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28/11/2009

A haste da cruz



Conta-nos uma lenda de antanho que, a um homem que deveria fazer grande jornada, deram a carregar pesada cruz, dizendo-lhe que ela o levaria à salvação.

Tendo feito pequena parte do trajeto, vencido e desanimado pelo cansaço, deliberou ele cortar um pedaço da longa haste de sua carga.

Mais aliviado, pôs-se de novo a caminho, e jornadeou até o ponto em que a estrada subia por uma encosta longa e pedregosa. Ali sentiu mais o peso da cruz. Doíam-lhe os ombros, tinha as pernas trôpegas, arfava e suava. Na irreflexão da impaciência, pôs o seu fardo no chão, e outra vez o mutilou.

Partiu. Alcançou o sopé do outeiro, e se viu às margens de um rio sem ponte. Só então observou que outros viajantes ali chegados levavam também pesadas cruzes de longas hastes.

Mas estes, mais resistentes e tolerantes, conservaram suas cruzes intactas. Estenderam as cruzes de margem a margem, e fazendo-as de pontilhões, atingiram o lado oposto, e lá se foram.

O que encurtara a haste de sua cruz viu, desde logo, que ela não lhe poderia prestar o mesmo auxílio. Tentando meter-se pelo rio a dentro, desapareceu, levado pelos redemoinhos da correnteza.

É límpida a lição da fábula. Todos os que vivemos a cortar, com golpes arbitrários, em nossos deveres e obrigações para com Deus, podemos levar, por algum tempo, vida mundanamente fácil, mas sempre enganosa. O dia chegará em que seremos vítimas das mutilações feitas na haste da nossa cruz.