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05/06/2010

O falso monge



Numa das várias vilas antigas do Japão, morava uma velhinha que havia perdido, seu companheiro há pouco tempo, e a cada dia que passava a saudade batia mais forte. Quando isso acontecia, ela rezava muito, às vezes quase o dia inteiro.
Num dia, alguém bateu à porta, quando ela atendeu, deparou-se com o suposto monge viajante que lhe pediu :
- Senhora, estou perdido por esses cantos, será que eu poderia passar esta noite aqui?
A velhinha então pensou: “Puxa, se ele é monge, pelo menos poderá rezar direito, assim como manda o budismo”.
Então ela aceitou a proposta, e logo que ele se acomodou, ela lhe serviu vários tipos de comida.
Logo após o homem ter se esbaldado com tanta comida, a velhinha lhe fez um pedido:
- Senhor monge, o senhor poderia rezar pela alma de meu marido que faleceu recentemente?
Depois de ouvir a senhora, ele ficou um pouco perturbado. Na verdade o homem nem monge era, ele vestia trajes de monge e raspava a cabeça apenas para dormir de graça nas casas das pessoas. Assim o homem pensou: “Como eu vou sair dessa?”
Sem saber direito como proceder, ele ficou olhando para toda a casa, até que viu um buraco com um pequeno ratinho. Então o homem pensou em falar frases baseando-se nos movimentos do ratinho. Em pouco tempo estava tudo preparado, e a velhinha sentado no oratório disse em voz alta:
- Meu marido, esse monge que veio aqui hoje, vai rezar por sua alma, graças ao grande Buda!
O monge, que já estava sem jeito, resolveu não recusar a proposta e gaguejando, criou coragem e disse olhando para o ratinho:
- Devagar, devagar ele vem chegando...
Ele falava com tal afirmação que parecia estar rezando de verdade. E como a velhinha estava muito concentrada continuou :
- Devagar e devagar ele está espiando...
- Devagar e devagar ele parece estar cochichando...
As frases nem de longe pareciam reza, mas a velhinha estava crente na identidade do monge, que percebendo continuou:
- Devagar e devagar ele vai espiando... E depois cochichando...
- Agora ele está saindo... Agora saiu...
No dia seguinte a velhinha agradeceu o falsário, que saiu sem falar nada e logo depois de ter andado um pouco, começou a rir por ter pregado mais uma peça. A velhinha no entanto começou a rezar da forma que havia aprendido.
Num certo dia, um ladrão entrou na casa da velha senhora e, quando estava entrando para escolher o que roubar, ele ouviu:
- Devagar, devagar ele está chegando...
Por um momento o ladrão ficou assustado. Não havia ninguém naquele cômodo. Como seria possível ?
Ele então continuou a escolher os objetos:
- Devagar e devagar ele está espiando...
O ladrão, incomodado, falou com si próprio:
- Será que a pessoa que mora aqui consegue enxergar no escuro ?
De repente ele ouviu:
- Ele está cochichando...
O ladrão assustado, começa a dar meia volta para sair...
E de surpresa ouve:
- Devagar ele está saindo...
O ladrão foi embora correndo!
A velhinha, no entanto, estava tão entretida pela reza que nem percebeu o barulho na casa...

Lenda do Japão