( 391x375 , 253kb)


06/01/2011

A Lenda de Ísis e os Escorpiões



Eu sou Ísis, senhora da magia, Senhora dos Sortilégios.
Saí de minha casa, onde meu irmão, Seth, me havia aprisionado, pois Thot me havia chamado. Thot, o duplamente grande, Thot, o senhor da justiça e da verdade na terra e nos céus. Ele me disse, quando o encontrei:
- Venha, ó Ísis, agora é bom escutar: pois há vida para o homem que se deixa guiar pelos sábios conselhos de outrem. Esconde-se tu e teu filho porque ele {Hórus} pode chegar até nossa esfera de poder. Seus membros vão crescer, e também a força dele se fará poderosa, e ele com altivez virá a ascender ao Trono de seu pai, a quem vingará, e a dignidade de governante das duas terras será de novo seu.
Fui-me quando o poderoso Rá descendia de sua gloria para o lado ocidental, e o manto da noite começava a tingir de escuridão o céu. Comigo viajavam sete escorpiões, e seus nomes eram: Tefen e Befen, Mestet e Mestetef, Petet, Tetet e Matet.Atras de mim, vinham Tefen e Befen. Mestet e Mestetef vigiavam meus lados. A minha frente iam Petet, Tetet e Metet, vigiando e protegendo o caminho para que nada pudesse atrasar minha viagem. Eu lhes ordenei em voz alta minhas palavras, e meus comandos atravessaram o vento e eles ouviram: "Não reconheçam a nenhum da terra negra, não saúdem a nenhum das terras vermelhas, não atentem a nenhuma criatura, seja nobre, seja plebéia, mantenham-se com vossas mentes no caminho a ser percorrido."
Então vaguei, defendida pelos escorpiões, pela terra do Egito. E assim, chegamos a Per-Sui, onde se venera Sobek, o deus crocodilo, e a cidade das Deusas Gêmeas, ali, onde começam os pântanos do Delta do Nilo, onde abundam papiros e os pantaneiros vivem e caçam.
Quando chegamos perto das casas onde vivem os pantaneiros passamos próximos a uma mansão, onde vivia uma abastada mulher, de nome Usert. Ela se achava na porta, e desde muito longe me viu cansada, dolorida e de bom grado eu teria me refeito em sua casa, mas, quando fui falar-lhe, ela fechou a porta, com medo de meus guardiões.
Continuei por meu caminho e encontrei abrigo junto a uma mulher do povo, que me concedeu hospitalidade. Porém, Mestet e Mestetef, Petet, Tetet e Matet e Befen estavam em grande consternação, devido ao tratamento da rica mulher. E uniram seu veneno sob o ferrão de Tefen, que se tornou sete vezes mais poderoso. Tefen regressou a casa da rica mulher, Usert, e se esgueirou para dentro. Uma vez lá, com sua picada poderosa ferroou o filhinho de Usert, e um fogo estranho se deflagrou. Não havia água para combatê-lo, e foi o céu que enviou a água, num grande prodígio, pois a estação chuvosa ainda estava longe.
A mulher de nome Usert, que nos havia negado abrigo, chorava, e seu coração estava triste, por que não sabia se seu filhinho seria encontrado com vida ou não. Ela estava vagando pelo povoado, chorando, mas ninguém a acudiu em seu desespero. E o som de suas lamentações chegou a mim, e meu corações se compadeceu da dor dela. Assim, resolvi trazer dos mortos seu menino, livre de toda a culpa, e juntas fomos ao local onde jazia seu filho amado. Eu disse a mulher:
- Venha, venha mim! Observa a minha boca que dá a vida, que tem o poder de destruir as criaturas vis, com os dizeres de algumas palavras, que por meu pai me foi dado a conhecer. Sou Sua filha amada, sangue de Seu sangue!
E eu, Ísis, a senhora da magia, cuja voz faz com que se retorne da morte disse em voz alta as Palavras de Poder, as palavras que pode ouvir ainda que na morte, e pus minha mãos sobre o corpo do garotinho a quem devia devolver a vida. Frio e imóvel estava seu corpo, devido ao sete vezes poderoso veneno de Tefen. Então pronunciei um sortilégio mágico contra o veneno do Escorpião Tefen:
- Oh, veneno de Tefen, sai desse corpo, e volte a terra!
- Veneno de Befen, não avances, volte a terra!
- Por que eu sou Ísis, a Grande Maga, Senhora dos Sortilégios. Pratico a Alta Magia, e me escutem vos, todos os répteis!
- Caia, veneno de Mestet!
- Decline, veneno de Mestetef!
- Não circule, veneno de Petet e Tetet!
- Não se aproximes das partes vitais, veneno de Matet!
Agora vem o sortilégio contra o veneno, oferecido por Geb à Ísis:
- Não clame aos das terras vermelhas, aponta teu olhar para as nobres senhoras que estão em suas casas até que cheguemos aos lugares onde nos proteger em Jeb, a terra de Buto. O menino viverá, o veneno vai minguar. Como Hórus se fez forte pela intervenção de sua mãe, o que foi ferido se fará forte também.
Então o menino se recuperou, e o fogo provocado na casa foi totalmente extinto, e o céu estava satisfeito com as palavras de Ísis, a Grande Maga. Usert me trouxe algumas jóias e riquezas e os levou a casa da mulher humilde, como recompensa por haver aberto a porta para mim, quando eu, cansada e dolorida pedi pouso, para refazer-me das fadigas.
E agora os homens das suas terras fazem massa de farinha de trigo e sal, depositando-a sobre as feridas infringidas pelo ferrão do escorpião, e logo recitam as Palavras de Poder que eu recitei sobre o filho de Usert quando o sete vezes poderoso veneno de Tefen estava em seu corpo, por que eu sou Ísis, a Grande Maga, Senhora dos Sortilégios.


Contos e Lendas da Mitologia Egípcia