosa noite de primavera, pela qual ela perambulou como por um quarto escuro. Ela não sabia pelo que haveria de reconhecer a casa que procurava. Não obstante, logo a reconheceu numa janela que estava aberta, numa luz que ardia dentro do quarto – uma longa e estranha luz, junto à qual ninguém seria capaz de ler ou dormir. Lentamente, ela passou pela casa, desamparada, pobre e mergulhada na primeira tristeza de sua vida. Ela seguiu e seguiu. A chuva havia parado; sobre uma faixa de nuvens havia estrelas grandes e isoladas, e, em algum lugar de um jardim, um rouxinol cantava o início de sua estrofe, que ainda não conseguira concluir. Em tom de pergunta, ele a entoava repetidamente, e sua voz emergia do silêncio, enorme e poderosa, como a voz de um pássaro gigante cujo ninho descansasse sobre as copas de nove carvalhos.
Quando a princesa finalmente ergueu os olhos do vasto caminho, olhos estes cheios de lágrimas, viu uma floresta e atrás desta uma faixa de manhã. À frente desta faixa erguia-se algo negro que parecia aproximar-se. Era um cavaleiro. Instintivamente, ela embrenhou-se nos arbustos escuros e molhados. Ele passou cavalgando por ela, vagarosamente, e seu cavalo estava preto de suor e tremia. Ele mesmo parecia tremer: todos os anéis de sua armadura ressoavam, levemente, uns nos outros. Sua cabeça estava sem o elmo, suas mãos nuas, a espada pendurava-se, pesada e cansada. Ela viu seu rosto de perfil: era quente, com os cabelos revoltos.
Ela o acompanhou com os olhos por muito tempo. Ela sabia: ele matara o dragão. E sua tristeza a deixou. Ela não era mais uma coisa perdida e esquecida nesta noite. Ela pertencia a ele, a este herói desconhecido, trémulo; era sua propriedade, como se fosse uma irmã de sua espada.
Então, ela correu para casa a fim de esperá-lo. Passou aos seus aposentos sem ser percebida e, tão logo foi possível, acordou as camareiras, mandando que lhe trouxessem o mais lindo de seus vestidos. Enquanto a vestiam, a cidade despertou para uma grande alegria. As pessoas rejubilavam e, nas torres, os sinos dobravam sem cessar. A princesa, que ouvia esse som, de repente soube que ele não viria. Ela tentou imaginá-lo embalado pela ruidosa gratidão da multidão – não conseguiu. Ela buscava, quase angustiadamente, reter a imagem do herói solitário, do tremulo, como ela o tinha visto, como se fosse crucial para sua vida não se esquecer disso. E ela estava de ânimo tão festivo que, embora soubesse que ninguém viria, não interrompeu as camareiras que a ataviavam. Ela deixou que lhe entrelaçassem pérolas e esmeraldas nos cabelos, os quais, para grande admiração das criadas, estavam húmidos. A princesa estava pronta. Ela sorriu para as camareiras e, um tanto pálida, passou pelos espelhos ao som de sua cauda branca, que lhe vinha longa atrás. O encanecido rei, grave e digno, encontrava-se sentado na alta sala do trono. Os velhos paladinos do reino estavam de pé ao seu redor e refulgiam. Ele aguardava pelo herói desconhecido, o libertador.
Este, no entanto, cavalgava já longe da cidade, e sobre ele pairava um céu repleto de cotovias. Se alguém lhe tivesse lembrado do prémio, quiçá ele, sorrindo, retornasse. Ele o esquecera por completo.

Parvati



Certo dia, enquanto Parvati ou Gauri tomava banho, Shiva, inesperadamente, apareceu. Acanhada, Parvati interrompeu seu banho e correu para o interior de seu quarto. Suas atendentes Jaya e Vijaya explicaram-lhe que, lamentavelmente, não puderam impedir a entrada de Shiva no recinto, porque elas eram também criadas dele.
Então sugeriram a Parvati que ela tivesse as suas próprias atendentes, da mesma forma como Shiva tinha os seus shivaganas. Tendo seu próprio assistente, a entrada de Shiva poderia ter sido impedida. Se Shiva é rei, Parvati é rainha. Ouvindo isso, Parvati reuniu as impurezas de sua pele e com essa substância fez uma escultura masculina, dando-lhe vida. Um belo e bochechudo rapaz surgiu. Abençoando-o, colocou-o no posto de vigia do lado de fora de sua porta.
Quando Shiva retornou e tentou entrar, o garoto o impediu, dizendo-lhe que sem a permissão de Parvati ninguém poderia entrar. Os atendentes de Shiva não puderam vencer o garoto, que a todos paralisou. Muitos dos shivaganas, outra vez, tentaram entrar e todos foram repelidos.
Com o rebuliço lá fora, Parvati veio saber o que estava sucedendo e encorajou o garoto a manter a sua guarda. Shiva não queria cair no descrédito. Brahma veio e solicitou ao garoto que deixasse a passagem livre, mas seu pedido não foi atendido. Ao pensar que Brahma fosse mais um de seus atendentes – shivaganas –, o garoto puxou-lhe a barba e seus bigodes. Então Brahma, ao explicar que ele era um brâmane e que não poderia lutar, foi-se embora.
Não havia ninguém que pudesse enfrentar o garoto, com exceção de Kaartikeya. Kaartikeya, ou Skanda, o poderoso deus da guerra, o segundo filho de Shiva e Parvati, com seis faces, representa a personificação da perfeição. Foi criado por todos os deuses para liderar o céu e destruir os demônios. O mais masculino e feroz de todos os deuses, detém todos os poderes espirituais, particularmente o da sabedoria. Em uma de suas mãos, segura uma lança – sakti –, a qual simboliza a destruição das tendências negativas humanas. Com a outra, ele sempre abençoa os devotos. Seu veículo é o pavão, capaz de destruir as serpentes peçonhentas, que representam o ego e os maus desejos. Vishnu sentiu que sua espinha fora quebrada pelo golpe do garoto. Houve um forte grito de angústia. A intervenção e a ajuda de Shiva foram solicitadas, que, então, ergueu o tridente – trishula – e o apontou em direção ao pescoço do garoto, cuja cabeça foi, velozmente, arrancada e trazida para as suas mãos.
Ao tomar conhecimento do ocorrido, Parvati teve um violento acesso de fúria. No alto de sua raiva, vários poderes emergiram: karaati, kubjuka, kanza, lambashirsha, dentre outros. Até mesmo Shiva ficou aterrorizado. Ele simplesmente permaneceu de pé, olhando, sem nada fazer. Os anjos e deuses apareceram para Parvati. Sábios e videntes, liderados pelo grande sábio Narada, foram também prestar-lhe reverências. O sábio Rajarajeshwari insistiu que o garoto fosse trazido de volta à vida. Parvati disse a Shiva que somente retiraria seus assistentes – shakteya ganas – após tal feio.

Shiva desistiu e enviou alguns de seus ganas – assistentes – para o norte e lhes ordenou que trouxessem a cabeça de qualquer animal jovem que combinasse com a estrutura física do corpo do garoto que encontrassem pelo caminho e, enquanto isso, o seu tronco seria cuidadosamente banhado, perfumado e envolto por ornamentos. Tão logo os ganas retornaram, trazendo consigo uma cabeça de um jovem elefante, essa foi rapidamente colocada ao tronco do garoto. Juntos, anjos e deuses oraram para que esse votasse à vida. Shiva atendeu às preces. Brilhando com uma intensa luz vermelha, o garoto revive, forte e belo com a cabeça de elefante. Parvati ficou feliz pelo fato de seu garoto ter sido trazido de volta à vida, apesar de sua cabeça de elefante. Shiva o proclamou como sendo seu filho, o Senhor dos Shivaganas e o removedor dos obstáculos. A partir daí, o garoto passou a ser adorado, reverenciado e exaltado e chamado por todos, carinhosamente, de Ganesha ou Ganapati. Parvati, feliz, acalmou-se, e o mundo prosseguiu o seu destino.

Por tal razão, na Índia, ainda hoje, é muito comum ver diante das portas das casas e lojas, estátuas ou figuras do Senhor Ganesha.

26/08/2010

O mais lento pode vencer a corrida


Quando voava sobre um lago, com muita fome, Garuda, o pássaro mágico de Vishnu, avistou uma tartaruga. A tartaruga desviou seu interesse sugerindo-lhe que, antes que a comesse, deveriam apostar uma corrida para ver quem era mais rápido.
O pássaro concordou e se elevou no ar, pronto para voar. Enquanto isso, a tartaruga reuniu todas as tartarugas – seus amigos e parentes – e as dispôs em filas de cem, de mil, de dez mil, de cem mil, de um milhão e de dez milhões. Dessa forma, cobriram toda a superfície da região.
Quando estava tudo arranjado, a tartaruga falou:
— Estou pronta para começar. Vossa alteza pode ir pelo ar, que irei pela água. Vamos ver quem será o ganhador. Se eu perder, seu prémio será comer-me.
Garuda voou com todas as forças, mas logo se deteve e chamou a tartaruga. E por onde que voasse, ela sempre respondia mais à frente. Voou até mesmo para Himaphan, a grande montanha. Por fim, teve de admitir, diante da tartaruga, que tinha sido derrotado e, desconcertado, voltou para seu lar, a árvore rathal, para descansar.


25/08/2010

Como o mal gera o mal



Um eremita caminhava por um lugar deserto quando chegou a uma gruta enorme cuja entrada não era facilmente visível. Decidiu descansar dentro dela, e entrou. Logo notou o brilhante reflexo da luz sobre um monte de ouro.
Assim que tomou consciência do que tinha visto, o eremita começou a correr, fugindo o mais depressa que pôde.
Havia três ladrões que passavam muito tempo naquele ponto do deserto com a intenção de roubar viajantes. Pouco depois, o homem piedoso passou por eles. Os ladrões se surpreenderam, alarmaram-se até, vendo o homem correndo sem que ninguém o perseguisse. Saíram do seu esconderijo e o detiveram, perguntando-lhe o que estava acontecendo.
— Estou fugindo, irmãos — disse. – A morte está me perseguindo.
Os bandidos não conseguiram ver ninguém perseguindo o devoto.
— Mostra-nos quem está atrás de ti — disseram.
— Eu o farei — falou o eremita, com medo deles.
Levou-os em direção à gruta, rogando-lhes que não se aproximassem dela. Os ladrões ficaram curiosos com a advertência e insistiram em ver o motivo de tanto alarme.
— Aqui está a morte que me perseguia — disse o ermitão.
Os malfeitores, é claro, ficaram encantados. Evidentemente consideraram o eremita meio louco e o deixaram ir, enquanto se felicitavam por sua boa sorte.
Em seguida começaram a discutir sobre o que deveriam fazer com a presa, pois tinham receio de deixar o tesouro novamente só. Decidiram, por fim, que um deles apanharia um pouco do ouro e iria à cidade, onde o trocaria por comida e outras coisas necessárias. Depois procederiam à divisão.
Um dos ladrões se apresentou voluntariamente para realizar a missão. Pensou consigo mesmo: "Quando chegar à cidade poderia comer tudo o que quiser. Depois envenenarei o resto da comida. Assim os outros dois morrem e o tesouro será só meu".
Na sua ausência, porém, os outros dois também tinham estado pensando.
Tinham decidido que, mal o espertalhão regressasse, o matariam. Depois comeriam sua comida e dividiriam o tesouro em duas partes, em vez de três.
No momento em que o pilantra chegou à gruta com as provisões, os outros dois caíram sobre ele a punhaladas e o mataram. A seguir, comeram toda a comida, e morreram por causa do veneno que seu companheiro havia posto nela.
Dessa maneira, o ouro realmente tinha significado a morte — como o eremita predissera — para os que se tinham deixado influenciar por ele, e o tesouro permaneceu onde estava, na gruta, por muito tempo.

24/08/2010

As túnicas de urtiga




Numa terra muito distante, havia um rei bondoso e sábio, que tinha uma linda filha, chamada Lúcia e onze filhos, todos belos e inteligentes. O soberano, que já estava velho e cansado, amava ternamente sua esposa e seus filhos.
Infelizmente, a rainha morreu, e o rei, sentindo-se triste e solitário, resolveu casar-se com a viúva de seu primo, que tinha sido o soberano de um país vizinho.
A felicidade, que até então reinava no palácio, desapareceu. A nova rainha, que era uma feiticeira perversa, conseguiu dominar o velho rei. A primeira coisa que ela fez foi afastar Lúcia do palácio, mandando-a para a casa de uns lenhadores, que moravam numa floresta longínqua.
Quanto aos onze príncipes, tantas mentiras a bruxa pregou a seu respeito, que o rei acabou não os querendo mais ver. Então, a feiticeira resolveu encantar os meninos. Depois de fazer uma porção de gestos mágicos, disse para os príncipes:
Voai, ligeiros, longe de nós, Jazei-vos aves, aves sem voz!
Os meninos transformaram-se em cisnes brancos e saíram voando pelo céu afora. Eles deviam seguir para um lugar determinado pela bruxa. Durante a viagem, procuraram passar sobre a casinha da floresta, onde estava a irmãzinha. Mas já anoitecia. Por isso, embora tivessem batido as asas com força, não conseguiram acordá-la.
Quando Lúcia completou quinze anos, teve permissão para ir ao palácio. Assim que a rainha a viu, ficou louca de inveja e de raiva. A menina era de uma beleza deslumbrante. A bruxa quis transformá-la logo em cisne, e só não o fez porque o rei desejava vê-la. Resolveu esperar uma ocasião mais oportuna para lhe fazer mal.
Lúcia costumava nadar no lago que havia junto ao palácio. Um dia, antes de chegar a moça ao lago, para lá se dirigiu a rainha, levando consigo três sapos horríveis.
À margem do lago, atirou o primeiro sapo na água, dizendo:
Quando Lúcia estiver nadando, salta na sua cabeça, para fazê-la tão estúpida como tu! Quando atirou o segundo, berrou:
Salta no rosto de Lúcia, para fazê-la tão feia como tu!
E, quando atirou o terceiro, rosnou:
— Fica perto do coração de Lúcia, para que se torne perversa e má!
Os sapos fizeram tudo o que a rainha ordenou. Quando a moça saiu do lago, mais parecia um bicho que um ser humano. Ao vê-la, o rei ficou horrorizado. E mandou que ela voltasse para a floresta.
É bom lembrar que Lúcia ficou muito feia, mas não se tornou má. O sapo não conseguiu modificar seu coração bondoso. Tendo sido desprezada por seu pai, a jovem resolveu sair à procura dos seus queridos irmãos.
Viajou dias e dias, atravessando montes, vales e cidades. Durante a viagem, encontrou, numa floresta, uma velha faminta que lhe pediu um pedaço de pão. Lúcia deu-lhe, com prazer, e ainda foi apanhar, no riacho, um pouco d'água para matar a sede da velhinha.
Esta, que era Nossa Senhora disfarçada, mandou que Lúcia comesse uma frutinha silvestre que crescia à beira do riacho. A moça obedeceu e, no mesmo instante, desencantou-se, voltando à sua beleza natural.
Lúcia continuou a viagem. No meio do caminho, encontrou um velhinho a quem deu o seu último pedaço de pão. Perguntou-lhe, então, se tinha visto onze príncipes tão belos como o sol. O velho respondeu:
— Que coincidência! Não vi os onze príncipes. Mas vi onze cisnes belíssimos, cada qual com uma coroa na cabeça!
E mostrou o lugar onde vira as lindas aves. A princesa seguiu para lá, sentou-se e ficou esperando o dia inteiro. Quando o sol começou a desaparecer no horizonte, a moça ouviu um rufiar de asas. Olhou para o céu e viu surgir onze cisnes voando apressadamente. Pousaram na terra e esconderam-se sob uma moita. Lúcia aproximou-se e ficou vigiando.
Quando os últimos raios do sol desapareceram, as penas dos onze cisnes caíram por terra e eles se transformaram em belos príncipes. Lúcia correu para eles, radiante de alegria. Reconheceram logo a irmã e cobriram-na de beijos e abraços. Que contentamento! Que felicidade!
A moça contou-lhes a sua triste história e eles narraram como tinham sido encantados pela cruel feiticeira. E o príncipe mais velho explicou:
— Durante o dia, temos a forma de cisnes. Mas, logo que o sol desaparece, voltamos a ser homens. E por isso que temos sempre o cuidado de chegar à terra firme antes que anoiteça, pois, se estivéssemos voando nos ares, cairíamos de repente e morreríamos.
— Onde moram vocês? perguntou Lúcia.
— Num lugar muito distante daqui, além dos mares. A viagem para lá é muito longa. Voamos dois dias sobre o oceano. No meio do caminho, só existe um rochedo isolado entre as ondas. E tão pequeno que nele só há espaço para ficarmos de pé, apertados uns contra outros. Quando o mar está agitado, cobre-nos de espuma da cabeça aos pés. Contudo, damos graças a Deus por termos aquele pequeno rochedo.
— Quantas vezes, por ano, podem vir até aqui ? indagou a princesa.
— Somente uma vez. E só podemos nos demorar onze dias. Chegamos há dez dias. Assim só temos um dia para ficar com você.
A princesa e os irmãos ficaram conversando durante muito tempo. Depois, vencida pelo cansaço, a moça adormeceu. Quando acordou, ouviu um forte bater de asas. Eram os irmãos que tinham voltado à forma de cisnes e que deviam passar o dia voando.
Quando a tarde caiu, os cisnes voltaram e, assim que o sol desapareceu, retomaram a forma humana. Então, o mais velho dos irmãos disse para Lúcia:
— Já que a encontramos, não queremos perdê-la. Vamos passar a noite fazendo uma rede para podermos levá-la connosco.
E começaram logo a trabalhar. Apanharam uma porção de ramos e folhas para construir uma rede resistente c macia. Pouco antes de romper o dia, o trabalho estava terminado.
Lúcia sentou-se na rede que foi elevada no ar pelo bico dos onze cisnes. Durante todo o dia, os pássaros voaram sem parar. Já estavam exaustos de carregar a rede, mas não desanimavam. A moça tremia só em pensar que poderia anoitecer, sem que chegassem ao rochedo perdido no meio do oceano. Mas, finalmente, quando os raios do sol começaram a desaparecer, a pequenina rocha surgiu no horizonte.
Quando a noite chegou com seu manto de estrelas, a moça e os onze cisnes pousaram no rochedo. Os príncipe retomaram a forma humana. Tiveram de ficar estreitamente unidos para não caírem no mar. Assim que o sol nasceu os rapazes viraram, novamente, cisnes e bateram as asas, levando pelos ares a jovem princesa.
Após viajarem o dia inteiro, chegaram, finalmente, ao seu destino. Os irmãos viviam num penhasco, em frente ao mar, onde havia uma caverna, que era a sua morada. Dentro da caverna, que era muito limpa, viam-se camas de musgo bem arrumadas. Lúcia ficou ali com os irmãos que, nesse momento, acabavam de voltar à forma humana.
Depois de conversar longas horas com os príncipes, Lúcia resolveu descansar. Mas, antes de dormir, rezou, pedindo a Nossa Senhora que lhe ensinasse, em sonho, uma maneira de quebrar o encanto de seus irmãos.
Quando adormeceu, Nossa Senhora apareceu-lhe em sonho e lhe disse:
— Poderás quebrar o encanto de teus irmãos. Mas, para isso, é preciso muita fé e perseverança. Existe perto
deste penhasco, bem como nos cemitérios, uma urtiga que tem propriedades maravilhosas. Quando a apanhares, ficarás com as mãos inchadas e empoladas. Deves colher grande quantidade dessa planta e, com ela, tecerás onze túnicas. Quando estiverem prontas, atira-as sobre teus irmãos e, então, seu encanto ficará quebrado. Voltarão, para sempre, à forma humana. Mas, para que tenhas êxito, é necessário que, enquanto estiveres tecendo as túnicas, não digas uma só palavra. Durante esse tempo, qualquer som que saia de tua boca ferirá como se fossem onze punhais cravados no coração de teus irmãos.
Quando Lúcia acordou, caiu de joelhos, agradecendo a Nossa Senhora o conselho que lhe dera. Depois, saiu da caverna e deu início ao seu trabalho. Começou a arrancar as folhas de urtiga que nasciam perto do penhasco. Quando o sol se pôs, voltaram os seus irmãos e perguntaram-lhe o que estava fazendo. Nem uma palavra de resposta. Os príncipes ficaram muito tristes, acreditando que a mudez da irmã era mais uma feitiçaria da madrasta. Mas, quando viram as mãos feridas e o trabalho que ela executava, sem parar, perceberam que fazia aquilo para quebrar o seu encanto. O príncipe mais moço pôs-se a chorar, beijando as mãos da irmã. E onde caíam suas lágrimas, desapareciam as empolas e as feridas.
De repente, ouviu-se o som de uma trompa de caça. Era o soberano daquele reino que caçava nas proximidades da caverna. Ao ver Lúcia, ficou deslumbrado por sua beleza. E resolveu levá-la para o palácio real.
Lá chegando, a princesa retirou-se para o rico aposento que lhe haviam oferecido. Havia trazido consigo o molho de urtigas e, por isso, continuou a trabalhar, febrilmente, durante a noite. Havia de libertar seus irmãos!
Alguns dias depois, o rei não pôde resistir à paixão que o dominava e pediu a moça em casamento. Lúcia que estava enamorada do jovem soberano aceitou o pedido, mas não pôde dizer uma palavra. Sabia que, se o fizesse, causaria a morte dos seus onze irmãos.
Realizou-se o casamento com grande pompa. O rei supunha que a sua linda esposa fosse muda e por isso redobrava em seus carinhos para com a moça. Tinha pena da sua triste situação. E Lúcia cada vez amava mais o rei e lamentava não lhe poder contar a sua triste história.
A moça já tinha tecido várias túnicas, quando lhe faltou urtiga. Sabia que só podia encontrá-la no cemitério e, numa noite de luar, para lá se dirigiu.
Mas houve alguém que a viu sair do palácio e a seguiu. Era um fidalgo que odiava a rainha, pois pretendia ver a filha no trono. Por isso, quando viu a rainha entrar no cemitério, foi avisar ao rei, dizendo-lhe que a rainha talvez fosse uma feiticeira. O soberano ficou muito triste e resolveu vigiai a esposa.
Dias depois, tendo faltado, de n!vo, a urtiga, Lúcia tornou a ir ao cemitério. Mas desta vez, foi seguida pelo rei e outras pessoas. Viram-na aproximar-se de um túmulo, onde algumas harpias estavam devorando um cadáver. O rei não quis ver mais, julgando que a sua esposa era também uma bruxa repugnante.
Como não podia falar, Lúcia não pôde defender-se e, por isso, foi condenada a morrer na fogueira. Quando os onze príncipes souberam disso, já era véspera da morte da irmã. Correram ao palácio para falar ao rei. Os guardas disseram que não podiam acordar Sua Majestade. Os rapazes insistiram, suplicaram, ameaçaram e já se dispunham a lutar com a guarda real, quando romperam os primeiros raios de sol. Os príncipes desapareceram, e viu-se um bando de cisnes esvoaçando, desesperadamente, por cima das torres do palácio.
Dias depois, tendo faltado, de novo, a urtiga, Lúcia tornou a ir ao cemitério.
Chegou a hora da execução de Lúcia. A multidão enchia a praça principal da cidade. Daí a pouco, surgiu a moça numa velha carroça. Estava pálida e abatida, mas seus dedos trabalhavam sem cessar. Já tinha, ao seu lado, dez túnicas prontas. Só faltava uma!
O carrasco quis jogar fora as túnicas, mas a moça olhou para êle com um ar tão suplicante que o homem não pôde recusar-lhe o último favor. A multidão, porém, cobriu-a de injúrias e avançou para despedaçar as túnicas.
Nesse momento, surgiram, fazendo grande bulha, onze cisnes lindíssimos, que começaram a dar bicadas terríveis nas pessoas que queriam atacar a carroça. Enquanto isso, a moça não parava de trabalhar. Finalmente, ficou pronta a última túnica.
Na ocasião em que o carrasco ia atirar Lúcia na fogueira, os onze cisnes se aproximaram para se despedir da irmã. Ela jogou, então, sobre eles as túnicas de urtiga. No mesmo instante, se transformaram em onze príncipes de uma beleza deslumbrante. Estava quebrado e encanto!
— Agora já posso falar. Estou inocente! exclamou a moça. E contou ao rei, que estava presente, a sua história.
A pena de morte foi logo revogada. O rei ficou louco de alegria e cobriu a esposa de beijos e abraços. Houve muitas festas no reino. E a todas assistiram os onze príncipes, que passaram a morar no palácio, junto de sua querida irmã.

23/08/2010

O Imperador Gaozu Constrói Xinfeng



O pai do Imperador Gaozu (? – 188 AC), da Dinastia Han, mudou-se de sua cidade Feng para a capital Chang’an* e foi morar no palácio. Ele ficou infeliz depois disso. O Imperador pediu às pessoas mais próximas de seu pai qual poderia ser a causa. Eles disseram que quando seu pai estava em Feng, ele passava o tempo falando com os açougueiros, com vendedores de rua mais interessados em vender bebidas, com vendedores de bolos, assistindo às brigas de galo ou jogando bola. Agora que tudo tinha acabado, ele se deprimia.
O Imperador ordenou então que fosse construído um novo distrito, chamado Xinfeng**, em Chang’an e que as pessoas mais velhas de Feng se mudassem para esse lugar. Seu pai pelo menos achou boa a notícia. É por isso que desde então um grande número de desocupados moram no Distrito Xinfeng, mas não pessoas nobres.
Quando o imperador era jovem, ele muitas vezes fazia sacrifícios à Mãe Terra em Feng. Ele ordenou então a construção de um tempo idêntico no novo distrito. Quando Xinfeng e o templo ficaram prontos, as ruas e as construções eram idênticas às de Feng. E quando as pessoas de Feng andavam nas ruas, eles não tinham dificuldade alguma de reconhecer suas velhas casas. Conduzindo o gado pelas trilhas, eles podiam encontrar suas casas também sem hesitação. Com isso, as pessoas que se pudaram para Chang’an ficaram muito congtentes com a semelhança e elogiaram o arquiteto Hu Kuan. Eles o agradeceram muito e em um mês mais ou menos ele recebeu 100 onças de ouro.

O relógio do senhor Túlio



Ao senhor Túlio sempre lhe fizera espécie como é que os relógios trabalhavam incansavelmente e nunca paravam.
- Dá-se-lhes corda e eles andam - explicavam ao senhor Túlio, que tinha um relógio dos antigos, muito anterior aos relógios a pilhas.
Mas o senhor Túlio não acreditava. Devia haver outro mistério.
Um dia, o relógio dele parou, por mais corda que lhe desse. Quando o senhor Túlio foi levá-lo a arranjar à oficina de relojoaria, ficou maravilhado a olhar para o maquinismo do seu querido relógio, que o relojoeiro destapara.
- Tantas rodinhas. Nunca pensei - admirou-se ele.
Mas mais espantado ficou quando o relojoeiro, com um pinça, tirou uma formiga já morta, que tinha encrencado o mecanismo.
- Pronto. O desarranjo estava aqui - explicou o relojoeiro, voltando a fechar a tampa do relógio.
O senhor Túlio estranhou:
- E não põe lá uma formiga nova?
- Para quê?
- Para fazer as vezes da que morreu. Como é que o relógio pode trabalhar sem maquinista?
E se o senhor Túlio tivesse razão e fosse mesmo à conta das formigas que os relógios conseguem trabalhar? É uma ideia como outra qualquer e bastante divertida. Até dava outra história.

A leoa

Os caçadores, armados com espadas e afiadas lanças, aproximaram-se em silêncio. A leoa, amamentando os filhotes, farejou-os e percebeu o perigo.
Porém era tarde. Os caçadores estavam ali, prontos para atacar.
À vista das armas, a leoa, aterrorizada, quase fugiu correndo. Mas se fizesse isso deixaria seus filhotes à mercê dos caçadores. Resolveu defender seus filhos. Baixou os olhos, a fim de não ver as ameaçadoras espadas de ferro que enchiam de medo seu coração, e, tomando um impulso desesperado, saltou para o meio dos caçadores.
Sua grande coragem salvou-a.



22/08/2010

Lenda da Praga de Fogo

Há muitos, muitos anos, vivia em Mourilhe, na região de Montalegre, Aben Ahmid, filho do chefe dessa aldeia moura. A sua tribo estava proscrita em relação aos outros muçulmanos que a abandonaram aquando do avanço cristão.
Um dia, Aben decidiu sair do reduto mouro de Mourilhe e cavalgou até ao Minho. Aí, conheceu uma bela jovem cristã chamada Leonor. Foi amor à primeira vista e, como a jovem também o amava, Aben pediu-lhe que partisse com ele para Mourilhe. Depois de recusas e hesitações, pois era cristã, Leonor cedeu aos impulsos do coração e foi com Aben.
Contudo, a aldeia e o pai de Aben não receberam bem os jovens apaixonados, principalmente Leonor, que logo quis regressar à sua terra. Expulsos da casa do chefe, foram recolhidos por Almina, a mulher que criara Aben desde pequeno, pois era órfão de mãe. Almina acolheu muito bem Leonor, o que irritou Mohamed, pai de Aben. Como gostava muito de Aben, Almina foi falar com Mohamed e pediu-lhe para se reconciliar com o filho e aceitar Leonor. Mohamed lembrou-lhe, então, que Aben estava prometido a Zoleima, uma moura da aldeia. Foi então que a ama lhe recordou que, na sua juventude, também ele se apaixonara por Anália, uma jovem cristã, abandonando Zuraida em vésperas de ser mãe de Aben. Só voltara porque Anália caíra doente e morrera pouco tempo depois. Zuraida recebeu-o e perdoou-lhe, mas foi maltratada por Mohamed e acabou por morrer também, deixando o pequeno Aben sem mãe.
Perante estas lembranças, era cada vez maior a ira do chefe mouro que, intransigente, correu com Almina. Aben decidiu então abandonar a aldeia, com a ama e Leonor. Ainda na aldeia, e em conversa com Leonor, Almina lembrou-se de um último estratagema para alterar a situação: tinha de falar com Zoleida, que amava Aben desde criança, ainda que este nunca tivesse correspondido a tal paixão. Zoleida, contudo, não se encontrava em casa quando Almina a procurou. Ao saber da vinda de Aben para a aldeia com uma cristã, louca de dor e raiva, tinha corrido para a casa do jovem. Silenciosa e esquiva, Zoleida acercou-se de Leonor pelas costas e apunhalou-a, fugindo de imediato.
Pouco depois, surgiram Aben e Almina, que depararam já com a pobre Leonor morta. Aben e Almina ficaram aterrados e inconsoláveis. Então, Aben decidiu cobrir com um manto o corpo sem vida de Leonor e levá-lo consigo para bem longe dali. Almina ainda o tentou demover, mas nada conseguia vencer o desespero de Aben.
Almina, chamando insistentemente por Aben, voltou-se para a aldeia atrás de si e rogou-lhe uma praga de fogo. Para que Mourilhe se purificasse teria de ser destruída pelo fogo três vezes.
Mourilhe foi, de facto, três vezes devastada pelo fogo - na Reconquista Cristã, em 1854 e em 1875.

Caim e Abel

Em determinada ocasião, Caim e o seu irmão mais novo Abel apresentaram ofertas a Deus. Caim apresentou frutas do solo e Abel ofereceu primícias do seu rebanho. (Gênesis 4:3, 4). A oferta de Abel teria agradado a Deus, enquanto que a de Caim não. Tudo indica que o sacrifício de Abel foi oferecido com fé, em face da declaração bíblica de que "Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de Caim. Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas ofertas." (Hebreus 11:4), um sacrifício total.
Possuído por ciúmes, Caim armou uma emboscada para seu irmão. Sugeriu a Abel que ambos fossem ao campo e, lá chegando, Caim matou seu irmão; este teria sido o primeiro homicídio da história da humanidade.
Respondendo ainda com arrogância ao ser interpelado por Deus, o Criador sentenciou-o ao banimento do solo, além de ser condenado à condição de errante pelo mundo, que parte em busca de um futuro indefinido em um deserto de homens. Caim lamentou a severidade da sua punição e mostrou ansiedade quanto à possibilidade de o assassinato de Abel ser vingado nele, mas, ainda assim, não expressou nenhum arrependimento. O Criador "estabeleceu um sinal para Caim", o signo protetor que designa a criatura de Deus, a marca do filho de Adão, para impedir que fosse morto, mas o registo não diz que esse sinal ou marca fosse colocado de algum modo no próprio Caim.

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A rosa branca na boca


Um homem muito abastado veio a cair em pobreza pelos seus desvarios; como tinha dado uma boa educação ao filho, este sabia tocar muitos instrumentos e para ganhar a sua vida foi por esse mundo além. Chegou a uma terra e parou diante de um palácio onde estavam tocando peças de música muito lindas. Deixou-se ali ficar sem comer nem beber. O dono do palácio vendo aquele homem parado na rua, perguntou-lhe o que queria. Ele disse que também gostava de música; o homem mandou-o entrar para ver se ele também sabia tocar. Assim foi, tocou e desbancou todos os outros músicos. O homem admirado, despediu todos os músicos, e disse ao rapaz que ficasse com ele, para o ouvir tocar sempre. Os outros músicos desesperados só queriam apanhar o rapaz para o matarem; mas o velho assim que soube disto protegia o rapaz, acompanhava-o sempre, e queria deixar-lhe tudo como se fosse seu filho. Na corte correu a fama do tocador, e o rei pediu ao fidalgo para lhe levar o rapaz e deixá-lo no paço alguns dias. Lá lhe custou isso, mas não podia dizer que não ao rei. O rapaz espantou todos nas festas do palácio, porque tocava muito bem.
Uma noite que estava recolhido, sentiu entrarem-lhe na câmara e meter-se na cama com ele uma dama; quis saber quem era, acendeu uma luz, mas ela trazia uma máscara. Enquanto se demorou no paço, todas as noites ia a dama ter com ele.
O rapaz insistiu para que lhe dissesse quem era. Ela respondeu:
— Não te posso dizer quem sou! Amanhã ao entrar para a missa, hás-de-me ver com uma rosa branca na boca.
O rapaz foi dizer tudo ao fidalgo que já o tratava como filho; mas o fidalgo lembrando-se do ódio dos músicos, quis acompanhá-lo, não fosse alguma traição. Pôs-se ele à porta da igreja, entraram todas as damas, e só quando veio a rainha é que ao lado dela viu a condessa que a acompanhava, e que todos tinham na corte por muito virtuosa, com a rosa branca na boca.
Assim que viu o rapaz em companhia do fidalgo botou a rosa ao chão e amachucou-a com os pés. O rapaz chegou-se próximo da condessa para saber o motivo daquela zanga. Ela disse-lhe que a tinha atraiçoado, contando tudo ao fidalgo. Perguntou-lhe ele o que era preciso que fizesse para tornar a alcançar o seu amor. Disse a condessa que só matando o fidalgo que lhe servira de pai. Ele na sua cegueira assim o fez. O rei quando soube deste crime, achou-o tão atroz que deu ordem logo para que o enforcassem. Então a condessa foi contar tudo ao rei, e confessou-se culpada, dizendo que o rapaz estava inocente, e que o que fizera era pela paixão do amor. Então o rei perdoou-lhe:
— Já que a condessa fez a sua desgraça, case agora com ele para o fazer feliz.

(Algarve)
in BRAGA, Teófilo, Contos Tradicionais do Povo Português


21/08/2010

Lenda do Gigante Prometeu



Diz a lenda que quando os deuses criaram o céu e a terra, com todas as plantas e animais, chegou à terra o gigante Prometeu ("aquele que pensa antes"), descendente dos Titãs, destronados por Zeus. Prometeu, com um pouco de argila e água, criou o homem à imagem dos deuses para que reinasse sobre a terra. Das almas dos animais escolheu algumas características que juntou à sua obra. Atena, a deusa da sabedoria, impressionada, insuflou no homem o espírito. Pouco depois os primeiros seres humanos começaram a multiplicar-se na terra, mas faltava-lhes as informações sobre a sua subsistência e sobre os assuntos divinos. Por esta razão, Prometeu ensinou aos homens todos os segredos da agricultura, da pesca, do comércio, da profecia, da astronomia e de tudo o que era necessário ao desenvolvimento da humanidade. Mas ainda lhes faltava o dom do fogo, que Zeus tinha negado aos homens. Então, Prometeu apanhou um ramo e aproximando-o do sol incendiou-o e trouxe o fogo à terra. Contrariado, Zeus arquitectou a sua vingança ordenando que se fizesse uma estátua de uma linda mulher, que os deuses dotaram de muitas qualidades, e a quem chamou Pandora, "a que tem todos os dons". Zeus pediu a cada um dos deuses que criassem um malefício e guardou-os a todos numa caixa que Pandora levava nas mãos. Zeus tencionava unir Pandora a Epimeteu ("o que pensa depois"), irmão de Prometeu, e ordenou a Hermes que conduzisse Pandora à Terra até junto de Epimeteu. Diante dele, ela abriu a caixa dos malefícios que se espalharam por toda a Terra, enchendo-a de dor e de doença. Pandora fechou a caixa rapidamente, antes que se escapasse o único benefício que esta continha: a esperança.
Tinha chegado a hora de Zeus castigar Prometeu, mandando Hefesto e os seus servos Crato ("o poder") e Bia ("a violência") acorrentar o gigante a um despenhadeiro do Monte Cáucaso. Mandou depois uma águia devorar-lhe o fígado, que, por ser imortal, se regenerava continuamente, causando-lhe um grande sofrimento. O seu tormento prolongou-se por centenas de anos até que Hércules, com o consentimento de Zeus, matou a águia com uma pedra e libertou Prometeu das correntes. É então que Prometeu revela a Zeus uma profecia: se Zeus continuasse com os seus amores com Tétis, deles nasceria um filho que o destronaria. Assim sendo, Zeus abandonou Tétis, que casou com o mortal Peleu. Entretanto, Prometeu tornou-se imortal ao trocar o destino com o centauro Chiron e ocupou o seu lugar no Olimpo, para grande alegria do povo de Atenas, que via em Prometeu o grande benfeitor da humanidade, patrono das artes e das ciências.

Contos e Lendas da Mitologia Grega

História sobre as Três Gargantas do Rio Yangtsé

O rio Yangtsé é o maior rio da China e o terceiro da Ásia. As gargantas de Qutang, Wu e Xiling, que se situam no curso médio do rio, são chamadas de Três Gargantas, com uma extensão total de cerca de 200 quilômetros.
No extremo oeste da garganta de Qutang, há uma cidade famosa que chamada Cidade do Imperador Branco. O nome da cidade se originou de uma história veridica e o seu protagonista chamava-se Gongsun Shu.

No ano 25, a China estava num período de substituições de dinastias, quando ums grande rebelião de camponeses derrubou a dinastia do Han do Oeste, mas um novo regime ainda não havia sido instituído. O chefe militar Gongsun Shu controlava as regiões do suroeste acompanhando o desenrolar da situação.
Um dia, ele teve um sonho: “Você poderá ser o imperador durante 12 anos”, disse-lhe uma voz. Desperto, sentiu-se estranho. Na madrugada do dia seguinte, viu, quando passeava no pátio da residência, uma pilar de fumaça branca saindo de um poço parecendo um dragão saltando para o céu. Entendia o fenômeno como um sinal para subir no trono e seguiu-o nomeando-se como imperador. Ele tabizou-se como Imperador Branco. Depois, batizou a cidade que se situava à entrada da garganta como Cidade do Imperador Branco, mantendo uma guarnição poderosa.
Ma Yuan era amigo de Gongsun Shu. Inteirado da notícia, foi visitare Songsun Shu. Mas, este assumiu ares vaidosos para com o velho amigo, mandou fazer-lhe uma roupa de pano usada pelas pessoas mais humildes e recebeu-o numa pomposa cerimônia, a fim de indicá-lo como marquês e comandante geral das forças armadas. Outras pessoas que vieram junto com Ma Yuan ficaram muito animadas e desejavam obter um cargo, mas Ma Yuan disse: “O mundo está confuso e ninguém sabe quem poderá reunificar o país. Gongsun Shu não sabe acolher com atitude humilde as pessoas competentes para discutir com elas sobre os princípios e a política do país e ocupa-se apenas com ninharias. É apenas um fantoche. Como ele agregará ao se redor os competentes?” E recusou a nomeação e foi-se embora.
Nesse momento, Li Xiu estabeleceu em Luoyang o regime da Dinastia do Han do Lestge. Escreveu uma carta a Gongsun Shu, analisando a situação do país e aconselhou este a se entregar. Mas, Gongsun Shu achou que por ser imperador, não podia entregar-se a qualquer pessoa e recusou o pedido de Liu Xiu. No ano 37, Gongsun Shu morreu em misteriosas circunstâncias durante uma batalha quando suas tropas atacavam a Cidade do Imperador Branco.
Gongsun Shu foi imperador durante 12 anos, mas controlou as regiões do suroeste durante 28 anos. Durante este período, as regiões do suroeste encontravam-se em estabilidade e longe das agitações que caracterizaram as planícies centrais. Como imperador, Gongsun Shu estimulava o desenvolvimento da agricultura, mandou construir obras hidráulicas e adotava algumas políticas de benefício à população, por isso, a população local construiu um templo em homenagem ao Imperador Branco.



Quitério atrevido



O rapaz era esperto e atrevido. Quando, lá na aldeia, souberam que o rei vinha caçar àquela região, o rapaz decidiu:
- Eu hei-de falar ao rei ou não me chame Quitério.
E pôs-se a esperar pelo cortejo real, à beira da estrada.
Mas o rei, que não era de pompas, apareceu a cavalo, sem escolta, vestido como qualquer um. Vendo o rapaz, que não o reconheceu, perguntou-lhe:
- Vou bem encaminhado para o solar do Conde de Ameal?
- Eu ensinava-lhe o caminho, senhor, se não tivesse à espera do séquito do rei.
- Não esperes mais, rapaz, porque o séquito já lá deve estar. Sobe tu para cima do meu cavalo e orienta-me, até chegarmos ao solar do conde.
Pelo caminho foram conversando. O Quitério quis saber como é que o rei viria vestido.
- Como os outros homens. Nada o distingue - respondeu o rei.
- Então como é que eu sei que é o rei?
- Porque todos, quando o virem, lhe tiram o chapéu.
Assim que os dois, montados no mesmo cavalo, chegaram aos paços do conde, logo criados e fidalgos se desbarretaram à sua passagem. O Quitério estava pasmado.
- Então já sabes, agora, quem é o rei? - perguntou o rei ao rapaz.
- Hei-de ser eu - respondeu o atrevido Quitério. - Vossemecê não tem cara de ser rei e eu conservo o chapéu na cabeça, porque o sol está bravo.
O rei achou graça e a história acaba bem.

20/08/2010

As Princesas dançarinas




Era uma vez um rei que tinha doze filhas muito lindas. Elas dormiam em doze camas, todas no mesmo quarto; e quando iam para a cama, as portas do quarto eram trancadas a chave por fora. Pela manhã, porém, os seus sapatos apresentavam as solas gastas, como se tivessem dançado com eles toda a noite. Ninguém conseguia descobrir como acontecia aquilo, já que o quarto era sempre trancado. Então, o rei anunciou por todo o país que se alguém pudesse descobrir o segredo de suas filhas, do que faziam a noite para que seus sapatos ficassem tão gastos, casaria com aquela de quem mais gostasse e seria o seu herdeiro do trono. Mas aquele que se propusesse a descobrir o segredo e não o fizesse ao fim de três dias e três noites, seria morto.
Apresentou-se logo o filho de um rei. Foi muito bem recebido e à noite levaram-no para o quarto ao lado daquele onde as princesas dormiam. Ele tinha que ficar sentado para ver onde elas iam dançar e, para que nada acontecesse sem que ele ouvisse, deixaram-lhe aberta a porta do quarto. Mas o rapaz daí a pouco adormeceu; e, quando acordou de manhã, percebeu as solas dos sapatos das princesas cheias de buracos. O mesmo aconteceu nas duas noites seguintes e por isso o rei ordenou que lhe cortassem a cabeça. Depois dele vieram vários outros. Nenhum teve sorte, e perderam a vida da mesma maneira.
Certo dia um ex-soldado, que ferido em combate e já não era mais capaz de guerrear, chegou ao país. Um dia, ao atravessar uma floresta, encontrou uma velha, que lhe perguntou aonde ia.
- Quero descobrir onde é que as princesas dançam, e assim, mais tarde, vir a ser rei.
- Bem, disse a velha, - isso não custa muito. Basta que tenhas cuidado e não bebas do vinho que uma das princesas te trouxer à noite. Logo que ela se afastar, deves fingir estar dormindo profundamente. E, dando-lhe uma capa, acrescentou:
- Logo que puseres esta capa tornar-te-ás invisível e poderás seguir as princesas para onde quer que elas queiram ir. Quando o soldado ouviu estes conselhos, foi falar com o rei, que ordenou lhe fossem dados ricos trajes. Quando veio a noite, conduziram-no até o quarto de fora. Quando ia deitar-se, a mais velha das princesas trouxe-lhe uma taça de vinho, mas o soldado entornou-a toda nas plantas do umbral da janela sem que ela percebesse. Em seguida estendeu-se na cama, e pôs-se a ressonar como se estivesse dormindo.
As doze princesas puseram-se a rir, levantaram-se, abriram as malas, e, vestindo-se esplendidamente, começaram a saltitar de contentes, como se já se preparassem para dançar. A mais nova de todas, porém, subitamente preocupada, disse:
- Não me sinto bem. Tenho certeza de que nos vai suceder alguma desgraça.
- Tola! - replicou a mais velha. Já não te lembras de quantos filhos de rei nos têm vindo espiar sem resultado? E, quanto ao soldado, tive o cuidado de lhe dar a bebida que o fará dormir, assim como fiz com todos os outros
Quando todas estavam prontas, foram espiar o soldado, que continuava a ressonar e estava imóvel. Julgaram-se seguras. A mais velha foi até a sua cama e bateu palmas: a cama enfiou-se logo pelo chão abaixo, abrindo-se ali um alçapão. O soldado viu-as descer pelo alçapão, uma atrás das outra. Levantou-se, pôs a capa que a velha lhe tinha dado, e seguiu-as. No meio da escada, desastrado, pisou na cauda do vestido da princesa mais nova, que gritou às irmãs:
- Alguém me puxou pelo vestido!
-Que tola! - disse a mais velha. Deve ter sido um prego da parede.
Lá foram todas descendo e, quando chegaram ao fim, encontraram-se num bosque de lindas árvores. As folhas eram todas de prata e tinham um brilho maravilhoso. O soldado quis levar uma lembrança dali, e partiu um raminho de uma das árvores.
Em seguida foram a outro bosque, onde as folhas das árvores eram de ouro; e depois a um terceiro, onde as folhas eram de diamantes. E o soldado partiu um raminho em cada um dos bosques. Chegaram finalmente a um grande lago onde, à margem, estavam encostados doze barcos pequeninos, dentro dos quais doze príncipes muito belos esperavam pelas princesas.
Cada uma delas entrou em um barco, e o soldado saltou para onde ia a mais moça. Quando iam atravessando o lago, o príncipe que remava o barco da princesa mais nova disse:
-Não sei por que, mas apesar de estar remando com toda a minha força, parece-me que vamos mais devagar do que de costume. O barco parece estar hoje muito pesado.
-Deve ser do calor do tempo, disse a jovem princesa.
Do outro lado do lago ficava um grande castelo, de onde vinha um som de clarins e trompas. Desembarcaram todos e entraram no castelo, e cada príncipe dançou com a sua princesa. O soldado invisível dançou entre eles, também, e quando punham uma taça de vinho junto a qualquer das princesas, o soldado bebia-a toda, de modo que a princesa, quando a levava à boca, achava-a vazia. A mais moça assustava-se muito, porém a mais velha fazia-a calar. Dançaram até as três horas da madrugada, e então já os seus sapatos estavam gastos e tiveram que parar. Os príncipes levaram-nas outra vez para o outro lado do lago - mas desta vez o soldado veio no barco da princesa mais velha - e na margem oposta despediram-se de seus doze companheiros, prometendo voltar na noite seguinte
Quando chegaram ao pé da escada, o soldado adiantou-se às princesas e subiu primeiro, indo logo deitar-se. As princesas, subindo devagar, porque estavam muito cansadas, ouviam-no sempre ressonando, e disseram:
-Está tudo bem. Ele ainda dorme!
Depois despiram-se, guardaram outra vez os seus ricos trajes, tiraram os sapatos e deitaram-se. De manhã o soldado não disse nada do que tinha visto, mas desejando tornar a ver a estranha aventura, foi ainda com as princesas nas duas noites seguintes. Na terceira noite, porém, o soldado levou consigo uma das taças de ouro como prova de onde tinha estado.
Chegada a ocasião de revelar o segredo, foi levado à presença do rei com os três ramos e a taça de ouro. As doze princesas puseram-se a escutar atrás da porta para ouvir o que ele diria.
O rei perguntou, imponente:
-Onde é que as minhas doze filhas gastam seus sapatos todas as noites?
Ele respondeu muito seguro de si:
-Dançando com doze príncipes num castelo debaixo da terra.
Depois contou ao rei tudo o que tinha sucedido, e mostrou-lhe os três ramos e a taça de ouro que trouxera consigo.
O rei chamou as princesas e perguntou-lhes se era verdade o que o soldado tinha dito. Vendo que seu segredo havia sido descoberto, elas confessaram tudo.
O rei perguntou ao soldado com qual delas ele gostaria de casar.
-Gostaria de me casar com a mais velha, que é uma bela mulher e muito inteligente!
Casaram-se dias depois e o soldado tornou-se herdeiro do trono.
Quanto às outras princesas e seus bailes no castelo encantado, pelos buracos nas solas dos sapatos, elas continuam dançando até hoje.


Hans Christian Andersen

Finn MacCumhal e a Corsa

Um dia em que Finn e seus companheiros regressavam com seus cães de uma caçada no monte Allen, uma corsa cruzou por seu caminho e todos começaram a correr atrás dela.
Logo os perseguidores foram ficando para trás, exceto Finn e seus dois cães, Bran e Skolawn. Estes cães tinham uma origem muito peculiar já que eram filhos de Tyren, tia de Finn, que havia sido transformada em uma cadela por um encantamento.Eram os melhores cães de toda a Irlanda e Finn os admirava e amava muito.
Quando a caçada se dirigia a um vale, a corsa se deteve, se abaixou, e Finn viu que seus cães brincavam com ela lambendo-lhe o rosto.Finn ordenou que ninguém lhe fizesse dano e ela os seguiu durante todo o caminho de volta.
Naquela mesma noite, ele acordou e viu junto a sua cama a mulher mais bela que jamais havia visto em toda sua vida, e ela lhe disse: "Sou Saba, Finn, sou a serva que perseguiste na caçada de hoje. Por não querer dar meu amor ao druida da terra das fadas, ele me converteu no que viste, e tenho estado assim durante três anos. Mas um de seus escravos, apiedando-se de mim, me revelou que se pudesse chegar até vossa morada de Allen, oh Finn, voltaria a minha forma original. Temia ser destroçada por vossos cães ou ferida pelos caçadores, e por isso deixei me alcançar por ti, e por Bran e Skolawn, quem possuem a natureza de homem e não me fariam dano".
Finn prometeu protege-la e pronto a fez sua esposa. Tão profundo foi o amor que viveu, que durante meses não se preocupou em lutar nem guerrear, mas sim simplesmente em passar cada dia com sua bela esposa.
Um dia chegou a notícia de que barcos de guerra do Norte estavam na baia de Dublin, assim mandou chamar todos seus homens, e disse a sua esposa: "Os homens de Erin nos dão tributo e hospitalidade para que os defendamos dos invasores, e seria uma vergonha aceitar os pagamentos sem dar de nossa parte o que se pede".
Durante sete dias esteve ausente Finn, até que os escandinavos se afastaram das costas de Erin. Ao oitavo dia voltou aos seus, mas viu a preocupação nos olhos dos homens e mulheres e Saba não estava na muralha esperando seu regresso.
Ante o pedido de Finn, lhe contaram o que havia sucedido: Saba esperava ansiosa seu regresso, e um dia apareceu Finn com seus dois cães, e até se escutaram as notas da chamada da casa dos Fianna no vento.Saba pulou sobre a cerca para receber seu amado, mas era um falso Finn que brandiu uma varinha e a transformou de novo em uma corsa. Seus cães começaram a persegui-la, fazendo-a fugir. Os homens tomaram todas as armas que puderam e selaram em busca do feiticeiro, mas não encontraram nenhum dos dois.
Finn se retirou aos seus aposentos e ficou trancado o dia todo, entretanto logo seguiu ocupando-se dos assuntos de Fianna como sempre. Durante sete anos buscou Saba por bosques e cavernas de toda Irlanda, com a companhia apenas de seus fiéis cães até que perdeu toda esperança e abandonou a busca.
Um dia enquanto caçava em Ben Bulban ouviu que os cães grunhiam com fúria, ele e seus homens correram até eles e viram que os cães tentavam se aproximar de um garoto de longos cabelos ruivos, que estava nu ao pé de uma árvore, enquanto Bran e Skolawn os mantinham a distância. Os fians apartaram os cães e levaram consigo o garoto que, quando aprendeu a falar, lhes contou sua história.
Ele não havia conhecido nem pai nem mãe alguma.Sempre havia vivido num vale cerrado por escarpas altíssimas e havia sido criado por una corsa amorosa.Durante o verão se alimentava de frutos silvestres e durante o inverno se mantinha com as provisões que guardava em sua gruta.
De quando em quando, aparecia um homem de aspecto obscuro que falava com a corsa, umas vezes com ternura e outras com ameaças, mas a cerva sempre fugia dele.Um dia, o homem chegou e esteve por um longo tempo com a corsa, até que a tocou com uma varinha e a obrigou a seguir-lhe sem olhar para trás.O menino tentou ir com eles e não pode mover seu corpo, chorando de raiva e desolação, caiu ao solo e perdeu os sentidos.
Quando voltou a si estava na ladeira da montanha de Ben Bulban e durante dias buscou aquele vale verde, até que os cães o encontraram. Finn se deu conta de que era seu próprio filho e o chamou Oisin, pequeno cervo. Foi conhecido como guerreiro e grande compositor de canções e fábulas.


Lendas celtas irlandesas

19/08/2010

As causas das secas do Ceará



Há muito tempo, os cearenses resolveram que iriam expulsar Bom Jesus, não se sabe qual o motivo. Depois de muita conversa, foi decidido que ele seria mandado embora por mar. Para isso, construíram uma jangada, e nela colocaram o santo com tudo que achavam necessário para a longa viagem. Então, a jangada foi para o mar. Porém, o santo sentiu sede, e os cearenses esqueceram de levar para a jangada as garrafas de água fresca.
Por causa desse infeliz esquecimento, o santo passou uma terrível sede. A tal ponto que, apesar de sua infinita bondade, chegou a dizer essas palavras amargas: - Ô, ingratos filhos do Ceará, chegará o dia em que também vocês não terão água para beber quando sentiram sede! E assim, até hoje, o Ceará passa por constantes e terríveis secas.

Lenda do Brasil


A raposa maravilhosa



Era uma vez um príncipe que saiu pelo mundo à procura de um remédio para seu pai que estava cego. Depois de muito viajar, chegou a uma cidade, onde deparou com uma cena estranha. Um grupo de homens espancava o corpo de um defunto. O rapaz aproximou-se e perguntou aos homens porque faziam aquilo. Responderam que o homem, quando era vivo, lhes devia dinheiro e, por isso, de acordo com o costume da terra, seu cadáver tinha de apanhar. Ouvindo isso, o príncipe pagou todas as dívidas do morto e o mandou enterrar, colocando uma cruz na sua sepultura. Em seguida, recomeçou sua viagem.
Depois de muito andar, encontrou no caminho uma pequena raposa que lhe perguntou:
— Onde vai, meu honrado príncipe?
Respondeu-lhe o moço:
— Ando à procura de um remédio para meu pai que ficou cego.
— Para isso, só existe um recurso, disse a raposinha. E preciso colocar nos olhos do seu pai um pouco de excremento de um papagaio do Reino dos Papagaios. Se quiser seguir meu conselho, vá ao Reino dos Papagaios e entre à meia-noite no lugar em que eles se encontram. Deixe, porém, delado os papagaios bonitos e faladores que estão em lindas e ricas gaiolas. Apanhe um papagaio velho e triste que está numa gaiola de pau muito feia.
O rapaz ouviu, atentamente, as palavras da raposinha e partiu, depressa, para o lugar indicado.
Depois de muito caminhar, encontrou, novamente, a raposinha.
— Onde vai, meu honrado príncipe? perguntou ela. O moço contou o que lhe acontecera.
— Ah! não lhe disse? Por que não seguiu o meu conselho? exclamou a raposa. Vou ensinar-lhe, mais uma vez, o que deve fazer. Entre no Reino dos Cavalos, à meia-noite, com muito cuidado. Há de encontrar lá uma porção de cavalos gordos e bonitos, ricamente arreados. Não monte em nenhum. Num canto, achará um cavalo velho, magro e feio. Apanhe este.
O rapaz agradeceu o conselho e partiu.
Quando chegou ao Reino dos Cavalos, ficou deslumbrado com a beleza dos animais. E teimoso, como sempre, disse consigo mesmo:
— Ora, tantos cavalos bonitos e eu obrigado a escolher um diabo velho e feio! Nada disso!
E montou num dos cavalos mais gordos e lindos. Mas, quando ia saindo, o cavalo deu um relincho tão forte que os guardas acordaram e prenderam o rapaz. Este, mais uma vez, repetiu a sua triste história. Os guardas, com pena, disseram:
—Está bem. Dar-lhe-emos um cavalo, mas você deverá raptar a filha do Rei do Ouro.
O moço prometeu trazer a princesa, mas pediu que lhe dessem um cavalo, para ir mais depressa. Os guardas atenderam ao seu pedido, e o príncipe seguiu viagem.
No caminho, mais uma vez, apareceu-lhe a raposinho mágica.
— Onde vai, meu honrado príncipe? perguntou ela.
O rapaz contou-lhe tudo. A raposa disse:
— Sou a alma daquele homem que estava apanhando depois de morto e cujas dívidas você pagou. Tudo tenho feito para retribuir o que fez por mim. Mas você não tem seguido os meus conselhos e, por isso, tem vivido no meio de perigos e dificuldades. Vou, porém, aconselhá-lo mais uma vez. Vá montado neste cavalo até o palácio do Rei do Ouro. Quando for meia-noite, entre no palácio, agarre a moça, ponha-a na garupa do seu cavalo e saia a toda disparada. Passe pelo Reino dos Cavalos e peça o seu cavalo, passe pelo Reino das Espadas e peça a sua espada, passe pelo Reino dos Papagaios e peça o seu papagaio. Corra, depois, a toda pressa, para sua casa, pois seu pai está muito mal. Não se afaste do caminho, nem dê ouvidos a ninguém até chegar à sua casa.
O príncipe partiu. Chegando ao palácio do Rei do Ouro, raptou a moça. Passando pelo Reino dos Cavalos, recebeu seu cavalo. No Reino das Espadas, recebeu sua espada. No Reino dos Papagaios, recebeu seu papagaio. Continuou a correr. Porém, um pouco adiante, encontrou seus irmãos que andavam à sua procura. Quando viram a linda moça e as coisas valiosas que o rapaz trazia, ficaram cheios de inveja e armaram um plano para roubá-lo. Começaram por convencer o irmão que se afastasse da estrada, a fim de evitar o assalto dos ladrões. O príncipe, esquecendo os conselhos da raposa, atendeu aos irmãos. Quando desceu do cavalo para beber água, foi atirado numa furna que existia dentro da mata. Os irmãos tomaram-lhe a moça, o cavalo, a espada e o papagaio. E seguiram, alegremente, para casa, pensando que o rapaz estava morto.
Quando chegaram ao palácio, aconteceu, porém, um fato inesperado. A moça não quis comer, nem falar. O papagaio meteu a cabeça debaixo da asa e ficou silencioso. A espada cobriu-se de ferrugem. E o cavalo começou a emagrecer e a ficar velho. Que acontecera ao príncipe ? Abandonado na mata, estava para morrer, quando apareceu a raposinha mágica que lhe salvou a vida e o pôs em liberdade. Depois de agradecer à sua benfeitora, correu para casa. Assim que penetrou no palácio, houve um acontecimento que causou espanto a todo mundo. A espada deu um estalo e começou a brilhar. O papagaio voou para seu ombro e pôs-se a falar. A moça soltou uma gargalhada e começou a cantar. E o cavalo, de repente, ficou gordo e bonito e pôs-se a relinchar.
O príncipe, então, apanhou um pouco de excremento do papagaio e colocou nos olhos de seu pai. Imediatamente, o velho recobrou a visão e abraçou o filho, chorando de alegria. O príncipe, dias depois, casou-se com a princesa. Seus irmãos foram castigados e expulsos do reino.
Quando chegou ao Reino dos Papagaios, ficou extasiado ao ver milhares dessas aves em belíssimas gaiolas de diamante, ouro e prata. Não deu importância ao papagaio velho e sujo que se achava num canto. Apanhou a gaiola mais bonita e correu para fora. Mas, quando ia saindo, o papagaio deu um grito estridente e acordou os guardas que agarraram o rapaz. Que queres com este papagaio? perguntaram eles. Vais morrer por causa disso! O príncipe contou-lhes, então, a história da doença do seu velho pai. Os guardas ficaram com pena e disseram:
— Pois bem, poderás levar o papagaio, se nos trouxeres uma espada do Reino das Espadas.
O moço ficou muito triste, mas aceitou a proposta e partiu.
Mais adiante, surgiu na sua frente, de novo, a raposinha que lhe perguntou:
— Por que está tão triste, meu honrado príncipe? O moço contou-lhe, então, o que havia acontecido.
— A culpa foi sua, disse a raposa. Não seguiu o meu conselho. Deixou de lado o papagaio velho e feio e apanhou o papagaio bonito. Contudo, vou ensinar-lhe o que deve fazer no Reino das Espadas. Entre lá, à meia-noite, com muito cuidado. Verá muitas espadas de prata, ouro e diamante. Não pegue em nenhuma. Num canto, encontrará uma espada velha e enferrujada. Apanhe esta. O moço agradeceu o conselho e partiu.
Quando chegou ao Reino das Espadas, ficou maravilhado ao ver tantas espadas belíssimas! E, teimoso como da outra vez, disse consigo mesmo:
— Ora, tanta espada bonita e eu obrigado a levar uma espada velha e enferrujada! Nada disso. Vou levar a mais linda que houver aqui.
E assim fez. Quando ia saindo, a espada de ouro e diamantes, que levava, deu um estalo tão forte que acordou os guardas. O rapaz foi logo preso, e os guardas lhe disseram que ia ser condenado à morte. Contou-lhes, então, o moço a sua triste história. Os guardas ficaram penalizados e declararam que lhe dariam uma espada, se ele lhes trouxesse um cavalo do Reino dos Cavalos. O príncipe não teve remédio senão aceitar a proposta.