Havia uma rainha muito orgulhosa, que, voltando-se para as suas aias, dizia:
– Haverá cara mais linda do que a minha?
As alas respondiam-lhe que não; e fazendo a mesma pergunta às criadas, elas diziam o mesmo.
Um dia voltou-se também para o seu camarista e perguntou-lhe:
– Haverá cara mais linda do que a minha?
O camarista respondeu:
– Saiba Vossa Majestade que há.
A rainha ouvindo Isto quis saber quem era, e o camarista disse-lhe que era a filha. A rainha Imediatamente mandou aprontar uma carruagem e meter a princesa dentro, ordenando aos criados que a levassem fora da cidade a um campo multo longe e que aí a degolassem e lhe trouxessem a língua.
Partiram os criados conforme a rainha tinha determinado, e quando chegaram ao dito campo voltaram-se para a princesa e disseram:
– Vossa Alteza não sabe os fins para que aqui a trouxemos, mas não lhe havemos de fazer mal.
Viram uma cadelinha, mataram-na e cortaram-lhe a língua, dizendo à princesa que era para levar a Sua Majestade, pois lhes tinha ordenado que a degolassem e lhe levassem a língua. Pediram depois à princesa que se fosse embora para muito longe, e nunca mais aparecesse na cidade para os não comprometer.
A menina retirou-se e foi caminhando por uns matos fora, até que avistou ao longe um pequeno casal, e aproximando-se não viu senão rastos de porcos e nada mais. Foi andado, e ao entrar na primeira casa, não viu mais do que uma caixa de pinho muito velha; na segunda viu uma cama com uma enxerga muito velha; e na terceira uma chaminé, e uma mesa. Dirigiu-se à mesa, abriu a gaveta e achou algum comer, que foi pôr ao lume. Pôs a mesa, e quando principiava a comer sentiu entrar um homem. A menina, muito assustada, foi esconder-se debaixo da mesa, mas o homem viu-a e chamou-a. Disse-lhe que não tivesse vergonha; depois foram comer juntos, e quando chegou a noite também cearam. No fim da ceia o homem disse à princesa se ela queria ficar por sua mulher ou por sua filha. A princesa respondeu que queria ficar por sua filha. Então o homem foi-lhe arranjar uma caminha à parte e depois cada um se foi deitar.
Viviam assim ambos muito satisfeitos.
Um dia disse o homem para a menina que fosse por ali dar um passeio para se distrair.
A menina respondeu que o fato que trazia vestido já estava muito velho, mas o homem, abrindo um armário, mostrou-lhe um fato completo à campina. A menina vestiu-se com ele e foi passear.
Quando andava passeando, viu que um cavaleiro se aproximava dela. A menina imediatamente se escondeu em casa com muito medo. À noite o homem quando voltou, perguntou-lhe se tinha gostado do passeio. A menina disse que sim, mas com um modo muito esquisito.
No dia seguinte tornou o homem a mandá-la passear. A menina foi, tornou a ver o mesmo cavaleiro a dirigir-se para ela, e tornou muito assustada a vir esconder-se em casa.
Quando o homem veio à noite e lhe perguntou se ela tinha gostado do passeio, a menina disse que não, porque tinha visto um homem, que vinha para lhe falar, e então que nunca mais queria tornar a sair. O homem não lhe disse nada.
O cavaleiro era um príncipe, e voltando ao mesmo sitio duas vezes e não tornando a ver a menina, adoeceu de paixão. Vieram os melhores médicos e declararam qual era a doença do príncipe. A rainha imediatamente mandou publicar um bando, que a aldeã que tinha visto o cavaleiro fosse ao palácio, que havia de ser recompensada e de casar com o príncipe.
A menina, como não saía de casa, não soube nada do bando.
A rainha, vendo que ninguém se apresentava no palácio, mandou um guarda àquele sítio. O guarda foi e bateu à porta dizendo para a menina que Sua Majestade a mandava chamar ao palácio e que havia de ser muito bem recompensada.
A menina disse para o guarda que no outro dia fosse receber a resposta. Quando à noite veio o homem a menina contou-lhe o que se tinha passado. Ele disse-lhe que quando o guarda fosse saber a resposta lhe dissesse que viesse a rainha a casa dela, porque ela não ia lá.
Veio o guarda ao outro dia saber a resposta, e a menina disse-lhe que se não atrevia a dar-lha. O guarda disse que dissesse ela tudo tal e qual, que ele o diria à rainha.
Então a menina contou-lhe o que o homem lhe tinha respondido. Chegando o guarda
ao palácio, também se não atreveu a dar a resposta; mas a rainha obrigou -o.
O guarda então contou tudo o que a menina lhe dissera. A rainha ficou muito
encolerizada, mas naquele momento deu ao príncipe uma convulsão muito grande, e a rainha com medo que ele morresse, sempre se resolveu a ir.
Mandou aprontar a carruagem e foi lá ter com a menina, ruas quando se ia aproximando da casa, ela tornou-se num rico Palácio, o homem que recolhera a menina num imperador muito poderoso, os porcos em duques, a menina numa linda Princesa e tudo o mais em riqueza.
A rainha, ao ver tudo isto, ficou atónita e pediu desculpa de ter mandado chamar a menina ao palácio.
Disse à menina que visto o príncipe, seu filho, ter tanta paixão por ela, lhe pedia, se fosse do seu agrado, para se fazer o casamento, senão o príncipe morria, com toda a certeza.
A menina disse que sim, fez-se o casamento com muita pompa, e viveram todos muito felizes.
– Haverá cara mais linda do que a minha?
As alas respondiam-lhe que não; e fazendo a mesma pergunta às criadas, elas diziam o mesmo.
Um dia voltou-se também para o seu camarista e perguntou-lhe:
– Haverá cara mais linda do que a minha?
O camarista respondeu:
– Saiba Vossa Majestade que há.
A rainha ouvindo Isto quis saber quem era, e o camarista disse-lhe que era a filha. A rainha Imediatamente mandou aprontar uma carruagem e meter a princesa dentro, ordenando aos criados que a levassem fora da cidade a um campo multo longe e que aí a degolassem e lhe trouxessem a língua.
Partiram os criados conforme a rainha tinha determinado, e quando chegaram ao dito campo voltaram-se para a princesa e disseram:
– Vossa Alteza não sabe os fins para que aqui a trouxemos, mas não lhe havemos de fazer mal.
Viram uma cadelinha, mataram-na e cortaram-lhe a língua, dizendo à princesa que era para levar a Sua Majestade, pois lhes tinha ordenado que a degolassem e lhe levassem a língua. Pediram depois à princesa que se fosse embora para muito longe, e nunca mais aparecesse na cidade para os não comprometer.
A menina retirou-se e foi caminhando por uns matos fora, até que avistou ao longe um pequeno casal, e aproximando-se não viu senão rastos de porcos e nada mais. Foi andado, e ao entrar na primeira casa, não viu mais do que uma caixa de pinho muito velha; na segunda viu uma cama com uma enxerga muito velha; e na terceira uma chaminé, e uma mesa. Dirigiu-se à mesa, abriu a gaveta e achou algum comer, que foi pôr ao lume. Pôs a mesa, e quando principiava a comer sentiu entrar um homem. A menina, muito assustada, foi esconder-se debaixo da mesa, mas o homem viu-a e chamou-a. Disse-lhe que não tivesse vergonha; depois foram comer juntos, e quando chegou a noite também cearam. No fim da ceia o homem disse à princesa se ela queria ficar por sua mulher ou por sua filha. A princesa respondeu que queria ficar por sua filha. Então o homem foi-lhe arranjar uma caminha à parte e depois cada um se foi deitar.
Viviam assim ambos muito satisfeitos.
Um dia disse o homem para a menina que fosse por ali dar um passeio para se distrair.
A menina respondeu que o fato que trazia vestido já estava muito velho, mas o homem, abrindo um armário, mostrou-lhe um fato completo à campina. A menina vestiu-se com ele e foi passear.
Quando andava passeando, viu que um cavaleiro se aproximava dela. A menina imediatamente se escondeu em casa com muito medo. À noite o homem quando voltou, perguntou-lhe se tinha gostado do passeio. A menina disse que sim, mas com um modo muito esquisito.
No dia seguinte tornou o homem a mandá-la passear. A menina foi, tornou a ver o mesmo cavaleiro a dirigir-se para ela, e tornou muito assustada a vir esconder-se em casa.
Quando o homem veio à noite e lhe perguntou se ela tinha gostado do passeio, a menina disse que não, porque tinha visto um homem, que vinha para lhe falar, e então que nunca mais queria tornar a sair. O homem não lhe disse nada.
O cavaleiro era um príncipe, e voltando ao mesmo sitio duas vezes e não tornando a ver a menina, adoeceu de paixão. Vieram os melhores médicos e declararam qual era a doença do príncipe. A rainha imediatamente mandou publicar um bando, que a aldeã que tinha visto o cavaleiro fosse ao palácio, que havia de ser recompensada e de casar com o príncipe.
A menina, como não saía de casa, não soube nada do bando.
A rainha, vendo que ninguém se apresentava no palácio, mandou um guarda àquele sítio. O guarda foi e bateu à porta dizendo para a menina que Sua Majestade a mandava chamar ao palácio e que havia de ser muito bem recompensada.
A menina disse para o guarda que no outro dia fosse receber a resposta. Quando à noite veio o homem a menina contou-lhe o que se tinha passado. Ele disse-lhe que quando o guarda fosse saber a resposta lhe dissesse que viesse a rainha a casa dela, porque ela não ia lá.
Veio o guarda ao outro dia saber a resposta, e a menina disse-lhe que se não atrevia a dar-lha. O guarda disse que dissesse ela tudo tal e qual, que ele o diria à rainha.
Então a menina contou-lhe o que o homem lhe tinha respondido. Chegando o guarda
ao palácio, também se não atreveu a dar a resposta; mas a rainha obrigou -o.
O guarda então contou tudo o que a menina lhe dissera. A rainha ficou muito
encolerizada, mas naquele momento deu ao príncipe uma convulsão muito grande, e a rainha com medo que ele morresse, sempre se resolveu a ir.
Mandou aprontar a carruagem e foi lá ter com a menina, ruas quando se ia aproximando da casa, ela tornou-se num rico Palácio, o homem que recolhera a menina num imperador muito poderoso, os porcos em duques, a menina numa linda Princesa e tudo o mais em riqueza.
A rainha, ao ver tudo isto, ficou atónita e pediu desculpa de ter mandado chamar a menina ao palácio.
Disse à menina que visto o príncipe, seu filho, ter tanta paixão por ela, lhe pedia, se fosse do seu agrado, para se fazer o casamento, senão o príncipe morria, com toda a certeza.
A menina disse que sim, fez-se o casamento com muita pompa, e viveram todos muito felizes.
PEDROSO, Consiglieri, «Contos populares portugueses»