Era uma vez um gigante que andava à procura de casa. Tarefa difícil.
Os gigantes, antigamente, moravam em castelos e, segundo contam histórias desses tempos, a sombra que a sua imensa altura projectava sobre os povoados aterrorizava as gentes. Dantes.
Este não era má pessoa. À primeira vista não parecia, quem o olhasse de baixo. Mas, passada a primeira impressão, percebia-se que era um bom gigante.
Também tivera um castelo à sua medida. Dificuldades várias tinham levado o castelo à ruína. Chovia lá dentro, mesmo quando não chovia cá fora. Problemas de canalizações ou do que fosse, o facto é que a morada dos antepassados do bom gigante foi vendida por tuta-e-meia e, depois de grandes obras de restauro, transformada numa estalagem de juventude.
Mas, como o bom gigante já não era novo, teve de ficar à porta.
Dormir ao relento é muito desconfortável, qualquer que seja o tamanho de quem se veja obrigado a tal experiência. Por isso o gigante pôs-se a procurar casa.
Como se começou por dizer, a tarefa era difícil. Hoje, ninguém constrói casas para gigantes. Três assoalhadas, quatro assoalhadas ou pequenas moradias com um quintalinho, ainda se arranja. Mas um gigante precisa de mais espaço.
- Nem que andasse sempre de gatas conseguia viver em casas assim - lamentava-se o gigante.
Chegou a morar, um mês, numa casa, só por causa do corredor, que era muito comprido. Para dormir, estendia-se no corredor, mas não podia dobrar as pernas. Uma grande contrariedade para quem, como era o caso dele e é o meu, gosta de dormir de lado, com as pernas encolhidas.
Alugou depois uma vivenda, que tinha garagem. Dormia na garagem e dispensava a casa. Mas como a porta automática da garagem se abria, por qualquer movimento mais sacudido que fizesse durante o sono, apanhou um resfriamento e, muito constipado e desiludido, teve de desistir desta solução.
Mas porque é que ele não mandava construir uma casa à sua altura, como quem faz um fato no alfaiate, por medida? Isto qualquer um pode perguntar. Ele que responda.
- Não tenho dinheiro que chegue - explicava, muito pesaroso. - Uma casa para um gigante não é uma casa qualquer. Exige muito tijolo, muito cimento, muito azulejo. Se eu não fosse tão comprido...
Um médico, que ele consultou, disse-lhe, meio a sério, meio a brincar:
- Isso resolve-se. Corta-se um bocado. O difícil é a escolha. Ou as pernas ou a cabeça.
O gigante saiu do consultório, a correr. Nem pagou. Bem feito para o médico não se fazer de engraçado.
Ao fim de muitas voltas, alugou um armazém abandonado, à beira de um cais. Não tinha muitas comodidades, mas era avantajado como lhe convinha. A renda também era avantajada, o que já não lhe convinha tanto.
Para poder pagar o aluguer do armazém, teve de procurar trabalho. Vá que vá que conseguiu arranjar emprego, sem grandes demoras. E perto de casa.
O bom gigante trabalha, agora, nos carregamentos e descarregamentos dos barcos acostados ao cais. Faz as vezes de guindaste e dá muito boa conta do serviço. Um bocado cansativo, mas ele não se queixa.
A vida, hoje em dia, não está fácil para ninguém. Nem para os gigantes.
Os gigantes, antigamente, moravam em castelos e, segundo contam histórias desses tempos, a sombra que a sua imensa altura projectava sobre os povoados aterrorizava as gentes. Dantes.
Este não era má pessoa. À primeira vista não parecia, quem o olhasse de baixo. Mas, passada a primeira impressão, percebia-se que era um bom gigante.
Também tivera um castelo à sua medida. Dificuldades várias tinham levado o castelo à ruína. Chovia lá dentro, mesmo quando não chovia cá fora. Problemas de canalizações ou do que fosse, o facto é que a morada dos antepassados do bom gigante foi vendida por tuta-e-meia e, depois de grandes obras de restauro, transformada numa estalagem de juventude.
Mas, como o bom gigante já não era novo, teve de ficar à porta.
Dormir ao relento é muito desconfortável, qualquer que seja o tamanho de quem se veja obrigado a tal experiência. Por isso o gigante pôs-se a procurar casa.
Como se começou por dizer, a tarefa era difícil. Hoje, ninguém constrói casas para gigantes. Três assoalhadas, quatro assoalhadas ou pequenas moradias com um quintalinho, ainda se arranja. Mas um gigante precisa de mais espaço.
- Nem que andasse sempre de gatas conseguia viver em casas assim - lamentava-se o gigante.
Chegou a morar, um mês, numa casa, só por causa do corredor, que era muito comprido. Para dormir, estendia-se no corredor, mas não podia dobrar as pernas. Uma grande contrariedade para quem, como era o caso dele e é o meu, gosta de dormir de lado, com as pernas encolhidas.
Alugou depois uma vivenda, que tinha garagem. Dormia na garagem e dispensava a casa. Mas como a porta automática da garagem se abria, por qualquer movimento mais sacudido que fizesse durante o sono, apanhou um resfriamento e, muito constipado e desiludido, teve de desistir desta solução.
Mas porque é que ele não mandava construir uma casa à sua altura, como quem faz um fato no alfaiate, por medida? Isto qualquer um pode perguntar. Ele que responda.
- Não tenho dinheiro que chegue - explicava, muito pesaroso. - Uma casa para um gigante não é uma casa qualquer. Exige muito tijolo, muito cimento, muito azulejo. Se eu não fosse tão comprido...
Um médico, que ele consultou, disse-lhe, meio a sério, meio a brincar:
- Isso resolve-se. Corta-se um bocado. O difícil é a escolha. Ou as pernas ou a cabeça.
O gigante saiu do consultório, a correr. Nem pagou. Bem feito para o médico não se fazer de engraçado.
Ao fim de muitas voltas, alugou um armazém abandonado, à beira de um cais. Não tinha muitas comodidades, mas era avantajado como lhe convinha. A renda também era avantajada, o que já não lhe convinha tanto.
Para poder pagar o aluguer do armazém, teve de procurar trabalho. Vá que vá que conseguiu arranjar emprego, sem grandes demoras. E perto de casa.
O bom gigante trabalha, agora, nos carregamentos e descarregamentos dos barcos acostados ao cais. Faz as vezes de guindaste e dá muito boa conta do serviço. Um bocado cansativo, mas ele não se queixa.
A vida, hoje em dia, não está fácil para ninguém. Nem para os gigantes.