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31/08/2010

A rã no poço

Uma rã morava dentro de um poço abandonado. Um dia apareceu perto de sua casa uma grande tartaruga do mar.
Ela começou então a contar vantagens para a tartaruga, dizendo que era muito bom morar dentro do poço.
“Ah, como me sinto bem! É o melhor lugar do mundo. Quando tenho vontade, saio pra caminhar um pouco. Se estou cansada, descanso, apoiada nos tijolos fresquinhos que revestem as paredes de meu poço. Ah, no meu poço tem também muitas moscas. Nem preciso sair, me cansando, pra pegá-las. Estendo a língua e schwupt, recolho uma em pleno vôo.
Às vezes, bóio na água. Delicioso! Fico muito tempo boiando, pensando na vida, de papo pro ar. Outras vezes, nado de um lado pro outro, espirro água, faço uma confusão. Ou de noite, no meu canto, contemplo a nesga do céu estrelado, que ora se reflete nas águas, ora parece estar ao meu alcance. Ou brinco no barro. Já brincou no barro? Maravilhoso!
Olha só essas caranguejos e esses girinos passeando em volta. Eles têm inveja de mim. Porque eu não posso me comparar com eles. Eu sou a dona do meu poço e do meu nariz. Eu tenho uma liberdade imensa. Se você quiser, pode me visitar de vez em quando.
Tanto falou a rã, que a tartaruga do mar ficou curiosa e quis entrar no poço. Mas não conseguiu passar pela entrada, muito estreita para ela. Penou para livrar o casco do limo e das ervas. E disse:
Você, rã, conhece o oceano? Ele ocupa boa parte do mundo, criando imensidões por trás de imensidões de água. Dentro dele existem poços de muitos quilômetros de profundidade, montanhas, florestas e milhões de animais marinhos.
Quando na terra chove semparar, enchendo rios, transbordando lagos, provocando enchentes, toda essa água vai para o oceano e ninguém nota a elevação do nível das águas. E se há seca, os rios secam, os lagos desaparecem, os lençóis d’água dentro da terra diminuem e ninguém nota se o nível das águas baixou alguns centímetros.
E quando estou em casa, nadando no meio das ondas, algumas de muitos metros de altura, ou passeando nas profundezas onde ninguém jamais chegou, percebo o quanto sou feliz de viver nesse imenso oceano.
Nesse momento, a rã, um pouco confusa, despediu-se, porque enão tinha nada para responder.