"O meu sogro era um homem que madrugava muito. Teve 24 filhos, era carpinteiro e tratava de muitas terras para poder governar a casa. Ia então ele de madrugada, a passar ao pé da barragem do Peneireiro, onde tratava de uma terra, e, chegando junto ao ribeiro, viu uma manada de recos num lameiro, pequenos e grandes. E, claro, preparou-se logo pra deitar as mãos a um. Como tinha muitos filhos, bem jeito lhe dava agarrá-lo. Só que, ao tempo que o ia agarrar, apareceu-lhe uma gaija em lugar do reco e a dizer:
— Crí’ós![cria-os]
Queria ela dizer, nat’ralmente, que, se quisesse porcos pra comer, que os criasse. E neste entretanto, os outros transformaram-se também numas poucas de moças e desapareceram a dançar. E o pobre homem ficou lá sozinho. E desconsolado. Contou isto a vida toda."
PARAFITA, Alexandre, Património Imaterial do Douro (Narrações Orais)