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28/09/2009

As moedas estrelas


Era uma vez uma menininha que não tinha pai nem mãe, porque eles haviam morrido. Ela era tão pobre que não tinha mais um quartinho para morar e nem caminha para dormir , e não tinha mais nada a não ser a roupa do corpo e um pedacinho de pão na mão, que alguém compadecido lhe dera. Mas a menininha era boa e devota , e por estar assim abandonada, ela saiu andando pelo campo, confiante no bom Deus.
Então ela encontrou-se com um mendigo, que disse:
- Ai, dê-me alguma coisa para comer, estou com tanta fome!
A menina entregou-lhe seu pedaço de pão inteiro e disse:
- Que Deus o abençoe para você! – e continuou o seu caminho.
Aí veio ao seu encontro uma criança, que lhe disse chorosa:
- Estou com tanto frio na cabeça , dê-me alguma coisa para cobrir?
Então a menina tirou seu gorrinho e deu para a criança.
E depois de andar mais um pouco, encontrou com outra criança, que não tinha agasalho e ela deu-lhe o seu. Logo depois outra criança não tinha saia e ela deu a sua .
Finalmente, ela chegou ao bosque , e já estava escuro. Apareceu então uma criança, que pedia uma camisa e a boa menininha pensou: “Já é noite escura, ninguém vai me ver, posso dar-lhe a minha camisa”, e ela tirou sua última vestimenta e entregou para a criança.
Quando ela ficou parada , assim sem roupa alguma, de repente, começaram a cair estrelas do céu e eram todas elas brilhantes moedas de ouro. E, embora ela tenha dado sua última roupa para a criança, ela estava novamente vestida com uma roupa de linho fino.
Ela então, recolheu as moedas e ficou assim rica por toda a vida , mas sempre ajudando aos que precisavam
.



27/09/2009

A cabra e o burro



O dono da cabra e do burro alimentava os dois animais.
A cabra, achando que o burro era mais bem alimentado do que ela, ficou com inveja. Aconselhou, então, o burro a diminuir o ritmo de trabalho tanto na hora de moer quanto na hora de carregar os fardos. Disse ainda que ele deveria simular ataques de epilepsia e cair em buracos para descansar.
O pobre burro, confiando na cabra, caiu num buraco e começou a debater-se. O dono chamou um médico para socorrer o animal. O médico, para resolver o problema do burro, receitou uma infusão que deveria ser preparada com o pulmão de uma cabra. Foi assim que sacrificaram a cabra para salvar o burro.


Moral da Estória:
Muitas vezes, quem arquitecta maldades faz mal a si mesmo.


23/09/2009

Bian Que



中国国际广播电台

Um dia, o médico mágico Bian Que foi visitar o rei Cai Huangong. Depois de observá-lo por algum tempo, disse ao rei: “Vi algum problema na pele de vossa excelência. Se não tratá-lo a tempo, ele poderia penetrar no corpo”. O soberano não deu atenção às palavras do médico dizendo: “Não tenho doença”. Viu o médico saindo, disse a um ministro a seu lado: “o médico costuma curar pessoas sem doença para pedir prémio”.
Passaram 10 dias. Bian Que voltou a visitar o rei. Disse: “a sua doença já penetrou no sistema de digestão. Se não curá-la oportunamente, ela poderia agravar-se”. O soberano continuou não ligando às suas palavras.
Mais dez dias passaram. O médico viu o rei de longe e tentou evitar o encontro com ele. O rei mandou perguntar a Bian Que: “”Porque não falou nada e foi-se embora?”
Bian Que respondeu: “Quando a doença está na pela, lavar a pele com medicamente ou aplicar compressa quente na pele podem dar efeitos curativos. Quando a doença se penetra entre carne e pele, o tratamento de acupuntura pode curar o problema. Quando a doença entra no sistema de digestão, pílulas feitas de ervas medicinais pode resolver a questão. Mas, quando a doença atinge medula, o doente está às ordens do Imperador do Inferno e o médico não pode com ele. A doença de vossa excelência já entrou na medula e eu não posso com ela”.
Cinco dias depois, o rei Cai Huangong começou a sentir dor em todo o corpo e mandou chamar Bian Que, mas este tinha fugido. Pouco depois, o rei morreu.

O conto lembra aos leitores: uma pessoa, quando cometer algum erro e ter alguma falha, deve corrigi-lo a tempo. Se deixá-lo desenvolver, de pequeno a grande, de leve a grave, as consequências serão imagináveis.


21/09/2009

O Bambu amado




Um belo dia, numa plantação qualquer de bambus, o vento resolveu soprar e a brisa mansa desse ventinho permitia que o bambuzal se mexesse bastante desordenadamente de um lado para o outro e vice versa...era uma boa para os bambus que além de refrescar aproveitassem para dar uma destorcidinha no que estava parado!
Mas como todo bambuzal que se preze, este não era diferente: havia um dono desse bambuzal que neste dia coincidentemente chegou junto com o vento. Qual foi a surpresa do bambuzal em ver o seu dono, todos no mesmo instante ficaram cheios de Alegria e destemor pois aquele que cuidava com tanto carinho deles chegava com seu sorriso para olhar sua estimada plantação! Porem havia no mesmo lugar ao lado um campo ermo, de difícil plantação, terra ressequida pertencente ao mesmo dono.
No bambuzal existia um bambu que era muito mais bonito e vivente que os outros;. Existia nele uma diferença patente sobre o restante dos bambus que muitas vezes incomodava mas era natural nele e, devido também toda a sua dedicação ao dono, se tornava cada vez mais diferente e bonito.
A Felicidade desse bambu era ver seu dono chegando e contemplando-o com esmero.
Porém, num certo dia de vento também, o bambu amado (porque amava demais também) foi surpreendido por seu dono tão querido numa proposta que há muito tempo ele esperava. Era chegada a hora do bambu servir e servir com a mesma dedicação que tinha desde o seu nascimento.
O dono do bambu chegou lá pelas 5 da tarde, olhou seu bambu amado, acariciou-o e lhe disse:

“BAMBU AMADO, CHEGOU O SEU TEMPO DE ME SERVIR E ESTE É O MOMENTO!”
O bambu ficou entusiasmadíssimo com tal proposta e na mesma correria que amava o dono, apressou-se em dizer: “SIM AMADO DONO, SE ME CHEGOU A HORA ESTOU AQUI!”

O dono sabia desse sim e logo amou mais ainda o bambu. Contudo, o dono do bambu teve que lhe falar sobre esse serviço especial e continuou dizendo:“MAS PARA QUE ME SIRVA, BAMBU AMADO, TENHO QUE LHE TIRAR DO LUGAR EM QUE VOCÊ ESTÁ!”
O bambu estranhou pois sabia que isso iria prejudicá-lo muito mas no mesmo instante disse ao dono:SABE DAS COISAS MEU DONO, E SABE DE MIM, ME ALEGRO E FAÇA COM QUE EU LHE SIRVA BEM!
O dono mais alegre ainda continuou: BAMBU AMADO, NÃO BASTA QUE TE ARRANQUE DE SEU LUGAR MAS VOU PRECISAR CORTÁ-LO COM UM FACÃO PARA PARTI-LO AO MEIO!
Surpreso, o bambu se pôs a tentar entender tal proposta e começou a fica um pouco triste pois sua beleza, seu encanto, suas firmezas, seu apoio, tudo seria tirado e isso lhe faria não ser mais o bambu que outrora brilhou! Porem, mesmo entristecido e sem entender precisou toda sua alegria já comprometida na satisfação que seu dono teria de um sim e não pensou mais:“SE ASSIM É QUE PRECISAS DE MIM QUE EU POSSA LHE ALEGRA, EIS-ME AQUI...PRONTO!”

O dono sabia disso e percebia que o bambu não estava tão alegre quanto o inicio da conversa mas sabia da fidelidade do amado bambu. Não obstante o dono logo lhe disse sem muitas palavras:“AMADO BAMBU, MESMO QUE ME SIRVA AINDA PRECISO DIZER: NÃO LHE BASTA QUE O ARRANQUE E O CORTE COM UM FACÃO, É PRECISO QUE EU O SEQUE E DESCARACTERIZE TEUS JEITOS DE BAMBU, TUA BELEZA E MESMO TODA TUA ALEGRIA!”
O bambu, no silencio entristecido, derramava uma lágrima de dor profunda e de desentendimento. Já não sabia mais o porque disso tudo nem o porque de seu dono lhe queria assim. O maior sofrimento do bambu era por não entender esse amor que criou, permitiu que fosse o mais lindo e vistoso e de uma hora pra outra lhe pedia quase que a própria morte.
Qual foi sua surpresa antes de responder ao dono o mesmo indagou:“MAS AMADO BAMBU, MESMO DEPOIS DISSO TUDO VOU PRECISAR TIRA-TE A VIDA E NUNCA MAIS SERAS UM BAMBU!”

Foi nesse instante que o bambu simplesmente parou e não disse uma só palavra! Mas seu dono continuou:“CONTUDO, BAMBU AMADO, VOU ARRANCAR-LHE O CORAÇÃO E TUDO O QUE NELE TEM, GUARDAREI ETERNAMENTE COMIGO E NUNCA ELE ME SERÁ ROUBADO. DE TUA CASCA TIRAREI O MELHOR: TEU CORAÇÃO...TEU TESOURO...TUA VIDA...SERÁS MAIS MEU DO QUE NESSA CONDIÇÃO DE BAMBU!”
Foi aí que o pobre bambu entendeu não os motivos do dono mas o tipo de Amor com Ele o amava e sustentado por esse desentendimento que compreende todas as coisas, o bambu se voltou em prantos mas com um suave e sereno e lhe disse bem baixo mas convictamente:“ENTENDO QUE ME ENTENDES, MEU DONO E TANTO QUE ME ROUBAS O MELHOR! SOU TEU PRISIONEIRO E FAZ DE MIM O QUE PRECISAS!”

Foi aí que o dono consumou seus desejos: Arrancou o bambu, cortou-lhe ao meio com um facão, secou-o e descaracterizou-o e já sem vida nenhuma física lhe tirou o coração e guardou-o consigo para que nunca mais fosse roubado! E o que era um vistoso e lindo bambu se tornava dois simples pedaços de coisa ressecada .Contudo, aquele nada se tornava o veículo de água para que se levasse umidade ao outro solo do dono que precisava de plantação e assim o saudoso bambu era o que de mais precioso o dono tinha!
Acredito que o dono também chorava nesse instante até de saudade do bambu mas tinha seu coração guardado e isso bastava ao dono!




O Gramático e o Dervixe

Numa noite escura um dervixe passava junto a um poço seco, quando do interior do mesmo brotou uma chamado de socorro.
- Que será? - indagou o dervixe, olhando para o fundo do poço.
- Sou um gramático e infelizmente, por desconhecer o caminho, caí neste poço profundo, em que estou agora quase imobilizado - respondeu o outro.
- Aguenta firme aí, amigo. Vou buscar uma escada e corda - gritou o dervixe.
- Um momento por favor! - exclamou o gramático.
- Sua gramática e pronúncia são incorrectas, seria bom que as corrigisse.
- Se isso é mais importante que o essencial será melhor que você permaneça onde está, até que eu tenha aprendido a falar com elegância e propriedade.
E após dizer tais palavras, o dervixe seguiu seu caminho.

16/09/2009

A ilha de S. Brandão


A lenda da Ilha de S. Brandão, transmitida oralmente, tornou-se popular, aproximadamente, a partir do século X, quando um anónimo, provavelmente, um monge irlandês, escreveu o livro Navigatio Sancti Brandani, onde se relata a existência de uma ilha, descoberta por S. Brandão, que considerava ser o Jardim do Éden.
São Brandão nasceu em 484 d.C., em Tralee, na região de Kerry, na Irlanda. Foi baptizado e educado pelo bispo Erc de Kerry. Tornou-se abade, fundou vários mosteiros e morreu em 577, em Annaghdown (Eunachdunne), condado de Galway. É através das suas viagens marítimas, em busca do Paraíso, que S. Brandão se tornou célebre na História e na literatura como "Brandão, o Navegador".
A versão mais conhecida da história da Ilha de S. Brandão foi escrita por Benedeit, por volta de 1130, no capítulo "Navegação de S. Brandão à procura do paraíso" do seu livro Paraíso. Conta-se que S. Brandão terá pedido a Deus para ver o Paraíso e o Inferno e, após a sua fuga e a dos restantes monges aos invasores Normandos, S. Brandão e os monges (em número que variava entre 18 a 300 pessoas) iniciaram uma viagem, que durou sete anos, em busca do Paraíso. A lenda narra várias aventuras fantásticas, como aquela em que encontrou uma baleia em cima da qual rezou, mantendo-se em comunhão com Deus. Em seguida, atracaram na Ilha dos Pássaros, onde ficaram durante dois meses e onde se aprovisionaram de mantimentos, partindo depois rumo ao Oriente. Após quarenta dias, em alto mar, sem avistar terra, deparam com um grande muro de nevoeiro que circundava o que pensavam ser a ilha do Paraíso e que impedia os descendentes de Adão de entrar. Com a ajuda e a permissão de Deus (caso contrário seria impossível franquear a entrada que estava aberta no espesso nevoeiro), seguiram nesse caminho durante três dias até que ao quarto dia avistam o Paraíso, envolto numa parede mais branca do que a neve e cravejada de pedras preciosas: topázios, calcedónias, jacintos, esmeraldas, jaspe, ametistas e cristais, entre outras. Montes de mármore, batidos pelo mar, precediam uma montanha de ouro fino que, por sua vez, dava lugar aos muros do paraíso que delimitavam o jardim. A entrada, guardada por dragões brilhantes como o fogo, abriu-se para deixar passar um mensageiro de Deus. Um belo jovem acolheu-os, nomeou-os pelos seus nomes verdadeiros e beijou-os com carinho, antes de acalmar os dragões, que depois se deitaram humildemente sem resistência. À ordem do jovem guia, um anjo abriu a porta e os monges entraram no Paraíso guiados pelo jovem que lhes mostrou as árvores, os rios, as flores, os frutos, os perfumes (que pairavam no ar de um doce e eterno Verão), os bosques cheios de animais de caça e a enorme abundância de peixes, num local que não conhecia pobreza, dor, doença, fome e sede.
S. Brandão, felicíssimo por se encontrar ali, foi levado pelo jovem a um monte alto, onde lhe foram descritas as recompensas destinadas a cada um e onde ambos observaram maravilhas que nenhum homem pode compreender, contemplaram também os anjos que se alegravam por recebê-los e ouviram melodias. Em seguida, o jovem guia aconselhou os monges a regressar, já que estes não podiam adquirir mais conhecimentos sobre o Paraíso e sobre as suas glórias futuras, porque ainda eram de carne e osso. A Revelação seria feita quando voltassem, em espírito, para o seu julgamento. Antes da partida, S. Brandão e os monges receberam pedras de ouro como recordação e como forma de lhes incutir coragem.
Na época dos Descobrimentos, ainda se perseguia o sonho de ilhas fantásticas, das quais a Ilha de S. Brandão, também chamada Ilha Perdida, era disso exemplo. A Ilha de S. Brandão manteve-se na cartografia dos séculos XIII ao XIX e, à medida que os conhecimentos do oceano avançavam, a ilha ia sendo deslocada para paragens mais remotas. A Ilha de S. Brandão surge na carta Dulcert de 1339, no local onde, em 1350, no Atlas Mediceu, aparece a ilha da Madeira.
As imagens do Jardim do Éden associam-se a outras lendas fantásticas e mitológicas, das quais se destacam, ainda, o mito de Atlântida, o jardim das Hespérides, a Antília (ou das Sete Cidades), as lhas Afortunadas, o Brasil, entre outros.
De missionário a viajante marítimo, S. Brandão tornou-se num aventureiro e num descobridor, creditado pelo folcore, que o relacionou com as fábulas e com as sagas dos povos da costa ocidental irlandesa. De referir ainda, que dois investigadores árabes, Goeje e Asín, consideraram haver analogias entre a Navigatio e as viagens de Simbad, o Marinheiro, que integra o livro das Mil e Uma Noites.


15/09/2009

O falcão e o pato


Sempre que partia à caça de patos, o nobre falcão ficava furioso. Os patos quase sempre conseguiam fazê-lo de tolo, mergulhando sob a água na última hora e permanecendo submersos por mais tempo do que ele podia pairar no ar à espera.
Certa manhã, o falcão resolveu tentar novamente. Depois de rodar em círculos durante algum tempo, para analisar a situação e escolher atentamente o pato que pretendia apanhar, a nobre ave de rapina atacou-o com a velocidade de um raio. Mas o pato foi mais rápido e mergulhou a cabeça.
- Desta vez eu vou atrás de você - gritou o falcão enfurecido. E mergulhou também.
O pato, vendo o falcão debaixo d'água, tomou um impulso com o rabo, subiu a superfície, abriu as asas e começou a voar. As penas do falcão estavam encharcadas e ele não conseguiu voar.
Os patos sobrevoaram-no dizendo:
- Adeus, falcão! Nós podemos voar no seu céu, mas na nossa água você afunda!







14/09/2009

Depende de Nós

Um dia, um jovem chegou a uma povoação à procura de uma casa e de emprego. Antes, porém, queria saber como eram os moradores daquela terra. Aproximou-se de um homem idoso e perguntou-lhe:
- Bom-dia! Como são os habitantes desta terra?
O homem respondeu:
- Antes de responder, gostava de saber como são as pessoas da terra, de onde vem.
- As pessoas onde eu morava eram más, pessimistas, desumanas, antipáticas. Gente pior não existe - respondeu o jovem.
- Pois bem, o meu amigo vai encontrar aqui a mesma espécie de gente- respondeu, por sua vez, o idoso.
Passados alguns dias, chegou um outro forasteiro àquela terra. Procurou também informações acerca das pessoas daquele lugar. Dirigiu-se ao mesmo velhinho e fez-lhe a mesma pergunta:
- Que tal os habitantes desta terra?
O velho sábio replicou:
- Primeiro conte-me alguma coisa da terra de onde vem.
- É gente maravilhosa, hospitaleira, simpática. Parece uma boa família.
- Pois bem, meu jovem, é esse o mesmo tipo de gente que irá encontrar aqui- respondeu com sabedoria o idoso.

12/09/2009

A Padeira de Aljubarrota


Brites de Almeida teria nascido em Faro, de pais pobres e de condição humilde, donos de uma pequena taberna. A lenda conta que desde pequena, Brites se revelou uma mulher corpulenta, ossuda e feia, de nariz adunco, boca muito rasgada e cabelos crespos. Estaria então talhada para ser uma mulher destemida, valente e, de certo modo, desordeira.

Quando os pais morreram prematuramente, vendeu os parcos haveres que possuía, resolvendo levar uma vida errante, negociando de feira em feira.
Acabaria por se fixar em Aljubarrota, onde se tornou dona de uma padaria, casando pouco depois com um lavrador da zona. Encontrar-se-ia nesta vila quando se deu a batalha entre portugueses e castelhanos. Derrotados os castelhanos, sete deles fugiram do campo da batalha para se albergarem nas redondezas. Encontraram abrigo na casa de Brites, que estava vazia porque ela teria saído para ajudar nas escaramuças que ocorriam.
Quando Brites voltou, ao encontrar a porta fechada, logo desconfiou da presença de inimigos e entrou, alvoroçada, à procura de castelhanos. Teria encontrado os sete homens dentro do seu forno, escondidos. Intimando-os a sair e a renderem-se, e vendo que eles não respondiam pois fingiam dormir ou não entender, bateu-lhes com a sua pá, matando-os. Diz-se também que, depois do sucedido, Brites teria reunido um grupo de mulheres e constituído um espécie de milícia que perseguia os inimigos, matando-os sem dó nem piedade.

08/09/2009

Os três fios de ouro do cabelo do diabo


Era uma vez, uma pobre mulher que teve um filhinho, e porque ele nasceu envolto numa membrana-da-sorte, foi-lhe profetizado que, aos quatorze anos, ele receberia a filha do rei por esposa.
Pouco tempo depois, o rei chegou à aldeia , e ninguém sabia que ele era o rei. Quando ele preguntou às pessoas o que havia de novo por ali, elas responderam:
- Um dia destes, uma mulher deu à luz uma criança empelicada. Qualquer coisa que uma criança dessas empreender, sempre dará certo e lhe trará sorte. E também foi profetizado, que, aos quatorze anos, ele receberia a filha do rei como esposa.
O rei, que tinha o coração perverso, ficou irritado com essa profecia , foi até aos pais , fingindo muita bondade, e disse:
- Pobre gente que vocês são, já têm tantos filhos que podem me entregar esse para que eu cuide dele.
No começo os pais recusaram, mas como aquele homem estranho lhes oferecia grande soma em dinheiro, eles pensaram: – Nosso filho é uma criança-de-sorte, isso deve ser para o seu bem, e concordaram de entregar o filho ao homem.
O rei colocou-o dentro de uma caixinha e saiu cavalgando com ele, até chegar a uma água bem funda. Então, jogou a caixa na água, pensando: Deste pretendente minha filha está livre!
Mas a caixinha não afundou, flutuou como um barquinho, sem deixar passar para o bebê nem uma gota de água. Assim, foi navegando até bem longe do reino, onde havia um moínho, em cuja barragem ficou presa. Um aprendiz de moleiro, que por sorte estava por ali e viu a caixa, puxou-a para fora com um gancho, pensando que encontrara algum tesouro. Quando ele olhou na caixa, viu um lindo menino dentro dela, muito bem disposto. Então, levou-o ao casal de moleiros, e como eles não tinham filhos, ficaram muito contentes e disseram:
- Deus nos mandou um presente.
Eles cuidaram bem da criança e ele cresceu e se criou com muito carácter e sempre ajudando os pais.
Aconteceu que, num dia de tempestade, o rei entrou no moinho para esperar a tempestade passar e viu o rapaz. Perguntou aos moleiros se era seu filho.
- Não, responderam eles, ele é um enjeitado. Há quatorze anos ele chegou aqui na barragem dentro de uma caixa, nosso aprendiz o tirou da água e nós o criamos como filho.
Neste momento o rei teve certeza que era a criança que jogara na água, ele disse:
- Minha boa gente, será que este rapaz poderia levar uma carta para a raínha? Eu lhe darei duas moedas de ouro como pagamento.
Os moleiros, submissos, responderam, como o senhor rei ordenar e mandaram o rapaz se preparar.
O rei escreveu uma carta à rainha, na qual dizia: Assim que este rapaz, portador desta carta, chegar, ele deverá ser morto e enterrado, isso deverá ser feito antes da minha volta.
O rapaz Pôs-se a caminho com a carta no alforge, mas perdeu-se e chegou ao anoitecer numa floresta. Ele viu uma pequena luz ao longe e dirigiu-se para lá, era uma casinha pequena. Ele entrou, porque a porta estava aberta, e, lá dentro viu uma velha sentada junto ao fogo. Ela assustou-se e perguntou:
- De onde você vem e para onde você quer ir?
- Venho do moinho, disse ele, vou procurar a senhora rainha , a quem devo entregar uma carta. Porém, como me perdi na floresta, gostaria de passar a noite aqui.
- Pobre garoto, disse a velha, você veio parar numa casa de salteadores. Quando eles voltarem vão matá-lo.
- Pode vir quem quiser, disse o rapaz, eu não tenho medo. Estou tão cansado e não posso mais andar. Ele se espichou num banco e adormeceu.
Logo depois dele ter dormido chegaram os salteadores e perguntaram , furiosos, quem era o estranho deitado ali e dormindo?
- Ora, disse a velha, é apenas um inocente que se perdeu ma floresta e eu deixei que ficasse aqui para descansar, porque ele vai levar uma carta para a rainha.
Os salteadores foram no alforge do rapaz e pegaram a carta e leram o que estava escrito. Então, eles sentiram dó do rapaz e escreveram outra carta, dizendo que assim que o rapaz chegasse , devia casar com a princesa , filha do rei.
Pela manhã o rapaz agradeceu e seguiu viagem sem saber que as cartas foram trocadas do seu alforge.
Quando chegou ao palácio deu a carta à rainha que a leu e fez o que rei ordenava. Mandou preparar uma grandiosa festa de casamento e a princesa casou-se com o rapaz filho-da-sorte.Ela gostou porque o rapaz era belo e educado.
Passado algum tempo, o rei voltou e viu que sua filha estava casado com o rapaz que ele mandara matar.
Chamou a rainha e perguntou: – Como foi que isso aconteceu? Eu dei outra ordem na carta que mandei.
Porém, a rainha lhe mostrou a carta que recebera e disse que ele podia ler o que estava escrito. O rei leu e logo percebeu que a carta havia sido trocada. Chamou o rapaz e perguntou o que acontecera com a outra carta que ele lhe entregara.
Eu não sei de nada disse o rapaz. Só se foi trocada na noite que dormi na floresta.
Raivoso o rei falou:
- Isto não vai ficar assim. Quem quiser a minha filha , terá de trazer-me do inferno, três fios de ouro da cabeça do diabo.Se você conseguir ficará com a princesa.
O rei esperava livrar-se de vez do rapaz, mas o filho-da-sorte respondeu: – Vou buscar os cabelos de ouro. Não tenho medo do diabo.
Dizendo isso, o rapaz despediu-se da princesa e começou sua busca.
O caminho levou-o a grande cidade , onde o guarda do portão lhe perguntou qual era o seu ofício e o que ele sabia .
- Eu sei tudo, – respondeu o filho-da-sorte.
- Então, você pode fazer-nos um favor, – disse o guarda, explicando-nos por que o poço da nossa praça do mercado, que sempre fez brotar vinho , agora está seco e não nos dá nem água.
- Isso vocês vão saber quando eu voltar. Esperem por mim.
O rapaz continuou seu caminho e chegou a outra grande cidade. Lá os guardas do portão também lhe perguntaram qual era o seu ofício e o que ele sabia.
- Eu sei tudo, – respondeu o filho-da-sorte.
- Então, você poderá fazer-nos um favor, explicando-nos por que razão uma árvore que temos nesta cidade, que sempre deu maçãs de ouro, agora não nascem nem mesmo folhas.
- Isso vocês ficarão sabendo quando eu voltar. Esperem por mim. E continuou seu caminho, até que chegou a um grande rio que precisava atravessar. O barqueiro perguntou-lhe por que ele sempre tinha que ir e vir e nunca podia se libertar do barco.
- Isso você ficará sabendo quando eu voltar. Espere por mim.
- Atravessou o rio com o barqueiro e encontrou a entrada do inferno. Lá dentro estava tudo escuro e o diabo não se encontrava em casa, mas para sua surpresa a sua avó estava sentada numa grande poltrona e lhe perguntou quando o viu.
- O que você quer? perguntou ela mansamente e com bondade.
- Eu gostaria de ter três fios de ouro da cabeça do diabo, senão perderei minha esposa.
- Isso é querer muito, – disse ela. Quando o diabo voltar e o encontrar aqui, você vai se dar mal. Mas tenho dó de você e vou tentar ajudá-lo.
Então, ela o transformou em formiga e disse:
- Esconda-se na barra da minha saia, você ficará seguro.
- Sim, disse ele, isto já é bom, mas eu gostaria de saber três coisas também: por que o poço que dava vinho não dá mais; por que a árvore que dava maçãs de ouro também está seca e por que o barqueiro tem sempre de estar indo e vindo, sem nunca poder se libertar?
Essas são perguntas difíceis, mas fique bem quieto e preste atenção no que o diabo disser quando eu lhe arrancar os três cabelos de ouro.
Quando anoiteceu, o diabo chegou em casa e percebeu cheiro de carne humana. Espiou por todos os lados , mas nada encontrou. A avó brigou com ele por ter desarrumado toda a casa e mandou que sentasse para jantar.
Depois de comer muito e beber o diabo pediu que a avó catasse seus piolhos. Não demorou muito e ele adormeceu. A velha aproveitou e puxou um fio do cabelo e guardou no bolso do avental.
- Ai! Gritou o diabo, – o que está fazendo?
- Tive um mal sonho e me agarrei nos seus cabelos.
- O que foi que sonhou?
- Sonhei que um poço de uma cidade que dava vinho secou. Por que será?
- Ah, se eles soubessem que é um sapo que está escondido no fundo eles o matariam e voltavam a ter vinho.
A avó continuou catando os piolhos até que ele dormiu novamente e ela arrancou outro fio de cabelo e colocou no bolso do avental.
- Ui! O que está fazendo agora? Gritou ele zangado.
- Meu neto, tive outro sonho estranho.
- E o que você sonhou?
- Sonhei que num certo reino, havia uma árvore que dava maçãs de ouro e agora não dá nem folhas.
- Se eles soubessem! disse o diabo. É um rato que está roendo a raiz da árvore e se o matarem tudo voltará a ser como antes. Mas vovó se me acordar de novo dou-lhe um bofetão!
- A avó acalmou-o, catou-lhe mais piolhos e ele voltou a dormir. Aí ela arrancou o terceiro fio de cabelo e colocou no bolso. O diabo deu um pulo do seu colo berrou que ia fazer e acontecer, mas ela pediu desculpas pois tinha tido outro sonho esquisito.
- Qual foi o sonho desta vez?
- Bem, sonhei com um barqueiro que reclamava de viver indo e vindo sem poder se libertar.
- Ora, o bobalhão tem que aproveitar quando vier alguém andar no seu barco ele aproveita e dá o remo na mão da pessoa e ele ficará livre pulando na margem.
Como a avó já conseguira arrancar os três fios de cabelo e sabido as respostas às três perguntas, ela deixou-o dormir sossegado.
Pela manhã quando o diabo saiu para fazer suas maldades, a velha tirou a formiga da barra da saia e fez o rapaz voltar a sua forma humana.
- Aqui tem três fios do cabelo de ouro do diabo e as respostas você deve ter ouvido.
- Sim, respondeu o rapaz, escutei tudo e não me esquecerei.
Ele agradeceu muito a velha avó pela ajuda, e saiu do inferno, bastante contente por ter tanta sorte. Quando chegou à margem o barqueiro logo perguntou se ele tinha alguma resposta.
- leve-me primeiro para a outra margem e vou lhe dizer como você poderá se libertar.
Quando desceu do barco disse ao barqueiro como se livrar. Era só colocar o remo na mão de quem estivesse no barco.
Ele continuou seu caminho de volta e chegou na cidade da árvore e disse : Matem um rato que rói a raiz da árvore e tudo voltará a ser como antes. O guarda lhe agradeceu e deram-lhe de recompensa dois burros carregados de ouro.
Ele andou mais e chegou na cidade do poço. Disse ao guarda que matassem o sapo que havia no fundo e teriam vinho novamente.O guarda agradecido lhe deu mais dois burros carregados de ouro.
Finalmente o filho-da-sorte chegou ao palácio e pode encontrar sua mulher que o esperava e ficou muito feliz dele ter conseguido trazer os três fios de ouro do cabelo do diabo.
Ele entregou os três fios ao rei e quando o rei viu os quatro burros cheios de ouro, ficou muito contente e disse que ele podia ficar casado com sua filha. Porém, disse o rei, quero que você me diga de onde vem todo este ouro?
- Bem, disse o rapaz, atravessei o rio e peguei o ouro ali, na margem.
- Será que eu também posso ir buscar um pouco deste ouro? Perguntou o rei ambicioso.
- Quando o senhor quiser, respondeu o rapaz. Há um barqueiro que vai levá-lo para a outra margem, onde poderá encher muitos sacos de ouro.
O rei ganancioso resolveu partir sozinho e com pressa. Chegou e viu o barqueiro pedindo para atravessá-lo. O barqueiro quando chegou na outra margem pegou o remo e colocou na mão do rei e pulou rápido para a margem. E o rei, desde então, virou barqueiro indo e vindo de lá pra cá e de cá pra lá.

07/09/2009

Acrescentar pernas à serpente



O dragão aparece muito nas lendas chinesas. Os imperadores consideravam-se e eram considerados pelos seus súbditos “dragões enviados à Terra pelo Deus do Céu”, ou “filhos do dragão”.

No reino Chu, que existiu na antiguidade chinesa, houve certo dia, uns criados a quem o patrão deu, como presente, uma garrafa de aguardente que havia sobrado dos rituais em memória dos antepassados. Houve, então, quem dissesse:
- Uma garrafa de aguardente para tanta gente? Não dá para matar a sede de ninguém! É melhor que fique só para um de nós.
Todos concordaram com a ideia. Mas quem abriria mão da sua oportunidade de ficar com a garrafa? O que fazer?
Um dos criados propôs então:
- Cada um de nós vai desenhar uma serpente no chão, e quem acabar primeiro ficará com a garrafa.
- Boa ideia! Disseram os outros.
Pegando nos “pauzinhos” que habitualmente usavam para comer, todos começaram apressadamente a desenhar as suas serpentes.
Passados alguns minutos, um deles acabou o desenho, e logo agarrou a garrafa. Porém, antes de a levar à boca, pôs-se a olhar para os amigos, que ainda não tinham conseguido fazer a cabeça da serpente, ou estavam ainda a começar o seu desenho. Pensou então:
- Ainda tenho tempo de pôr algumas pernas à minha serpente.
Enquanto retocava a sua obra, um dos outros acabou o desenho, e arrebatou-lhe a garrafa das mãos, dizendo:
- As serpentes não têm pernas! Com pernas, não seria uma serpente.
Dito isto, bebeu a aguardente de um só trago, deixando boquiaberto aquele que decidira acrescentar as pernas à sua serpente.



05/09/2009

O Rato e o Caçador


Antigamente havia um caçador que usava armadilhas, abrindo covas no chão. Ele tinha uma mulher que era cega e fizera com ela três filhos.
Um dia, quando visitava as suas armadilhas, encontrou-se com um leão:
- Bom dia, senhor! Que fazes por aqui no meu território? (perguntou o leão)
- Ando a ver se as minhas armadilhas apanharam alguma coisa, respondeu o homem.
- Tu tens de pagar um tributo, pois esta região pertence-me. O primeiro animal que apanhares é teu e o segundo meu e assim sucessivamente.
O homem concordou e convidou o leão a visitar as armadilhas, uma das quais tinha uma presa __ uma gazela. Conforme o combinado, o animal ficou para o dono das armadilhas.
Passado algum tempo, o caçador foi visitar os seus familiares e não voltou no mesmo dia. A mulher, necessitando de carne, resolveu ir ver se alguma das armadilhas tinha presa. Ao tentar encontrar as armadilhas, caiu numa delas com a criança que trazia ao colo.
O leão que estava à espreita entre os arbustos, viu que a presa era uma pessoa e ficou à espera que o caçador viesse para este lhe entregar o animal, conforme o contrato.
No dia seguinte, o homem chegou a sua casa e não encontrou nem a mulher nem o filho mais novo. Resolveu, então, seguir as pegadas que a sua mulher tinha deixado, que o guiaram até à zona das armadilhas. Quando aí chegou, viu que a presa do dia era a sua mulher e o filho. O leão, lá de longe, exclamou ao ver o homem a aproximar-se:
- Bom dia amigo! Hoje é a minha vez! A armadilha apanhou dois animais ao mesmo tempo. Já tenho os dentes afiados para os comer!
- Amigo leão, conversemos sentados. A presa é a minha mulher e o meu filho.
- Não quero saber de nada. Hoje a caçada é minha, como rei da selva e conforme o combinado, protestou o leão.
De súbito, apareceu o rato.
- Bom dia titios! O que se passa?, disse o pequeno animal.
__ Este homem está a recusar-se a pagar o seu tributo em carne, segundo o combinado.
__ Titio, se concordaram assim, porque não cumpres? Pode ser a tua mulher ou o teu filho, mas deves entregá-los. Deixa isso e vai-te embora, disse o rato ao homem.
Muito contrariado, o caçador retirou-se do local da conversa, ficando o rato, a mulher, o filho e o leão.
- Ouve, tio leão, nós já convencemos o homem a dar-te as presas. Agora deves-me explicar como é que a mulher foi apanhada. Temos que experimentar como é que esta mulher caiu na armadilha (e levou o leão para perto de outra armadilha).
Ao fazer a experiência, o leão caiu na armadilha.
Então, o rato salvou a mulher e o filho, mandando-os para casa.
A mulher, vendo-se salva de perigo, convidou o rato a ir viver para a sua casa, comendo tudo o que ela e a sua família comiam.

Foi a partir daqui que o rato passou a viver em casa do homem, roendo tudo quanto existe...


Conto moçambicano


O peixinho e o pescador


O peixinho há de ser peixe,
Se vida o céu lhe outorgar;
Mas quem o solta esperando
Que às mãos lhe torne a voltar,
É louco; que é muito incerto
Podê-lo outra vez pescar.

Pescando certo sujeito
Nas águas de uma ribeira,
E pilhando um barbozito,
Disse-lhe desta maneira:
"Tudo faz número e conta,
Tudo serve à frigideira.

Vai para o cesto, manjuba,
Que és princípio de um festim."
Mas o peixinho, a seu modo,
Ao pescador fala assim:
"Dizei, senhor, eu vos peço,
Que podeis fazer de mim?

Mal chegará meu corpinho
A formar meio bocado,
Esperai que eu fique barbo,
Serei por vós repescado,
E por um rico banqueiro
Bem caro talvez comprado.

É necessário apanhardes
Um cento de iguais peixinhos
Para com eles encherdes
Um prato dos mais mesquinhos,
Que há de ser entre os convivas
Repartido aos bocadinhos."

"Sim, amigo? Isso é verdade?
(Redarguiu-lhe o pescador),
Pois ireis à frigideira,
Meu peixinho pregador,
Hei de comer-vos à ceia,
Preparado a meu sabor."

Um "Toma" vale no mundo
Mais do "Dois te darei".
O "Toma" é sempre seguro.
Quanto ao segundo... não sei.

Barão de Paranapiacaba (Trad.)

03/09/2009

A borboleta e o cavalinho



(Qualquer semelhança com seres humanos que você conheça, pode não ser coincidência).

Esta é a história de duas criaturas de Deus que viviam numa floresta distante há muitos anos atrás.
Eram elas, um cavalinho e uma borboleta.
Na verdade, não tinham praticamente nada em comum, mas em certo momento de suas vidas se aproximaram e criaram um elo.
A borboleta era livre, voava por todos os cantos da floresta enfeitando a paisagem.
Já o cavalinho, tinha grandes limitações, não era bicho solto que pudesse viver entregue à natureza. Nele, certa vez, foi colocado um cabresto por alguém que visitou a floresta e a partir daí sua liberdade foi cerceada.
A borboleta, no entanto, embora tivesse a amizade de muitos outros animais e a liberdade de voar por toda a floresta, gostava de fazer companhia ao cavalinho, agradava-lhe ficar ao seu lado e não era por pena, era por companheirismo, afeição, dedicação e carinho.
Assim, todos os dias, ia visitá-lo e lá chegando levava sempre um coice, depois então um sorriso.
Entre um e outro ela optava por esquecer o coice e guardar dentro do seu coração o sorriso.
Sempre o cavalinho insistia com a borboleta que lhe ajudasse a carregar o seu cabresto por causa do seu enorme peso.
Ela, muito carinhosamente, tentava de todas as formas ajudá-lo, mas isso nem sempre era possível por ser ela uma criaturinha tão frágil.
Os anos se passaram e numa manhã de verão a borboleta não apareceu para visitar o seu companheiro. Ele nem percebeu, preocupado que ainda estava em se livrar do cabresto.
E vieram outras manhãs e mais outras e milhares de outras, até que chegou o inverno e o cavalinho sentiu-se só e finalmente percebeu a ausência da borboleta.
Resolveu então sair do seu canto e procurar por ela.
Caminhou por toda a floresta a observar cada cantinho onde ela poderia ter se escondido e não a encontrou.
Cansado se deitou em baixo de uma árvore. Logo em seguida um elefante se aproximou e lhe perguntou quem era ele e o que fazia por ali.
- Eu sou o cavalinho do cabresto e estou a procura de uma borboleta que sumiu.
- Ah, é você então o famoso cavalinho?
- Famoso, eu?
- É que eu tive uma grande amiga que me disse que também era sua amiga e falava muito bem de você. Mas afinal, qual borboleta que você está procurando?
- É uma borboleta colorida, alegre, que sobrevoa a floresta todos os dias visitando todos os animais amigos.
- Nossa, mas era justamente dela que eu estava falando. Não ficou sabendo? Ela morreu e já faz muito tempo.
- Morreu? Como foi isso?
- Dizem que ela conhecia, aqui na floresta, um cavalinho, assim como você e todos os dias quando ela ia visitá-lo, ele dava-lhe um coice. Ela sempre voltava com marcas horríveis e todos perguntavam a ela quem havia feito aquilo, mas ela jamais contou a ninguém. Insistíamos muito para saber quem era o autor daquela malvadeza e ela respondia que só ia falar das visitas boas que tinha feito naquela manhã e era aí que ela falava com a maior alegria de você.
Nesse momento o cavalinho já estava derramando muitas lágrimas de tristeza e de arrependimento.
- Não chore, meu amigo, sei o quanto você deve estar sofrendo. Ela sempre me disse que você era um grande amigo, mas entenda, foram tantos os coices que ela recebeu desse outro cavalinho, que ela acabou perdendo as asinhas, depois ficou muito doente, triste e sucumbiu e morreu.
- E ela não mandou me chamar nos seus últimos dias?
- Não, todos os animais da floresta quiseram lhe avisar, mas ela disse o seguinte:
"Não perturbem meu amigo com coisas pequenas, ele tem um grande problema que eu nunca pude ajudá-lo a resolver. Carrega no seu dorso um cabresto, então será cansativo demais pra ele vir até aqui."


Moral da Estória: Você pode até aceitar os coices que lhe derem quando eles vierem acompanhados de beijos, mas em algum momento da sua vida, as feridas que eles vão lhe causar, não serão mais possíveis de serem cicatrizadas. Quanto ao cabresto que você tiver que carregar durante a sua existência, não culpe ninguém por isso, afinal muitas vezes, foi você mesmo que o colocou no seu dorso.




01/09/2009

Hou Ji, Deus da Agricultura



中国国际广播电台


A milenar civilização chinesa surgiu e se expandiu em função da agricultura. Por isso, a China cumula muitas lendas e mitos vinculados às actividades agrícolas.
Reza uma delas que após a sua criação, a humanidade vivia de caça, pesca ou colecta de frutas silvestres. Apesar dos árduos e exaustivos trabalhos diários, os homens continuavam enfrentando a fome.
Uma moça chamada Jiang Yuan vivia em Tai. Um dia, descobriu, no regresso à sua casa, uma enorme pegada num terreno encharcado de água. Achou-a estranha e divertida e meteu um de seus pés na gigante pegada. Inesperadamente, logo que tocou com o pé na marca do dedão do gigante, foi acometida por um estranho sentimento. Depois de voltar para casa, ficou grávida e, pouco depois, deu à luz um menino. Um menino sem pai era considerado um sinal de mau agouro. Por isso, o retiraram à força da mãe e o abandonaram no campo. Mas, os animais que passavam o protegiam e alimentavam; abandonaram-no na floresta, mas um cortador de árvores o salvou; as pessoas enraivecidas o abandonaram no rio congelado, mas, nem bem haviam deixado o local, um bando de pássaros posou para proteger o menino sob suas asas.
Perceberam que o menino não era uma vida vulgar e o levaram de volta à sua casa. Como foi abandonado várias vezes, a mãe deu-lhe o nome Qi, “abandono” em chinês.
Quando criança, Qi nutria grandes aspirações. Via pessoas caçando, recolhendo frutas silvestres, levando uma vida errante e pensava: “seria melhor termos um meio fixo para nos sustentar”. Observava, recolhia sementes de plantas silvestres tais como trigo, arroz, feijão, sorgo e legumes, cultivava-os e obtinha boa colheita. Para melhor produtividade do cultivo, inventou simples instrumentos que empregavam pedras.
Quando chegou a maioridade, Qi tinha acumulado muitas experiências agrícolas e transmitiu-as sem reservas à população. Desta forma, contribuiu para que a humanidade se livrasse da dependência da caça, pesca e colecta de frutas silvestres. Por esta razão, a população o chamou, com todo o respeito, de Hou Ji, “Deus da Agricultura”.

Rosalinda

Era por manhã de maio,
Quando nas aves a piar,
As árvores e as flores,
Tudo se anda a namorar;

Era por manhã de Maio,
À fresca riba do mar,
Quando a infata Rosalinda
Ali se estava a toucar

Trazem das flores vermelhas,
Das brancas para a enfeitar;
Tão lindas flores como ela
Não nas puderam achar.

Que é Rosalinda mais linda
Que a rosa, que o nenúfar,
Mais pura que a açucena
Que a manhã abre a chorar.

Passava o Conde almirante
Na sua galé do mar;
Tantos remos tem por banda
Que se não podem contar.

Cativos que vão remando
A Moirama os foi tomar;
Deles são grandes senhores,
Deles de sangue real.

Que não há moiro seguro
Entre Ceuta e Gilbreltar,
Mal sai o conde almirante
Na sua galé do mar.

Oh que tão linda galera,
Que tão certo é seu remar!
Mais lindo capitão leva
Mais certo no marear.

- «Dizei-me, ó conde almirante,
Da vossa galé do mar,
Se os cativos que tomais
Todos los fazeis remar?»

- «Dizei-me, bela infanta
Linda rosa sem igual,
Se os escravos que lá tendes
Todos vos sabem toucar?»

- «Cortês sois, Dom Almirante;
Sem responder, perguntar!»
- Responder, responderei,
Mas não vos hei-de enfadar.

«Cativos tenho de todos,
Mais basto que um anduar;
Uns que mareiam as velas as velas,
Outros são banco a remar.

As cativas que são lindas
Na popa vão a dançar,
Tecendo alfombras de flores
Para o senhor se deitar.

- «Respondeis, respondo eu,
Que é boa lei de pagar:
Tenho escravos pra tudo.
Que fazem o meu mandar;

Deles para me vestir,
Deles para me toucar...
Para um só tenho outro emprego,
Mas está por cativar...»

- «Cativo está, tão cativo
Que se não quer resgatar.
Rema, a terra a terra, moiros,
Voga certo, e a varar!»

Já se foi a Rosalinda
Com o almirante a folgar:
Fazem sombra as laranjeiras,
Goivos lhe dão cabeçal.

Mas fortuna, que não deixa
A nenhum bem sem desar,
Faz que um monteiro de el-rei
Por ali venha a passar.

- «Oh monteiro, do que visto,
Monteiro, não vás contar:
Dote tantas bolsas de oiro
Quantas tu possas levar.»

Tudo o que viu o monteiro
A el-rei o foi contar,
A casa da estudaria
Onde el-rei estava a estudar.

- «Se à puridade o disseras,
Tença te havia de dar:
Quem tais novas dá tão alto,
Alto há de ir... a enforcar,

«Arma, arma meus archeiros
Sem charamelas tocar!
Cavaleiros e peões,
Tudo à tapada a cercar.»

Inda não é meio-dia,
Começa a campa a dobrar;
Inda não é meia-noite,
Vão ambos a degolar.

Ao tope de ave-marias
Foram ambos a enterrar:
A infata no altar-mor,
Ele à porta principal.

Na cova Rosalinda
Nasce uma árvore real,
E na cova do almirante
Nasceu um lindo rosal..

El-rei, assim que tal soube,
Mandou-os logo cortar,
E que os fizesse em lenha.
Para no lume queimar.

Cortados e recortados
Tornavam a rebentar:
E o vento que os encostava,
E eles iam-se abraçar.

El-rei, quando tal ouviu,
Nunca mais pode falar;
A rainha, que tal soube,
Caía logo mortal.

- «Não me chamem mais rainha,
Rainha de Portugal...
Apertei dois inocentes
Que Deus queria juntar!»

Romanceiro, Almeida Garrett





A Chaleira

Era uma vez uma chaleira muito vaidosa, que se orgulhava da sua porcelana, de seu bico enorme e de sua asa. Tinha o bico para a frente e a asa para trás, e gostava que todos tivessem isso em conta. Mas nunca falava da sua tampa, já rachada e enegrecida., porque ninguém gosta de falar de seus defeitos. Já bastava que os outros falassem deles!... Sem dúvida que a xícara, a manteigueira e o açucareiro, e todo o serviço de chá, falavam muito mais da rachadura da tampa que da artística asa e do formoso bico. Bem o sabia a chaleira.
- Já sei o que pensam! - dizia para si mesma. Mas conheço os meus defeitos e admito-os. Nisso consiste a minha modéstia. Defeitos... toda a gente tem, mas, qualidades, também alguém terá que as ter!... As xícaras têm asa, o açucareiro tem tampa. Eu, ao menos, tenho as duas coisas e, além disso, o bico, que é algo com que eles jamais poderão sonhar. Sou a rainha do serviço de chá. É verdade que a manteigueira e o açucareiro contribuem para o sabor. Mas eu presido à mesa e reparto bênçãos à humanidade sedenta. Dentro de mim, as folhas chinesas misturam-se na água fervente e insípida.
Assim pensava a chaleira nos despreocupados dias da sua juventude, quando era manejada por uma mão cuidadosa. Mas a mão primorosa entorpeceu e, um belo dia, a chaleira caiu. Quebrou-se o bico e também a asa. Da tampa, nem valia a pena falar: já havia provocado suficientes desgostos! A Chaleira jazia no chão sem sentidos, enquanto a água a ferver se escapava. Foi um golpe terrível, mas o pior é que todos se riram dela e não da mão trôpega que a havia jogado no chão sem complacências.
- Nunca o esquecerei! - dizia a chaleira quando narrava a sua vida. Chamaram-me inútil, jogaram-me num canto e, no dia seguinte, fui dada a uma mulher que pedia esmola. Desci ao mundo dos pobres, tão inútil por dentro como por fora, e, sem dúvida, ali começou para mim uma nova vida. Uma pessoa começa por ser uma coisa e depois converte-se noutra inteiramente diferente. Encheram-me de terra, o que, para uma chaleira, é a mesma coisa que enterrá-la. Mas na terra colocaram uma semente. Nem sei bem quem a plantou. Só sei que ma deram. Foi, talvez, uma compensação pelas folhas chinesas e pela água a ferver; pela asa e pelo bico quebrados. E a semente germinou e converteu-se numa formosa flor. Até me esqueci de mim própria perante tão brande beleza. Ditoso o que se esquece de si para pensar nos outros! A flor não me agradeceu nem se preocupou comigo. Para ela iam a admiração e os elogios de todos. Se eu própria me sentia tão contente com ela, como não poderiam admirá-la os outros?... Um dia alguém se lembrou que a flor merecia um vaso melhor. Quebraram-me ao meio (ai como doeu!) e transplantaram a flor para outro vaso, enquanto eu fui jogada no quintal onde não sou mais que uns velhos cacos de porcelana. Mas conservo esta recordação e ninguém poderá arrancá-la de mim.