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02/03/2008

O Carregador e as Jovens Mulheres


Havia certa vez na cidade de Bagdá um adolescente que era celibatário por convicção e hammal por profissão. Certo dia, como estava encostado preguiçosamente em seu cesto na praça do mercado, uma mulher, usando um véu de seda enfeitado com ouro e brocado, parou diante dele e ergueu ligeiramente o véu. A.pareceram dois olhos negros com longas pestanas, feitos para fazer um homem sonhar. Disse com voz melodiosa: "Moço, pega o cesto e segue-me”.O carregador a seguiu. Percorreram todo o mercado. A dama comprou vinho, maçãs, marmelos, pêssegos de Omã, jasmins de Alepo, nenúfares de Damasco, pepinos, limões, cidras, flores. Cada vez, colocava as compras no cesto e dizia ao hammal: "Carrega e segue-me”.Depois, comprou carne, mel, pastéis recheados, uva, bananas. - Se me tivesse avisado, eu teria trazido uma mula para tomar conta de tantas coisas, queixou-se o carregador. Por única resposta, a dama sorriu-lhe e comprou ainda dez variedades de águas: água de flor de laranja, água de rosas e outras. Comprou bebidas alcoólicas. E cada vez, repetia com o sorriso: "Carrega e segue-me”.E ele seguia, pensando que acertou o sábio quando disse: Se a beleza comete um delito, seus encantos inventam-lhe mil desculpas. Finalmente, acabou de fazer compras e levou o hammal até uma casa suntuosa. Bateu delicadamente a moça à porta, e outra moça igualmente linda abriu os dois batentes. Entraram e chegaram a uma sala espaçosa que dava para um pátio central. Embelezavam a sala cortinas, vasos, móveis finos incrustadas de ouro. No meio da sala havia um leito de mármore e nele se deitava uma moça que possuía todas as graças próprias às mulheres. Foi dela sem dúvida que disse o poeta: Quem te comparou a um ramo na primavera cometeu um erro e uma falsificação. O ramo, gostamos de vê-lo revestido. E tu, gostamos de ver te desnuda. A moça levantou-se, e as três irmãs retiraram as compras do cesto e arrumaram-nas numa mesa. Depois, pagaram dois dinares ao carregador, dizendo-lhe: "Vira as costas e some”.Mas ele parecia pregado no chão a contemplar as três belezas, pensando: "Nunca vi nada igual em toda a minha vida”.E notou que não havia homens naquela casa. A mais velha das irmãs disse lhe: "Por que não te vás? Achas a paga insuficiente?" E voltando-se para uma irmã, disse-lhe: "Dá-lhe mais um dinar." Mas ele opôs-se: "Por Alá, minhas senhoras, minha paga normal é apenas um dinar. Já recebi demais de vós. Mas não consigo compreender por que viveis sozinhas. As mulheres não podem ser realmente felizes sem homens. Um minarete isolado não tem valor, a menos que seja um dos quatro minaretes que ornam a mesquita. Vós sois três. Falta-vos o quarto. E como diz o poeta, um acorde nunca será harmonioso sem os quatro instrumentos reunidos: a harpa, o alaúde, a cítara e pífaro. Vós sois três: falta-vos o pífaro." - Mas, ó moço, nós somos virgens e tememos a indiscrição dos homens. O carregador gritou: “Juro pelas vossas vidas que sou um homem fiel e discreto. E sou culto. Estudei a história e li muitos livros. E só falo de coisas agradáveis. Sigo os dizeres do poeta: O nobre de coração nunca divulga um segredo. Coloco os segredos que me confiam num cofre. Depois, jogo a chave nos rios ou nos mares. - Neste caso, fica connosco, disse a que havia feito as compras. E ele, vendo-se já montado nas três irmãs, sentiu-se num outro mundo, e mal acreditava que não estava sonhando. Depois veio o vinho e depois, as carícias. Embriagado, cantou:
Como é curta a noite do encontro
E como é longo o dia da separação!
Depois, tomou uma segunda taça e cantou baixinho estes versos:
A felicidade te acompanha todos os dias apesar dos olhos dos invejosos.
E possam teus dias continuarem brancos, enquanto os dos invejosos se tomem cada vez mais negros.
Breve estavam todos cantando e dançando. O hammal abraçava cada uma das moças por sua, vez e beijava-a. E dizia-lhe gracejos. Quando reinou a alegria, a mais jovem ergueu-se de repente e despojou se de todas as suas vestes e saltou na bacia cheia de água que estava no pátio. Pegava água nas mãos e deixava-a cair entre as coxas para refrescá-las. Depois, saiu da bacia e correu a lançar-se no colo do jovem carregador. Indicando as coisas que estava entre as suas pernas, perguntou: "Meu querido, sabes como se chama isto?" Ah! Ah! Respondeu o hammal. Geralmente, chamam-na a casa da compaixão.
A moça gritou: "Iú! Iú! Não tens vergonha?" E, segurando-o pela nuca, começou a dar-lhe palmadas. - Não, não, retratou-se ele. É chamada: a Coisa. A moça abanou a cabeça negativamente. "Então, é a tua peça anterior”, disse o carregador. A moça negou de novo. - É teu vespão, disse o carregador. Mas a moça recomeçou a bater nele com tamanha força que lhe raspou a pele. "Então, dize tu o seu nome”, suplicou-lhe o hammal. E ela respondeu: "Manjericão das serras”.- Bendito sejas, ó manjericão das serras, gracejou o moço. Depois, as taças passaram e repassaram. A segunda moça, despindo-se inteiramente por sua vez, saltou na bacia e, ao sair, jogou-se no colo do carregador. Apontando para suas pernas e a coisa que estava entre elas, perguntou: "Luz de minha vida, qual é o nome disto?" – Tua fenda, respondeu o carregador. - Oh! Ouvi esta palavra feia e malcriada, gritou a moça, e bateu no moço tão violentamente que a casa repetiu o eco. - Então é o manjericão das serras. Ela, porém, gritou de novo que não, e recomeçou a bater-lhe na nuca.
"Então, dize tu qual é o seu nome”,gemeu. E ela respondeu: "É sésamo descascado”.A terceira moça levantou-se por sua vez, despiu-se e jogou-se na água como suas irmãs. Após sair, estendeu-se no colo do hammal e, apontando para suas partes delicadas, disse-lhe: ‘Adivinha o nome disto.’ "O hammal deu um nome e outro e outro sem acertar, e acabou pedindo à moça para lhe dizer o nome e parar de bater nele”. “Este é Khan Al-Mansur " , proclamou ela. Então, para completar o jogo, o hammal levantou-se, despiu-se e jogou-se na água. Tomou banho como fizeram as moças. Ao sair da água, jogou-se no colo da segunda irmã, a que mais lhe agradava. Apontando para seu órgão, perguntou: "Qual é o nome dele, ó rainha de meu coração?" Ouvindo a pergunta, as três moças caíram na gargalhada ao mesmo tempo e disseram de uma só voz: "É teu zib!" "Não " , retrucou o moço, e mordeu cada uma delas a título de castigo Então, gritaram, é teu instrumento." "Não," repetiu o hammal, e beliscou os seios de cada uma delas. -Mas, é mesmo teu instrumento, insistiram, pois está quente. É teu zib porque se move. Cada vez, o moço abanava negativamente a cabeça e beijava-as, beliscava-as e apertava-as. E elas riam, felizes. No fim, tiveram que perguntar-lhe como se chamava. Ele tomou um ar sério, refletiu. Olhou entre as pernas e, piscando os olhos, disse: "Minhas senhoras, este menino, meu zib, declara: `Meu nome é o Mulo intrépido que pasta o manjericão das serras, festeja com sésamo descascado e passa a noite em Khan Al Mansur' Continuaram a rir e beber até a noite. Então, disseram ao hammal: "Vai-te embora agora. Vira a face e deixa-nos ver a largura de tuas espáduas”.Mas ele suplicou: "Por Alá, é mais fácil para a minha alma sair de meu corpo do que para eu sair de vossa casa, ó minhas senhoras incomparáveis! Deixemos a noite prolongar esta festa alegre, e amanhã poderemos separar-nos e cada um seguir seu destino nos caminhos de Alá." A mais jovem das irmãs disse: "Por minha vida, minhas irmãs, permitamos a este moço sem vergonha, mas tão amável, passar a noite connosco. E continuemos a nos divertir às custas dele." - Concordamos, responderam as duas outras, e disseram ao moço: "Deves jurar não perguntar nada a respeito do que venha a passar-se aqui esta noite." Ele jurou. - Levanta-te, mandaram, e lê o que está escrito atrás da porta. Levantou-se e leu: "Não fales do que não te diz respeito, se não quiseres ouvir o que não te agrada”.- Senhoras minhas, disse o moço, sois testemunhas de que não direi uma palavra sobre o que não me diz respeito nem falarei a ninguém do que se passará aqui esta noite. E pôs-se a cantar: Disseram-me: enlouqueceste! Respondi: Só os loucos são felizes. Devolvei-me aquela que me enlouqueceu. E vede se não me curo na hora.