- «Albaninha, Albaninha,
A filha do conde Alvar!
Oh! quem te vira Albaninha
Três horas a meu mandar!»
- «Pouco tempo são três horas,
Mas vem depois o contar.»
- «Usança de maus vilões
Nunca a eu soubera usar.
Com esta espada me cortem,
Com outra de mais cortar,
Donzela que em mim se fie
Se eu disso me for gabar.»
Inda bem manhã não era
Já na praça a passear;
Aos três irmãos de Albaninha
Se foi de braço travar:
- «Esta noite, cavaleiros,
Sabereis que fui caçar;
Em minha vida não tive
Noite de tanto folgar.
Era uma lebre tão fina
Que nunca vi tal saltar:
Com três horas de corrida
Não a cheguei a cansar!»
Disseram uns para os outros:
- «Bom modo de se gabar!
Será de nossas mulheres?
Das irmãs nos quer falar?»
Responde agora o mais moço
Discreto no seu pensar:
- «Não vedes que é de Albaninha,
Que o traidor quer difamar?»
Foram os três para um canto,
Puseram-se a aconselhar;
Diziam os dois mais velhos:
- «Vamo-lo nós a matar?»
E o mais moço respondia:
- Vamo-la nós a casar?»
- «Sim! e o dote que ela tem,
Nós o temos de pagar.»
Vão ao quarto de Albaninha,
De boda a foram achar;
Duas aias a vestiam,
Duas a estão a toucar.
- «Albaninha, Albaninha,
A filha do conde Alvar!
As barbas de teu pai conde
Que bem lhas soubeste honrar!»
- «As barbas de meu pai conde
Tratai vós de as honrar,
Pagando-me já meu dote,
Que agora me vou casar.»
Romanceiro, Almeida Garrett