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01/03/2009

O Macaco e a Água-viva




No tempo do Japão mitológico, havia no fundo do mar um famoso palácio conhecido como Ryugyu, o Palácio do Dragão. O senhor desse maravilhoso local era Shiyozushi no Kami, o deus das Águas e do Mar. Sua bela filha se chamava Toyotama Hime, a princesa Alma Luxuriante.
Um dia a linda princesa ficou muito doente e os melhores remédios do fundo do mar não conseguiam curá-la. O Senhor do Mar ficou muito preocupado pois sua filha estava ficando cada vez mais fraca. Então ele reuniu vários peixes e os encarregou de conseguir um remédio que pudesse devolver a saúde da sua filha.
Os peixes convocaram todos os habitantes do fundo do mar para uma reunião e pediram a sugestão deles.
Todos ficaram pensativos mas ninguém soube responder, pois se um kami (deus) não sabem como salvar sua filha, muito menos eles. Como a reunião não acabava nunca, um enorme polvo de cabeça lisinha, com pressa, disse:
-Quando estive na superfície da terra pela última vez, ouvi alguns seres humanos dizendo que fígado de macaco é um excelente remédio para qualquer mal.
-Sr. Polvo, a sua enorme careca dá de entender que você é uma criatura inteligente. Vamos acreditar no que está dizendo - disse o peixe que coordenava a assembléia.
- Então precisamos encontrar um macaco com urgência, para salvar Toyotama Hime. Disse o camarão.
-Mas onde encontrar essa criatura, perguntou a estrela do mar.
-Ora nas ilhas do Mar de Seto existem muitos macacos. Basta alguém ir lá e capturar um deles. Sugeriu a lula.
-Nós peixes não podemos ir porque não temos pernas para andar no mato.
-Nós ostras e caracóis também não temos pernas.
-Idem - disse o cavalo marinho e sugeriu que fosse o caranguejo que tem seis pernas.
-Nesse caso é melhor ir o polvo que tem oito pernas. Disse o caranguejo.
-Eu só tenho oito pernas, mas a água-viva esta cheia delas. Disse o polvo tirando o corpo fora.
-Apoiado respondeu a lula.
Assim a assembléia dos habitantes do fundo do mar decidiu que seria a dona Água-viva a escolhida para a nobre missão.
A dona Água-viva ficou muito orgulhosa de ser a escolhida, mas como tinha muitas dúvidas a respeito do macaco perguntou:
-Afinal como é um macaco? Eu nunca vi esse bicho.
-Ora é fácil de reconhecê-lo. O macaco do Japão tem cara e bunda vermelha. Está sempre em galhos de árvores comendo castanha ou caqui. Explicou a tartaruga.
Como os peixes perceberam que a dona Água-viva jamais conseguiria pegar um macaco, embora tivesse tantas pernas instruíram-na no sentido de que ela enganasse o símio e o trouxesse ao palácio.
A idéia era pegar o macaco por uma das suas fraquezas: a gula. Ela teria de convidá-lo para um banquete no Palácio do Dragão, dizendo que está cheio de castanhas e caqui.
Assim a desengonçada dona Água-viva partiu para a superfície a procura de uma ilha com macacos. Chegando na praia, avistou uma árvore e se aproximou cuidadosamente. Num dos galhos viu um animal de cara e traseiro vermelho e não teve dúvidas quanto a sua identidade. Assim que ela se aproximou da árvore o macaco muito curioso foi logo perguntando:
-Hei que bicho é você ? Nunca vi nada igual, de onde apareceu?
-Sou a Água-viva, moro no Palácio do Dragão, onde existe o maior pomar frutífero do mundo. Lá está cheio de castanheiras e caquizeiros. Árvores que estão o ano inteiro carregado de frutos. O detalhe importante é que esses frutos têm sabor especial, são muitíssimos deliciosos.
O macaco demonstrou grande interesse no assunto e desceu da árvore.
-Puxa deve ser muito bonito esse lugar.
-Se você quiser conhecer será meu convidado e eu o levarei até lá.
-Assim sendo, eu topo com prazer. Vou nas suas costas porque não sei nadar...
-Suba e vamos embora, disse a água-viva toda feliz, certa de que tinha conseguido enganar o macaco.
Ela foi nadando durante algumas horas e o macaco começou a sentir cansaço e reclamar que estava demorando.
Para entreter o macaco a água -viva falava sem parar e deixou escapar uma pergunta indevida.
-É verdade que você possui um tal de fígado?
-Sim é claro todos os bichos têm fígado.
-Ah! Mas do macaco é muito importante.
-Como assim, por que importante?
-Ah, não leve em conta. Eu disse o que não devia.
O macaco muito esperto ficou desconfiado do repentino corte na conversa e disse:
-Minha amiga, gostaria muito de saber porque fígado de macaco é tão importante.
-Não sei se devo dizer. É um segredo.
-Veja aceitei seu convite de todo coração e acho que você está sendo descortês ao negar uma explicação para seu convidado.
-Está bem, se guardar segredo é falta de educação, vou dizer só para você. Na verdade a Princesa Toyotama está muito doente e o melhor remédio para curar a doença dela é fígado de macaco. Por isso vim para buscá-lo.
O macaco ficou muito assustado, mas com seu jeito cínico de ser, fingiu tranqüilidade e disse:
-Ah! Eu não sabia que meu fígado era um santo remédio para a princesa. Se soubesse eu teria trazido comigo. Se você tivesse dito antes eu não teria deixado o fígado no galho da árvore.
-Mas você não trouxe o fígado?! Ora então não vai adiantar nada ir até o palácio.
-Ora vamos voltar para pegar o meu fígado.
Dona Água-viva já não agüentava o peso do macaco em suas costas, mas deu meia volta e rumou em direção da ilha. Quando chegou o macaco subiu na árvore com pretexto de apanhar o fígado e ficou deitado no galho folgadamente.
-Ei macaco parece que você vai tirar uma soneca. Desça logo daí com o fígado.
-Olha mudei de idéia, não vou mais para o Palácio do Dragão. Vou sair pulando de galho em galho, por todas as ilhas avisando os macacos para não cair na sua conversa. Dizendo isso o macaco fez caretas para a água-viva e saltou de galho em galho até desaparecer.
No palácio todos os habitantes do mar esperavam ansiosamente pela Água-viva. Ficaram decepcionados quando ela chegou sozinha e de mãos vazias.
-O que vamos dizer agora para Deus do Mar que nos encarregou dessa importante missão?! Preocuparam-se todos.
A água viva contou detalhadamente que vinha trazendo o macaco, mas no meio do caminho falou demais e o macaco conseguiu enganá-la.
Os habitantes do mar resolveram dar uma surra na água-viva para ela aprender a não ser tão burra e tão linguaruda. Bateram tanto que quebraram todos os ossos que ela tinha.
Reza a lenda que, desde então, a água-viva ficou com o corpo mole e sem ossos como é atualmente.

Lenda do Japão