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30/05/2010

O criado mentiroso

Certo lavrador tinha, havia pouco tempo, um criado que viera de muito longe e mentia por gosto. Iam os dois uma vez a cavalo e disse o criado:
- Lá na minha terra, vi um dia uma raposa ainda maior do que a ponte de sete arcos que atravessa o rio.
- Bem andaste falando-me em pontes - disse o amo - pois quero dar-te um aviso. Vamos daqui a pouco atravessar uma que tem um condão especial.
- E qual é? - perguntou o criado.
- Abre-se pelo meio, quando por ela passa quem nesse dia haja pregado alguma peta.
O criado enfiou, e de ali a bocadinho disse ao amo:
- Tamanha como a ponte não seria a raposa, mas era assim como um boi muito grande.
O amo não lhe respondeu, e o criado que ia cavalgando atrás dele, coçava a orelha, muito atrapalhado.
- E talvez nem chegasse ao tamanho de um boi; como um cavalo é que ela era, ou como um burro.
Já se avistava a ponte. O moço pôs-se a tremer. Se ela se abrisse debaixo dos pés, a queda ao rio era certamente mortal. Foi então dizendo:
- Era como um burro, era; assim como um burro pequenino, acabado de nascer, pouco maior que um cão.
A ponte era altíssima. O pobre criado, já a voz lhe sumia de todo, quando acrescentou:
- A verdade, a pura verdade, é que a raposa era como todas as raposas.
Já o amo ia na ponte. Olhou para trás e viu o criado que parara à entrada.
- Então? - perguntou-lhe - O cavalo tem medo?
- Não, senhor. - respondeu-lhe o moço - sou eu que não me atrevo.
- Então porquê?
- É que eu, patrão, nunca vi raposa nenhuma.
E, persuadido enfim de que já não lhe aconteceria mal, meteu esporas ao cavalo e seguiu o lavrador, que ria às gargalhadas.


Conto Tradicional Português