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16/02/2008

O Caçador

O caçador foi à caça,
À caça, com soía
Os cães já leva cansados,
O falcão perdido havia.
Andando se lhe fez noite
Por uma mata sombria,
Arrimou-se a uma azinheira,
A mais alta que ali via.
Foi a levantar os olhos,
Viu coisa de maravilha:
No mais alto da ramada
Uma donzela tão linda!
Dos cabelos da cabeça
A mesma árvore vestia,
Da luz dos olhos tão viva
Todo o bosque se alumia.
Ali falou a donzela,
Já vereis o que dizia:
– «Não te assustes, cavaleiro,
Não tenhas tamanha frima.
Sou filha de um rei c’roado,
De uma bendita rainha.
Sete fadas me fadaram
Nos braços de mi’madrinha,
Que estivesse aqui sete anos,
Sete anos e mais um dia;
Hoje se acabam nos anos,
Amanhã se conta o dia;
Leva-me, por Deus to peço,
Leva em tua companhia.»
– «Espera-me aqui, donzela,
Té amanhã, que é o dia;
Que eu vou tomar conselho,
Conselho com minha tia.»
Responde agora a donzela,
– «Oh, mal haja o cavaleiro,
Que não teve cortesia:
Deixa a menina no souto
Sem lhe fazer companhia!»

Ela ficou no seu ramo,
Ele foi-se a ter coa tia...
Já voltava o cavaleiro
Apenas que rompe o dia,
Corre por toda essa mata,
A enzina não descobria.
Vai correndo e vai chamando
Donzela não respondia:
Deitou os olhos ao longe,
Viu tanta cavalaria,
De senhores e fidalgos
Muito grande tropelia.
Levavam-na linda infanta,
Que era já contado o dia.
O triste do cavaleiro
Por morto no chão caía;
Mas já tornava aos sentidos
E a mão à espada metia:
– «Oh, quem perdeu o que eu perco
Grande penar merecia!
Justiça faço em mim mesmo
E aqui me acabo coa vida.»

Romanceiro, Almeida Garrett