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17/08/2008

Uardan, o Açougueiro, e e filha do Vizir


Conta-se, entre tantas outras histórias, que vivia certa vez no Cairo um homem chamado Uardan que era açougueiro de profissão. Todos os dias, uma jovem de notável beleza, mas de olhos cansados e cor pálida, vinha a sua loja, seguida por um carregador. Comprava carnes e testículos de carneiro, pagava com moedas de ouro, colocava as carnes e os testículos no cesto do carregador e ia percorrer o mercado, comprando algo em cada loja. Repetiu essa rotina diária tantas vezes que Uardan foi invadido pela curiosidade e quis desvendar o mistério que se escondia atrás da jovem. Um dia, o carregador da moça passou sozinho em frente do açougue. Uardan aproveitou para oferecer-lhe de presente uma cabeça de carneiro e dizer-lhe: "Estou perplexo a respeito da moça que te emprega todos os dias. Quem é ela? De onde vem? Que faz com os testículos de carneiro? Por que sua face e olhos estão sempre cansados?" - Por Alá, respondeu o carregador, estou tão curioso a seu respeito quanto tu. Mas contar-te-ei o que sei. Quando todas as compras estão feitas, minha ama vai ao mercador cristão da esquina e adquire por um dinar vinho velho de qualidade e, depois, me conduz até a entrada dos jardins do vizir. Lá, veda-me os olhos com um pedaço de pano, toma-me pela mão e vamos andando até uma escada, que descemos juntos. Seus servidores levam o cesto cheio e me entregam outro vazio, com meio dinar pelo meu trabalho. Depois, conduzem-me de volta até a entrada dos jardins, libertam-me os olhos e me mandam embora. Nunca consegui saber o que fazia com toda essa quantidade de carnes, frutas, amêndoas, que me faz carregar até aquele subterrâneo todos os dias. - Aumentaste minha perplexidade, ó carregador, disse Uardan. No dia seguinte, decidido a esclarecer o mistério a qualquer custo, Uardan esperou que a mulher passasse por sua loja com as compras e seguiu-a de modo a não ser descoberto. Na entrada dos jardins do vizir, escondeu-se atrás de uma árvore, e quando, após dispensar o carregador, a moça dirigiu-se aos fundos do jardim, Uardan tirou os sapatos e continuou a segui-la tão furtivamente quanto um gato. Viu-a parar diante de uma rocha, virar a rocha sobre si mesma graças a determinado gesto e desaparecer numa escada que descia na terra. Após deixar passar um momento, Uardan aproximou-se da rocha, manipulou-a com o jeito que observara a moça usar e desceu a escada. E eis o que descobriu, como ele mesmo me contou: "Assim que meus olhos se habituaram à escuridão, vi uma porta fechada de trás da qual vinha uma tempestade de risos e grunhidos. Dirigi-me para lá, olhei pelo buraco da fechadura e vi, abraçados em cima de um divã e se debatendo em mil contorções lascivas, a moça que eu estava seguindo e um macaco enorme, com um rosto quase humano. "Após um momento, a moça libertou-se do abraço do macaco , pôs-se de pé, tirou toda a roupa e voltou a deitar, completamente nua, no mesmo divã. E vi o macaco saltar sobre ela e cobri-la. Quando tinha terminado o ato, levantou-se, deu dois passos e cobriu-a de novo. Repetiu o mesmo ato dez vezes seguidas, enquanto ela lhe respondia com prazer e emoção como se fosse um homem. Finalmente, os dois se separaram, exaustos, e deitaram-se em total imobilidade. "Mesmo em meio a meu espanto, disse a mim mesmo: Agora ou nunca.' E, quebrando a porta com o ombro, precipitei-me na sala, brandindo minha faca de açougueiro, e cortei com um golpe a cabeça do macaco. A moça, abrindo os olhos, viu-me de faca em punho, exalou um grito de terror tão angustiado que receei vê-la cair morta. Mas, percebendo que eu não lhe queria mal, recobrou pouco a pouco os sentidos e me reconheceu. Então disse: `Ó Uardan, é assim que recompensas uma cliente fiel?' - Ó inimiga de tua própria salvação, bradei, não são os homens bastante fortes para que tenhas que procurar o gozo com tais substitutos? - Ó Uardan, respondeu, escuta enquanto te contar a causa de tudo isso e talvez me perdoes. Sou filha única do vizir. Até a idade de 15 anos, vivi tranquilamente no palácio paterno. Mas, um dia, um escravo preto ensinou-me aquilo que tinha que aprender de alguma forma e tomou de mim aquilo que tinha para dar. Talvez saibas que não existe nada igual a um negro para inflamar o interior de uma mulher, especialmente quando esse esterco preto é o primeiro que o jardim recebe. Meu jardim tornou-se tão esfomeado que precisava do preto para alimenta-lo a todo momento. "Após um certo tempo, o negro morreu na sua tarefa, e eu contei minha desgraça e meu abandono a uma velha comadre. Abanou a cabeça e disse: `A única coisa que pode substituir um negro é um macaco, minha filha. Os macacos são inimitáveis neste ato.' "Pensei: `Por que não tentar?' Um dia, estava na janela do palácio quando um circo passou à minha frente. Incluía vários macacos. Tirei meu véu e fixei meu olhar no maior deles. Imediatamente, o animal quebrou as suas cadeias e fugiu. Deu uma volta imensa e entrou no palácio. Correu directamente até meu aposento, tomou-me nos braços e fez mais de dez vezes seguidas o que o viste fazer hoje. Guardei-o em segredo. Mas, um dia, meu pai ouviu falar de minha tara e quase me matou. Tive que construir este subterrâneo para proteger meu amante e continuar a gozar os prazeres com ele. "Todos os dias, trazia-lhe comida e bebida. Infelizmente , hoje, o destino me traiu. Descobriste meu esconderijo e mataste meu companheiro." "Tentei consolá-la, dizendo: `Uma coisa está certa, ama querida. Posso substituir merecidamente o macaco. Podes julgar por ti mesma.' E montei nela naquele dia e todos os dias seguintes. E meu desempenho era igual ao do macaco e do negro mortos. `Assim mesmo, as coisas estragaram-se. A moça ficava cada vez mais quente e mais insaciável, e um homem, por mais vigoroso que seja, não é um macaco. Aguentei o que podia. Depois, consultei uma mulher entendida em preparos químicos e mágicos. `Não saberias como reduzir o apetite tempestuoso de uma mulher?' perguntei-lhe. - A coisa é fácil, disse, para quem sabe preparar as misturas que preparo. "Preparou uma mistura de ervas e disse-me para copular com minha amiga e logo em seguida colocar-lhe o produto entre as coxas. Segui as instruções, e qual não foi meu espanto ao ver dois vermes saírem dali e andarem pelas pernas da mulher. Examinando-os, vi que eram duas enguias, uma amarela e outra preta. "Quando contei essas coisas à curandeira, disse-me: `Dá graças a Deus. Essas duas enguias eram a causa dos desejos imoderados de que te queixavas. Uma delas nasceu da copulação com o negro, a outra da copulação com o macaco. Agora, a mulher será como as demais mulheres.' "E assim foi. Como gostava dela, pedi-a em casamento, e como estava acostumada a mim, ela aceitou. Vivemos felizes. Mas reconheço que, muitas vezes, lamento aquele incêndio de desejos que as ervas da curandeira apagaram em minha mulher."


Waiting for her Beloved