No já referido lugar de Mourilhe do Concelho de Montalegre, conta-se também esta lenda, igualmente relacionada com a pastorícia.
Havia naquela aldeia um pastor que levava diariamente para o monte uma manada de vacas leiteiras. Todas elas eram ubérrimas, de pura raça barrosã; mas uma delas passava a perna às demais, quer pela produção de leite, quer pela sua imponência e garbosidade.
Era, por essas duas razões, a menina bonita do pastor, que a dispensava das tarefas mais pesadas da lavoura e tratava com particular desvelo e carinho.
Um dia, porém, a vaca preferida, que enchia diariamente um amplo tarro do precioso líquido, deixou de dar leite, com grande pesar e estranheza do pastor que não encontrava nenhuma explicação para isso.
Pensando que estaria doente, levou-a a um entendido da vila, que a examinou atentamente e lhe garantiu que ela estava sã como um pêro.
Começou, então, a vigiá-la atentamente, não tirando os olhos dela um segundo, desde que saiu da corte, até que chegou ao monte. Aí, continuou a segui-la, passo a passo, com redobrada atenção.
Tudo decorria com naturalidade: a vaca tosava pachorrentamente a erva tenra e já andava farta como um bombo, até que, ao fim da tarde, deixou de pastar e começou a afastar-se sorrateiramente das companheiras, em direcção à mata, ali próxima.
Seguiu-a discretamente, à distância, pata não a espantar e, para ver em que paravam as modas; e verificou que ele se deteve ao pé duma cova que ele não conhecia, por estar encoberta por espesso mato.
Então, aproximou-se, pé ante pé, pôs-se a espreitar e viu sair da cova uma Senhora muito linda, com uma vasilha numa das mãos e uma facha de feno na outra.
Pôs o feno à frente da vaca e, enquanto ela comia, a moira começou a ordenhá-la.
Estava descoberto o mistério: a vaca não dava leite na corte, porque a moira lho tirava no monte. Agastado com aquele atrevimento e desaforo, saltou do seu esconderijo e gritou, fora de si:
- Ah! Sua desavergonhada! Espera aí, que vais pagá-las com língua de palmo.
E, dizendo isto, avançou para ela, com a aguilhada no ar, para lhe dar umas boas bordoadas. Mas, ao chegar junto dela, ficou desarmado, porque a linda moira, com um sorriso encantador e uma voz melíflua, capaz de amansar as próprias feras, se antecipou e lhe disse:
- Amigo, reconheço que tens boas razões para te sentires ofendido. Mas, por favor, não te amofines nem me ralhes, que eu vou compensar-te generosamente pelo leite que te roubei.
Dito isto, atou um vincelho de giestas nos chifres da sua amiga vaca e, voltando-se para o dono, acrescentou:
- Vais ter uma alegre surpresa, quando chegares a casa, e volta cá todos os dias, que eu te farei muito rico. Mas, atenção: não contes nada a ninguém, se não, deitas tudo a perder.
O pastor, já mais calmo e reconciliado com a moira, prometeu ir lá todos os dias com a vaca e regressou a casa com a manada, a cismar na anunciada surpresa.
Chegado à aldeia, meteu as vacas na loja, fechou a porta e pôs-se a olhar para o vincelho de giesta. Qual não foi o seu espanto, quando viu que ele se transformara num lindo cordão de oiro que dava a volta aos chifres da vaca.
Cheio de contentamento, pegou nele, levou-o para casa e escondeu-o na arca do bragal, debaixo dos lençóis de linho, com a intenção de não dizer nada à mulher. Mas ela desconfiou que algo de anormal se passava e não o largou, enquanto ele não pôs tudo em pratos limpos.
Então, não teve remédio senão mostrar-lhe o cordão que ela se apressou a pôr ao pescoço, contente como um cochicho, e cheia de vaidade, porque em toda a aldeia não havia outro como ele.
No dia seguinte, voltou ao monte, como prometera, à procura da moira. Mas, contra a sua expectativa, ela não apareceu. Esperou, esperou... e nada: da moira nem rasto!
Desiludido e triste, voltou para casa, a tentar descobrir a razão que levara a moira a faltar ao prometido. E a sua tristeza aumentou, quando chegou a casa e verificou que o cordão de oiro se tinha transformado no vincelho de giesta.
Então, lembrou-se de que a moira lhe tinha recomendado muito que não dissesse nada a ninguém, e reconheceu que a culpa era toda sua.
Revoltado consigo mesmo, disse mal da sua sorte e aprendeu à sua custa que o povo tem razão, quando diz que o silêncio é de oiro e que o segredo é a alma do negócio.
Mais tarde, contou aos amigos a peripécia que lhe acontecera e eles puseram a esse local o nome de Cova da Moira.
Havia naquela aldeia um pastor que levava diariamente para o monte uma manada de vacas leiteiras. Todas elas eram ubérrimas, de pura raça barrosã; mas uma delas passava a perna às demais, quer pela produção de leite, quer pela sua imponência e garbosidade.
Era, por essas duas razões, a menina bonita do pastor, que a dispensava das tarefas mais pesadas da lavoura e tratava com particular desvelo e carinho.
Um dia, porém, a vaca preferida, que enchia diariamente um amplo tarro do precioso líquido, deixou de dar leite, com grande pesar e estranheza do pastor que não encontrava nenhuma explicação para isso.
Pensando que estaria doente, levou-a a um entendido da vila, que a examinou atentamente e lhe garantiu que ela estava sã como um pêro.
Começou, então, a vigiá-la atentamente, não tirando os olhos dela um segundo, desde que saiu da corte, até que chegou ao monte. Aí, continuou a segui-la, passo a passo, com redobrada atenção.
Tudo decorria com naturalidade: a vaca tosava pachorrentamente a erva tenra e já andava farta como um bombo, até que, ao fim da tarde, deixou de pastar e começou a afastar-se sorrateiramente das companheiras, em direcção à mata, ali próxima.
Seguiu-a discretamente, à distância, pata não a espantar e, para ver em que paravam as modas; e verificou que ele se deteve ao pé duma cova que ele não conhecia, por estar encoberta por espesso mato.
Então, aproximou-se, pé ante pé, pôs-se a espreitar e viu sair da cova uma Senhora muito linda, com uma vasilha numa das mãos e uma facha de feno na outra.
Pôs o feno à frente da vaca e, enquanto ela comia, a moira começou a ordenhá-la.
Estava descoberto o mistério: a vaca não dava leite na corte, porque a moira lho tirava no monte. Agastado com aquele atrevimento e desaforo, saltou do seu esconderijo e gritou, fora de si:
- Ah! Sua desavergonhada! Espera aí, que vais pagá-las com língua de palmo.
E, dizendo isto, avançou para ela, com a aguilhada no ar, para lhe dar umas boas bordoadas. Mas, ao chegar junto dela, ficou desarmado, porque a linda moira, com um sorriso encantador e uma voz melíflua, capaz de amansar as próprias feras, se antecipou e lhe disse:
- Amigo, reconheço que tens boas razões para te sentires ofendido. Mas, por favor, não te amofines nem me ralhes, que eu vou compensar-te generosamente pelo leite que te roubei.
Dito isto, atou um vincelho de giestas nos chifres da sua amiga vaca e, voltando-se para o dono, acrescentou:
- Vais ter uma alegre surpresa, quando chegares a casa, e volta cá todos os dias, que eu te farei muito rico. Mas, atenção: não contes nada a ninguém, se não, deitas tudo a perder.
O pastor, já mais calmo e reconciliado com a moira, prometeu ir lá todos os dias com a vaca e regressou a casa com a manada, a cismar na anunciada surpresa.
Chegado à aldeia, meteu as vacas na loja, fechou a porta e pôs-se a olhar para o vincelho de giesta. Qual não foi o seu espanto, quando viu que ele se transformara num lindo cordão de oiro que dava a volta aos chifres da vaca.
Cheio de contentamento, pegou nele, levou-o para casa e escondeu-o na arca do bragal, debaixo dos lençóis de linho, com a intenção de não dizer nada à mulher. Mas ela desconfiou que algo de anormal se passava e não o largou, enquanto ele não pôs tudo em pratos limpos.
Então, não teve remédio senão mostrar-lhe o cordão que ela se apressou a pôr ao pescoço, contente como um cochicho, e cheia de vaidade, porque em toda a aldeia não havia outro como ele.
No dia seguinte, voltou ao monte, como prometera, à procura da moira. Mas, contra a sua expectativa, ela não apareceu. Esperou, esperou... e nada: da moira nem rasto!
Desiludido e triste, voltou para casa, a tentar descobrir a razão que levara a moira a faltar ao prometido. E a sua tristeza aumentou, quando chegou a casa e verificou que o cordão de oiro se tinha transformado no vincelho de giesta.
Então, lembrou-se de que a moira lhe tinha recomendado muito que não dissesse nada a ninguém, e reconheceu que a culpa era toda sua.
Revoltado consigo mesmo, disse mal da sua sorte e aprendeu à sua custa que o povo tem razão, quando diz que o silêncio é de oiro e que o segredo é a alma do negócio.
Mais tarde, contou aos amigos a peripécia que lhe acontecera e eles puseram a esse local o nome de Cova da Moira.