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06/12/2010

Lenda da Queimada Galega


A Galícia é uma região ao norte da Espanha na qual predomina uma forte influência da cultura Celta. Para compreender a Lenda da Queimada Galega, vamos falar um pouco a respeito dos celtas.
O povo celta era pagão, ou seja, baseava-se nas forças da Terra para conduzir a vida e seus meios de sobrevivência. Acreditavam na proteção de diversos deuses, todos atuantes sob os auspícios da Grande Mãe.
Um dos principais deuses celtas é Dagda, o deus da abundância. E é ele o condutor do ritual da Queimada, pois, é ele quem carrega os quatro atributos notáveis: o “caldeirão da abundância”, que protege a colheita e, por conseqüência, o alimento, e também garante a boa passagem dos mortos à vida espiritual; a “moca”, uma poderosa arma que é constituída por dois lados, um que mata e outro que ressuscita; a “harpa”, que contém a melodia de todos os sons; e a “roda”, o círculo cósmico da espiral do apocalipse.
Os celtas, acreditando no poder deste Deus, por meio de seus sacerdotes, os Druidas, criaram uma festa como forma de pacto com Dagda, que protegeria o povo dos males que poderia acometê-los caso o Deus fosse desagradado. Na verdade, uma superstição característica desse povo.
Foi criada, então, a cada fim de ano, a festa de Samain, na qual todas as pessoas saíam de sua casa e apagavam todas as fontes de luz a fim de permitir aos Anaon (os mortos) visitar os familiares. Para tanto, misturavam em um grande caldeirão as bebidas mais fortes e os frutos mais doces. Ferviam-nos até que atingisse a consistência de um licor - chamado de “queimada” - o qual bebiam até não mais aguentarem. Este ritual era celebrado com música e dança. Ao amanhecer, acordavam e levavam consigo uma brasa incandescente provinda do resto da fogueira da festa e que era usada para reacender os braseiros e velas que iluminavam as casas. O conjuro consistia em glorificar Dagda e pedir que eliminasse os efeitos nocivos dos Anaon.
A festa de Samain posteriormente deu origem à data folclórica do Hallowenn (dia das bruxas). Por isso o costume de visitar as casas solicitando “doces ou travessuras”.

Na Galícia, a data é comemorada todos os anos simbolizando a manutenção da abundância nos meses de inverno com a “brasa” trazida dos meses de verão.
No ritual, os galegos sucedem a mesma mistura de bebidas e frutos doces, em um grande caldeirão e proferem o “conjuro da queimada”:
"Mouchos, coruxas, sapos e bruxas. Demos, trasnos e dianhos, espritos das nevoadas veigas. Corvos, pintigas e meigas, feitizos das mencinheiras. Pobres canhotas furadas, fogar dos vermes e alimanhas. Lume das Santas Companhas, mal de ollo, negros meigallos, cheiro dos mortos, tronos e raios. Oubeo do can, pregon da morte, foucinho do satiro e pe do coello. Pecadora lingua da mala muller casada cun home vello. Averno de Satan e Belcebu, lume dos cadavres ardentes, corpos mutilados dos indecentes, peidos dos infernales cus, muxido da mar embravescida. Barriga inutil da muller solteira, falar dos gatos que andan a xaneira, guedella porra da cabra mal parida. Con este fol levantarei as chamas deste lume que asemella ao do inferno, e fuxiran as bruxas acabalo das sas escobas, indose bañar na praia das areas gordas. ¡Oide, oide! os ruxidos que dan as que non poden deixar de queimarse no agoardente, quedando asi purificadas. E cando este brebaxe baixe polas nosas gorxas, quedaremos libres dos males da nosa ialma e de todo embruxamento. Forzas do ar, terra, mar e lume, a vos fago esta chamada: si e verdade que tendes mais poder que a humana xente, eiqui e agora, facede cos espritos dos amigos que estan fora, participen con nos desta queimada."


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