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15/12/2009

Monge taoísta da montanha Laoshan

O Liao Zhai Zhi Yi é a mais famosa colectânea chinesa de contos sobre demónios e imortais. O monge taoísta da montanha Laoshan é um desses contos.
Há uma montanha que se chama Laoshan à beira mar, onde vive um imortal, a que todos chamam de monge taoísta da montanha Laoshan. Dizem que ele conhece muitas bruxarias. Na cidade que situada a várias centenas de quilómetros da montanha Laoshan, há uma pessoa chamada Wang Qi. Desde criança, Wang adorava mágicas e, ao ouvir a notícia sobre o poder mágico do taoista, despediu-se de seus familiares e foi à montanha procurar o imortal. Encontrou-o e conversou com ele. Wang considerou que o monge tem muitas habilidades e pediu que fosse admitido como seu discípulo. Observado Wang, o monge disse: “você é mimado desde criança e não vai aguentar a vida difícil na montanha”. Mas, com a insistência de Wang Qi, o monge aceitou-o como discípulo.
À noite, Wang Qi, apreciando a Lua e pensando em obter imediatamente o poder mágico, sentiu-se muito feliz. No dia seguinte, logo na madrugada, foi ver o mestre imaginando que este o ensinasse bruxaria. Inesperadamente, o mestre deu-lhe uma machadada e mandou-o a cortar lenha junto aos seus colegas. Wang Qi ficou decepcionado, mas obedeceu à ordem. Nas montanhas, crescem muitos arbustos espinhosos e encontram-se por toda parte pedras. O Sol ainda está muito alto, Wang Qi já tem vários bolhas de sangue nas mãos e nos pés.
Um mês passou. As bolhas de sangue nas mãos e nos pés de Wang Qi calejaram. E Wang Qi não aguentava mais os trabalhos cansativos na montanha e pensou em voltar para casa. À noite, quando voltou com seus colegas ao templo, viu o mestre e alguns visitantes bebendo e conversando alegremente. No quarto, não havia luz. O mestre pegou uma folha de papel e cortou com tesoura um pedaço redondo de papel e o colocou na parede. O papel brilha como a Lua e iluminou todo o quarto. Um visitante disse: “Que noite linda e que delicioso o banquete. Divertimo-nos”. O monge taoísta pegou um pequeno bule de vinho e passou-o aos hóspedes. Wang Qi duvidou: como um pequeno bule de vinho atende a tantas pessoas? Mas, todos beberam e o bule estava sempre cheio. Wang Qi ficou admirado. Um outro hóspede disse nesse momento: “Apesar de contarmos com a Lua brilhante, o vinho não parece gostoso sem acompanhamento de danças”. O monge taoísta deu um sorriso e apontou uma folha de papel em branco com um pauzinho: apareceu no luar uma dançarina de apenas um chi de estatura (dez chi equivale a um metro), que ao descer no chão, tornou-se uma moça de estatura normal. Com o corpo delgado, pele branca e as cintas da roupa voando no ar, começou a cantar. Logo depois da cantoria, saltou para mesa.
No embaraço de todos os presentes, ela tornou-se novamente um pauzinho. Vendo isto, Wang Qi ficou boquiaberto. Neste momento, um hóspede disse: “Estou muito satisfeito, mas tenho que ir embora”. Dizendo, moveu-se para a Lua. A Lua obscureceu pouco a pouco. Os colegas de Wang Qi ascenderam as velas e viram o mestre sentando-se sozinho à mesa.
Mais um mês passou. O monge taoísta não ensinou nada a Wang Qi. Este perdeu paciência e foi ao mestre, dizendo: “Vim de muito longe. Se não quer me ensinar o método de imortalidade, transmita-me algumas pequenas magias para meu consolo”.
Vindo o mestre sorrindo sem pronunciar nenhuma respota, Wang Qi, ansioso, disse gesticulando: “Todos os dias saio de manhazinha e volto ao anoitecer para recolher ervas e lenhas. Os trabalhos são tão cansativos como nunca fiz em casa”. O mestre disse: “soubera que você não aquentaria o cansaço do trabalho. O ocorrido confirma a minha conclusão. Volte para casa amanhã”. Wang Qi insistiu em rogar: “Mas ensine-me algumas magias para que não venha em vão”. O mestre perguntou: “que magia que você quer aprender?” Wang Qi respondeu: “Vi o senhor caminhando e nem a parede o impediu. Quero aprender isso”. Então, os dois chegaram a uma parede. O mestre ensinou a Wang Qi um conjuro para atravessá-la, indicou a parede e mandou Wang Qi entrar. Mas este sentiu as pernas estremecendo e não se atreveu a dar nenhum um passo. O mestre continuou: “Tente”. Wang Qi deu alguns passos e pasou. Indignado, o mestre disse-lhe: “baixe a cabeça e ande para frente”. Sem outra saída, Wang Qi viu-se obrigado a lançar-se contra a parece, mas conseguiu atravessar a parede. Louco de alegria, Wang Qi se ajoelhou e agradeceu ao mestre. Nesse momento, o mestre disse a seu discípulo: “seja um homem diligente e laborioso quando regressar para casa. Caso contrário, a magia não dará efeito”.
Wang Qi voltou para casa e se gabou à sua senhora: “Encontrei um imortal que me ensinou algumas mágicas. Posso atravessar as paredes”. A mulher não acreditou nas suas palavras. Então, Wang Qi recitou o conjuro e correu para a parede. “Bong!” Wang Qi caiu no chão e sentiu um grande galo em sua testa. Wang Qi ficou desanimado com a cabeça deitada no peito, como um balão que acaba de desinflar. A mulher de Wang Qi, furiosa, disse ao marido: “Se existir alguma mágica, não aprenderia em apenas três meses”. Wang Qi recordou ter atravessado a parede naquela noite sob a orientação do mestre taoísta e duvidou que este o enganasse e desatou a maldizê-lo e da montanha Laoshan. Desde então, Wang Qi permaneceu como um homem sem habilidade.