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24/07/2010

As sementes de feijão


Era uma vez uma pobre viúva que tinha um filho chamado Onofre, que, além de não gostar de trabalho, parecia ser medroso e pouco inteligente. A única coisa valiosa que a viúva possuía era uma vaca muito magra, cujo leite mandava vender no mercado.
Um dia, a vaca não deu leite e a pobre mulher não teve o que comer. Por isso, aconselhada pelo filho, resolveu vender a vaca. Onofre foi encarregado da venda do animal. No caminho, encontrou um velho que lhe perguntou o que estava fazendo. Respondeu Onofre que ia ao mercado vender a vaca. O velho, que era muito esperto, levava nas mãos umas sementes de feijão de cores variadas. O rapaz ficou encantado com a beleza das sementes.
O velho percebeu a admiração de Onofre e propôs a troca das sementes pela vaca. O bobo do rapaz aceitou a proposta, certo de que fazia um óptimo negócio. Entregou a vaca ao velho e voltou para casa com as sementes de feijão.
Quando disse à mãe o que fizera com a vaca e lhe mostrou as sementes, a pobre mulher começou a chorar e, perdendo a paciência, exclamou:
— Olha, imbecil, para que servem tuas sementes! E atirou-as, pela janela, no quintal. Depois, continuou a chorar desanimada da vida.
Onofre fez tudo para consolá-la, mas foi em vão. Naquela noite foram dormir sem cear. Pela manhã, ao acordar, o rapaz notou que alguma coisa impedia a entrada da luz do sol pela janela. Correu ao quintal e verificou, com espanto, que algumas sementes de feijão tinham germinado, deitando raízes enormes e lançando ramos tão altos que se perdiam nas nuvens.
O rapaz, que tinha espírito de aventura, resolveu subir pela planta até alcançar os últimos ramos. Iniciou a escalada. Subiu, subiu e, após muitas horas de esforços penosos, conseguiu atingir o alto da planta. Olhou de um lado para outro e verificou que estava num país desconhecido, onde não se via nenhum ser vivo.
Resolveu caminhar através daquela terra estranha para ver se encontrava uma casa que lhe desse água e comida, pois estava exausto e faminto. Andou o dia todo e quando começava a anoitecer, avistou uma casa de forma esquisita. À porta, encontrava-se uma mulher de fisionomia bondosa.
O rapaz aproximou-se dela e implorou um pedaço de pão e abrigo por uma noite. A mulher disse que estava admirada de vê-lo ali, pois ninguém se atrevia a chegai à sua porta. Todo mundo sabia que morava naquela casa um gigante que se alimentava de carne humana, e, para obtê-la, caminhava cinquenta léguas por dia, razão pela qual se encontrava ausente.
Onofre ficou horrorizado com as informações da boi mulher. Mas como estava muito cansado e confiante de que não seria descoberto pelo gigante, tornou a rogar à mulher que o deixasse dormir apenas uma noite na casa, escondendo-o, para isso, em qualquer lugar.
A princípio, a mulher recusou terminantemente, mas acabou por ficar com pena do rapaz, atendendo ao seu pedido. Mandou entrar Onofre e ofereceu-lhe uma ceia farta e apetitosa. O rapaz comeu e bebeu à vontade e já se tinha esquecido da existência do gigante, quando ouviu pancadas na porta tão violentas que fizeram estremecer toda a casa.
— Meu Deus! chegou o gigante! exclamou a mulher tremendo como varas verdes. Ele nos vai devorar. Que vamos fazer?
— Esconda-me no fogão! gritou Onofre.
E metendo-se no forno que, por acaso, estava apagado, pôde ouvir dali os berros terríveis e os passos pesados do gigante, que entrava em casa.
— Mulher! gritou como um trovão. Mulher! que cheiro é este? E cheiro de carne humana!
— Não digas tolices! respondeu a mulher, enchendo-se de coragem. Por aqui não passou ninguém. Deve ser o sangue dos dois bezerros que trouxeste.
Finalmente, o gigante sentou-se à mesa e, por uma fresta do fogão, Onofre pôde ver, cheio de espanto, a quantidade enorme de carne que o gigante devorava. Quando terminou a refeição, o monstro inclinou-se para trás e berrou para a mulher:
— Vá buscar a galinha!
A mulher obedeceu e pôs em cima da mesa uma galinha viva, muito gorda e bonita.
— Ponha! ordenou o gigante.
E a galinha pôs imediatamente um ovo de ouro maciço.
— Ponha outro!
E cada vez que o gigante pronunciava estas palavras, a galinha punha um ovo maior do que o anterior.
Depois de se divertir com a galinha, mandou a mulher para a cama e não tardou a dormir, roncando como uma dúzia de canhões.
Quando percebeu que o gigante estava mergulhado em sono profundo, Onofre saiu do seu esconderijo, agarrou a galinha e fugiu com ela. Saiu da casa sem dificuldade e, logo que se apanhou na estrada, correu com todas as suas forças e só parou quando alcançou os ramos mais altos do pé de feijão. Desceu rapidamente e regressou à sua casa. Foi recebido com grande alegria por sua mãe que o julgava vítima de alguma desgraça.
— Qual nada, minha mãe! Veja só a maravilha que trouxe para nós!
E mostrando a galinha, ordenou:
— Ponha!
E a galinha pôs uma porção de ovos, cada qual mais belo e valioso.
Com o produto da venda desses ovos, Onofre e sua mãe viveram com todo o conforto. Construíram uma linda casa, junto do pé de feijão. Durante alguns meses o rapaz sentiu-se muito feliz, mas, depois, não pôde resistir ao desejo de voltar à casa do gigante para se apoderar de suas riquezas.
Um dia, declarou à sua mãe que ia realizar outra viagem através do pé de feijão. Sua mãe rogou, chorou, dizendo que certamente a mulher do gigante o reconheceria e ele seria cruelmente assassinado. O rapaz fingiu que atendia aos rogos de sua mãe e começou a se preparar para a nova aventura.
Arranjou uma roupa de mendigo, pôs uma barba postiça e pintou o rosto com uma cor escura. Assim disfarçado, saiu sorrateiramente de casa e subiu pelo pé de feijão. Ao chegar ao alto da planta estava muito fatigado, mas, assim mesmo, continuou a viagem na direcção da casa do gigante. A mulher estava à porta e, como da primeira vez, Onofre pediu-lhe comida e pousada por uma noite.
A mulher então lhe disse — coisa que ele já sabia — que seu marido era um gigante poderoso e cruel e que, desde que fora roubado por um rapazinho que ela acolhera, se tornara ainda pior e mais sanguinário. O rapaz fez tudo para convencê-la e, afinal, depois de muito custo, conseguiu que ela o abrigasse.
Onofre foi levado para a cozinha onde comeu e bebeu a fartar. Depois, escondeu-se num quarto de objectos velhos. Daí a pouco, ouviram-se, à porta, pancadas violentas como trovões. Era o gigante que chegava. Entrou como um furacão, sentou-se junto do fogo e gritou:
— O mulher, que diabo é isso ? Sinto cheiro de carne humana!
A mulher explicou que, com certeza, eram os corvos, que tinham deixado cair pedaços de carniça sobre o telhado. O gigante acalmou-se e pediu, aos berros, que trouxesse logo a ceia porque estava com muita fome. Depois que acabou de comer, gritou para a esposa:
— Traga-me o saco de dinheiro.
A mulher apareceu logo, vergada sob o peso do saco. Estava cheio de moedas de ouro. O gigante esvaziou o saco sobre a mesa e começou a contar as moedas com grande satisfação. Era uma quantidade enorme de dinheiro.
Contou e recontou as moedas. Depois, mandou a mulher para a cama e debruçou-se sobre a mesa. Daí a pouco estava roncando. Só teve tempo de pôr o dinheiro no saco.
Do seu esconderijo Onofre viu tudo. E não pôde resistir ao desejo de possuir as moedas do gigante. Pouparia, assim, o trabalho de vender todos os dias os ovos de ouro da galinha. Quando percebeu que o gigante estava dormindo profundamente, saiu do seu esconderijo e aproximou-se da mesa. Mas, assim que agarrou, com as duas mãos, o saco de dinheiro, o cachorrinho do gigante, que estava a seus pés, acordou e pôs-se a latir. Onofre ficou paralisado de terror. Mas, felizmente, o gigante continuou roncando. O rapaz atirou então ao cão um pedaço de carne e este parou de latir.
Onofre correu sem parar até o pé de feijão. Desceu, então, rapidamente e encontrou, lá em baixo, sua mãe. Estava aflita com a sua ausência e chorou de alegria quando o avistou são e salvo.
Durante três anos, Onofre não voltou a subir pelo pé de feijão. Não queria desgostar sua mãe, embora não pudesse vencer o seu ardente desejo de renovar a aventura. Um dia, não pôde mais resistir e começou a fazer os preparativos para voltar à casa do gigante. Arranjou novas roupas e novos disfarces e, numa bela manhã de sol, tornou a subir pelo pé de feijão.
Chegou à mansão do gigante ao anoitecer e, como de costume, encontrou a mulher à porta. Pediu pousada e ouviu novamente a informação de que ali residia um gigante sanguinário e cruel. Mas o rapaz, que estava muito bem disfarçado, tanto pediu e rogou que a pobre mulher acabou permitindo que ele entrasse. Deu-lhe de comer e beber e escondeu-o dentro da caldeira.
Quando voltou à casa, o gigante gritou, como das outras vezes: — Sinto cheiro de carne humana! E sem se importar com as explicações da mulher começou a correr a casa, para ver se descobria alguma coisa. Quando o gigante se aproximou da caldeira, Onofre sentiu-se perdido. Mas, felizmente, o ogro afastou-se sem se lembrar de abrir a caldeira. Depois, pôs-se a devorar a sua enorme ceia. Quando acabou, berrou para a mulher que trouxesse a sua harpa. Quando a recebeu colocou-a sobre a mesa e ordenou:
— Toca! e a harpa tocou sozinha a mais linda música que se possa imaginar. Embalado pelos sons harmoniosos, o gigante não tardou em debruçar-se sobre a mesa, imerso em sono profundo.
Quando percebeu que o gigante estava roncando, Onofre saiu da caldeira, apoderou-se da harpa e tratou de fugir. Mas a harpa era encantada e assim que se sentiu tocada por mãos estranhas, começou a gritar, como se fosse viva:
— Socorro! Socorro!
O gigante despertou e, levantando-se da cadeira, viu Onofre fugindo com toda a rapidez que as pernas lhe permitiam.
— Ah, patife! Roubaste-me a galinha e o saco de dinheiro e queres me roubar também a harpa! Agora mesmo vou trincar-te em meus dentes!
Mas o gigante estava ainda meio bêbado de modo que, por mais que corresse, não pôde agarrar o rapaz antes que ele alcançasse o pé de feijão. Onofre desceu pela planta com a velocidade de um raio, sempre perseguido pelo gigante. Quando chegou ao solo, gritou logo para sua mãe:
— Um machado, depressa!
Logo que sua mãe lhe trouxe o machado, o rapaz começou a cortar, com a maior rapidez possível, o tronco do feijoeiro. Reunindo todas as suas forças conseguiu cortar a planta que tombou com grande estrondo. Caindo de grande altura, o gigante espatifou-se na terra, abrindo com seu corpo um buraco imenso.
Assim, Onofre viu-se livre do gigante e do pé de feijão que secou. Com a galinha, o dinheiro e a harpa, tornou-se rico e poderoso. Construiu um lindo castelo e casou-se com a filha do rei, vivendo feliz o resto dos seus dias em companhia de sua boa mãe.